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Dantas pagou advogados ligados ao PT sem contrato
Defensores próximos de Lula e Dirceu dizem ter prestado serviços entre 2003 e 2005
Dados sobre os pagamentos estão em auditoria feita a pedido dos novos donos da BrT, que foi gerida pelo banco de Dantas até 2005
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos inéditos da auditoria interna da Brasil Telecom de 2005 sobre a passagem
do banqueiro Daniel Dantas no
controle da companhia telefônica revelam pagamentos de
R$ 1,2 milhão para o advogado
Roberto Teixeira, compadre do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, e de pelo menos R$ 3 milhões para o advogado Antônio
Carlos de Almeida Castro, o
Kakay, amigo do ex-ministro
José Dirceu (PT), sem que os
auditores tivessem encontrado
os contratos para a prestação
de serviços de advocacia.
Kakay recebeu ao todo R$ 8,3
milhões. A auditoria encontrou
apenas um contrato de R$ 5,3
milhões -sobre o qual afirmou
não ter localizado nenhuma
comprovação de efetiva prestação de serviços advocatícios.
Teixeira afirmou que tem consigo uma cópia do contrato.
A Brasil Telecom foi controlada pelo banco de Dantas até
meados de 2005, quando os
fundos de pensão de estatais
conseguiram na Justiça assumir o controle da companhia.
Os novos donos então determinaram uma ampla auditoria.
A Operação Satiagraha, da
Polícia Federal, que investiga e
prendeu Dantas na semana
passada, apura atividades de
advogados remunerados pelo
banqueiro sem atuar formalmente em processos judiciais
relacionados ao banco, como o
ex-deputado federal Luiz
Eduardo Greenhalgh (PT). Para a PF, tratava-se de lobby político. Ele nega irregularidades.
De acordo com documentos
do relatório da auditoria da telefônica, aos quais a Folha teve
acesso, o escritório de Roberto
Teixeira foi pago pela BrT "para prestar serviços para o Opportunity". Em dezembro de
2005, os auditores concluíram:
"Não foram localizados contratos de Roberto Teixeira com a
Brasil Telecom. Foram localizados pedidos de compra sem
contrato e pagamentos para
Roberto Teixeira, que somam
R$ 1,2 milhão, entre abril de
2003 e março de 2005".
Teixeira, segundo o histórico
dos pagamentos, passou a ser
remunerado três meses depois
da chegada de Lula à Presidência. Os auditores citaram Teixeira como "advogado muito
próximo de Lula".
Em outra parte do relatório,
os auditores listaram 39 pagamentos a empresas e pessoas
físicas feitas a partir de "pedidos não vinculados a contratos". São pagamentos de cerca
de R$ 285 milhões. Entre os
beneficiários, o escritório de
Kakay, em Brasília, com R$ 8,3
milhões. Esse trecho do relatório é descrito como "análise de
pedidos não vinculados a contratos, realizados pela presidência [da Brasil Telecom] e
outras diretorias".
A parte do relatório que trata
dos serviços de Kakay traz um
resumo das ligações políticas
do advogado: "Conhecido como Kakay; advogado de DD
[Daniel Dantas] no caso Kroll,
juntamente com Nélio Machado e Oliveira Lima. Seriam
também advogados de Carla
Cicco no caso Kroll; Almeida
Castro é muito amigo de José
Dirceu (advogado desse) e diversas vezes ofereceu ajuda política a DD para aproximá-lo do
governo por meio de Dirceu;
DD recebe forte auxílio do PFL
(ACM, Jorge Bornhausen e
Heráclito Fortes)".
A auditoria também localizou um e-mail trocado entre
um escritório de advocacia do
Rio e o ex-diretor da Brasil Telecom Participações Humberto
Braz, que se entregou ontem à
PF, no decorrer da Operação
Satiagraha. Ele é acusado de ter
participado da tentativa de suborno dos delegados que
atuam no caso, Victor Hugo
Ferreira e Protógenes Queiroz.
O e-mail revela que Braz tinha um papel importante na
relação entre a Brasil Telecom
e advogados. Ele participou de
uma reunião "no escritório do
Kakay", em Brasília, na qual foi
"acertado" o pagamento de honorários "a título de êxito" no
valor de US$ 1 milhão. Os advogados queriam suspender um
mandado de segurança no STF
(Supremo Tribunal Federal).
A auditoria na Brasil Telecom, concluída em dezembro
de 2005, investigou pagamentos, contratações e serviços entre os anos de 2002 e 2005.
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