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Elio Gaspari
Os aerocratas do governo fabricam lorotas
Como disse Nelson Jobim
a respeito de Denise Abreu, "o nível de confiabilidade"
dessa gente "é abaixo de zero"
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A FARRA DA VARIG mostrou
que acreditar no governo é
coisa muito perigosa. O consórcio que comprou a VarigLog era
uma associação de "laranjas" e
contratos de gaveta. O falatório de
recuperação da empresa era uma
piedosa lorota. Quem acreditou
fez papel de bobo.
Pena, pois os cidadãos preferem
confiar no governo, até porque eles
não o sustentam para serem empulhados. Um exemplo adicional,
ocorrido já no mandarinato do ministro Nelson Jobim e da poderosa
doutora Solange Vieira na Anac:
em dezembro do ano passado, Jobim convocou a imprensa e anunciou um plano de compensação
para a patuléia que sofre com os
atrasos das empresas aéreas. Ele
mostrou uma tabela progressiva,
com multas que iriam de 5% a 50%
do valor da passagem. Tomando-se um vôo do Rio a Brasília com tarifa de R$ 650, isso significaria um
bônus de R$ 32,50 a R$ 325. Seria
criado também um ressarcimento
para as vítimas de overbookings.
Faltavam detalhes, mas prometia-se que o refresco viria depois das
festas de Natal.
Até hoje, nada. A patuléia pode
ser boba a ponto de acreditar no
que lhe prometem, mas não tão
idiota para pensar que uma iniciativa dessas empaca por pura inépcia ou vagabundagem. Como no
caso da Varig, o buraco é mais em
cima. É lá que a aerocracia procura
impor seus interesses ao governo.
O cartel luta bravamente para impedir que a choldra brasileira receba compensações semelhantes às
que são dadas aos passageiros pelas companhias européias e americanas. Como disse o ministro Jobim a respeito de Denise Abreu,
ex-diretora da Anac, "o nível de
confiabilidade" dessa gente "é
abaixo de zero".
"BLACKWATER" EXPÕE A PRIVATARIA DA GUERRA
Está chegando às livrarias
"Blackwater - A Ascensão do
Exército Mercenário Mais Poderoso do Mundo", do jornalista americano Jeremy Scahill. É
um retrato da maquinação de
empreiteiras que estão privatizando as Forças Armadas e um
pedaço da política externa dos
Estados Unidos. É uma novidade que deixa para trás o famoso
"complexo militar-industrial"
denunciado pelo presidente Eisenhower em 1961.
A Blackwater, a quem a Embraer vendeu um Super Tucano
de US$ 4,5 milhões, é a maior
empreiteira de segurança do
mundo. Esse novo negócio emprega 100 mil funcionários de
diversas companhias no Iraque. Praticamente um miliciano para cada soldado fardado.
Exércitos terceirizados já acabaram com uma revolta em
Serra Leoa e com a guerra civil
de Angola.
O banco de dados da Blackwater tem um cadastro de 21
mil soldados e policiais de elite.
Entre eles, os veteranos chilenos dos porões de Pinochet.
Uma tropa de 2.300 homens
está espalhada por nove países.
Um miliciano de primeira classe da Blackwater recebe 600
dólares por dia. É uma quantia
parecida com os US$ 180 mil
que recebe anualmente o general David Petraeus, que comanda a ocupação americana.
Os contratos da empresa já
ultrapassaram a cifra do bilhão
de dólares (metade sem licitação). Em alguns países, os funcionários da Blackwater estão
acima das leis locais. A empresa
pertence ao bilionário Erik
Prince, uma mistura de James
Bond, Rambo, pastor da direita
cristã e generoso financiador
do Partido Republicano.
Quem atravessar o volume
de "Blackwater" pode ficar com
uma pergunta capciosa na cabeça: o que aconteceria na
América do Sul se o governo da
Colômbia decidisse contratar
uma dessas empreiteiras e se
metesse numa confusão com a
Venezuela ou com o Equador?
