São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS

Firma de representação comercial em Petrópolis (RJ) está registrada em nome de laranjas e usa endereço e assinaturas falsos

Genro de Jefferson tem empresa fantasma

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O genro do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), Marcus Vinicius Vasconcelos Ferreira, tem uma empresa fantasma registrada em seu nome, no município de Petrópolis (região serrana, a 65 km do Rio): a Acqua Viti Comércio e Indústria Ltda.
Em janeiro de 2001, o mesmo Marcus Vinicius, em sociedade com o filho de Roberto Jefferson, Roberto Francisco Neto, registrou uma outra empresa, Acqua Safe Representações.
Um ano depois, ela passou para os nomes de dois ""laranjas" (pessoas usadas para acobertar identidades de terceiros). Tanto a Acqua Safe quanto a Acqua Viti têm endereços falsos.
A Acqua Viti foi registrada em dezembro de 2001 e figura no cadastro da Receita Federal como fabricante de aparelhos elétricos, e em situação ""ativa".
Mas, em seu endereço, mora um aposentado que declarou desconhecer a empresa. Também não há registros de negócios da Acqua Viti.
O endereço que aparece nos cadastros da Receita e da Junta Comercial como sede da Acqua Viti é um conjunto de salas transformado em residência há três anos.
O proprietário do imóvel se identificou apenas como Antonio, e afirmou, pelo interfone, que o proprietário que o antecedeu utilizava o imóvel para atividades de costura.
Segundo a Junta Comercial, são sócios da Acqua Viti Marcus Vinicius Vasconcelos Ferreira e Adriano da Paixão. Este último é proprietário de uma drogaria e de uma loja de produtos de limpeza em Petrópolis.
Ferreira é casado com Fabiana Brasil Francisco, uma das duas filhas do deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB.
Ex-assessor da diretoria da Eletronuclear (de onde se demitiu há uma semana), ele foi apontado como um dos contatos do PTB com o funcionário dos Correios Maurício Marinho, flagrado recebendo R$ 3.000 de supostos empresários.
Desde janeiro de 2002, a Acqua Safe está em nome de ""laranjas" e usa endereços falsos. Ela foi registrada originalmente em nome de três sócios: Marcus Vinicius Ferreira, Roberto Francisco Neto e Adriano José da Paixão, com capital de R$ 5.000. O objeto da empresa era representação comercial de aparelhos de desinfecção de água, ar e afluentes ""por conta de terceiros sob comissão".

Assinatura falsa
Os três transferiram suas cotas para Lúcia Helena da Silva Cardoso e Luzia Pereira de Souza, em janeiro de 2002. A primeira é empregada doméstica e a segunda, que morreu de câncer em novembro do mesmo ano, era faxineira.
A empresa passou, a partir de janeiro de 2002, a usar indevidamente, como sede, o endereço do também faxineiro Francisco de Paula Lima, 59. O faxineiro disse que a casa pertence a seu sogro há 20 anos.
Em setembro de 2002, a secretária Renata Pereira de Medeiros, filha de Luzia Pereira de Souza, foi incluída, sem seu conhecimento, como acionista da Acqua Safe. Localizada pela reportagem, ela disse que soube que havia sido usada como sócia há um ano, quando teve cheques recusados por conta de uma dívida da Acqua Safe no Banco do Brasil.
A secretária disse que a gerência do Banco do Brasil lhe mostrou contratos da Acqua Safe nos quais constavam assinaturas falsas dela e de sua mãe.
A doméstica Lúcia Helena da Silva Cardoso disse à Folha que havia emprestado seus documentos a um conhecido da família, tempos atrás, mas que desconhecia a existência da empresa, até ser chamada pela gerência do Banco do Brasil. Segundo ela, suas assinaturas nos contratos da empresa também são falsas.
Atualmente, a Acqua Safe usa indevidamente o endereço de uma clínica veterinária.


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