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REFORMA SOB PRESSÃO
Guimarães afirma que toma medida a contragosto
Relator recua e mantém limite máximo para CPMF
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relator da reforma tributária
na Câmara, Virgílio Guimarães
(PT-MG), recuou em sua intenção de retirar do projeto o limite
máximo de 0,38% para a alíquota
da CMF, contribuição que, pela
proposta do governo, substituirá
a CPMF em caráter permanente.
O teto para o tributo, equivalente à alíquota atual, foi incluído no
texto original da reforma como
um meio de garantir que o governo não cogitava elevar a cobrança.
Guimarães, porém, suprimiu a regra nas duas versões preliminares
já divulgadas de seu relatório.
Na versão definitiva, a ser apresentada na próxima segunda, o
teto estará de volta, anunciou ontem o relator. O motivo, disse, foi
a repercussão da reportagem publicada ontem pela Folha, apontando que a mudança abria caminho para a elevação da CPMF caso o governo seja obrigado a dividir a receita da contribuição com
os Estados, como querem os governadores.
O temor se tornou mais concreto diante do exemplo da Cide: na
semana passada, sob pressão, o
Planalto concordou em repassar
aos Estados 25% da receita da
contribuição, cobrada sobre a
venda de combustíveis; nesta semana, o ministro Guido Mantega
(Planejamento) previu que a Cide
terá de ser elevada.
"Acho lamentável termos de colocar alíquotas de tributos na
Constituição, mas há um temor
muito grande de aumento da carga tributária, e este é um país que
não confia em seu Parlamento",
disse Guimarães, relatando ter recebido críticas durante todo o dia.
"Vou incluir o limite a contragosto, sentindo que estou cometendo
um deslize técnico."
Autorização inócua
Até então, a proposta do relator
era criar a CMF com autorização
para a cobrança de alíquotas diferenciadas, dependendo da operação financeira. Ele afirma que a
autorização permanecerá no texto, mas, na prática, se tornou inócua -como o governo não pode
abrir mão de receita, terá de continuar aplicando a alíquota atual
sobre todas as operações.
Embora com a previsão de
apresentação na segunda-feira e
votação na próxima quinta, Guimarães admitiu que seu relatório
ainda está sujeito a alterações e
negociações. "Um relatório é
sempre uma construção", disse o
relator.
O governo, cujo objetivo principal na reforma é a prorrogação da
CPMF (o chamado imposto do
cheque) e da DRU (Desvinculação de Receitas da União, que permite o uso livre de 20% da receita
dos tributos), tem negociado com
os membros mais importantes da
comissão da Câmara encarregada
de examinar o projeto.
Um dos principais interlocutores é Delfim Netto (PP-SP), que
ontem esteve com o ministro José
Dirceu (Casa Civil). O deputado
defende uma "reforma mínima",
em etapas: primeiro, prorrogar a
CPMF e a DRU, ambas em caráter
provisório; depois, medidas consensuais destinadas a incentivar o
setor produtivo; por último, questões relativas à divisão de receitas
tributárias entre União, Estados e
municípios.
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