Ou se os separatistas de Santa
Cruz de la Sierra alugassem
uma milícia de Erik Prince?
Fantasia? A base americana no
porto equatoriano de Manta
tem agentes privatizados que já
andaram recrutando nativos
para o Iraque. Pode-se suspeitar que pilotos brasileiros tenham sido contratados para
serviços externos.
GORE E A AMAZÔNIA
Se Barack Obama escolher Al
Gore para fechar sua chapa, é
certo que reaparecerá uma frase que ele teria dito em 1989:
"Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não
é deles. Ela pertence a todos
nós". Tudo indica que isso
aconteceu durante (ou logo depois) de uma viagem do senador à Amazônia. Ela já foi citada centenas de vezes e, recentemente, saiu num artigo do
"New York Times".
O respeitado ambientalista
Tom Lovejoy, que acompanhou Gore na visita à floresta,
sustenta que a frase não é dele,
mas de um deputado. Pode ser.
Se Gore desmentir e o nome
do deputado aparecer, a frase
deve ser retirada do seu banco
de dados (ou do dossiê).
Não há garantia de que Gore
se livre da frase. Afinal, ainda
há gente repetindo que o presidente francês Charles De Gaulle disse que "o Brasil não é um
país sério". O general nunca
disse isso.
CHAMEM O LADRÃO
Incrível partido o DEM, ex-PFL, presidido pelo deputado
Rodrigo Maia, filho do prefeito
do Rio, Cesar Maia.
No Rio Grande do Sul, o
DEM quer expulsar o vice-governador Paulo Feijó porque
gravou uma conversa esquisita
de Cézar Busatto, ex-chefe da
Casa Civil da governadora Yeda
Crusius. Uma coisa é certa: o
ataque à Bolsa da Viúva não
partia de quem gravava.
No Rio de Janeiro, dois bandidos acusam o deputado estadual Natalino Guimarães de ter
sido o mandante de um atentado a bomba contra uma delegacia. Até agora o DEM não disse
uma só palavra em sua defesa,
nem contra. Jerominho, irmão
de Natalino, é vereador pelo
PMDB e está na cadeia.
BARBOSA FICA
O ministro Joaquim Barbosa
esclarece e retifica: não lhe passa pela cabeça sair do Supremo
Tribunal Federal antes de
2024, quando completará 70
anos. Ele sofre de complicações
na coluna e está na batalha, submetendo-se a tratamento médico e fisioterápico. O padecimento de Barbosa colocou-o ao
lado do juiz William Rehnquist
(1924-2005), que padeceu por
mais de dez anos, recuperou-se,
e presidiu a Corte Suprema dos
Estados Unidos até sua morte,
levado por um agressivo câncer
de tireóide.
Qualquer paralelo adicional
com Rehnquist, pai da virada
conservadora da Corte americana, provoca dores adicionais
na coluna de Barbosa.
ESCOLTA DO MEC
Ou o ministro Fernando
Haddad se benze, ou o aparelho
do seu PT leva a macumba da
moral-companheira para dentro do MEC. Em abril, o reitor
Ulysses Fagundes Neto, da Universidade Federal de São Paulo,
foi à Controladoria Geral da
União para explicar despesas
impertinentes que fizera com o
cartão corporativo da Viúva. À
saída, ele proclamou: "Eu recebi total apoio do Ministério da
Educação". Podia ser bravata,
mas o magnífico chegou à CGU
escoltado pelo secretário-executivo do MEC, José Henrique
Paim e pelo secretário de Ensino Superior, Ronaldo Mota. Direito deles. Agora sabe-se que,
além dos cartões do reitor, a
Unifesp estava espetada no Tribunal de Contas e na CGU com
94 irregularidades e impropriedades cometidas entre 2005 e
2007 durante o plantão do doutor Ulysses. Coisa de R$ 178 milhões. Resta saber se os solidários Paim e Mota sabiam disso.
Se não sabiam, foram ineptos.
Se sabiam, foram aptos.
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