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Tolerância é "tática", afirma Bastos
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, disse ontem que
o governo possui uma "tolerância
tática" em relação à tensão social
no campo, vivida hoje entre fazendeiros e sem-terra. Parte dessa
"tolerância" se deve ao quadro
econômico e social, que não evolui há três décadas, segundo ele.
"Há uma tolerância tática enquanto a negociação está ocorrendo", afirmou.
A atuação da Polícia Federal, segundo o ministro, não pode ser de
confronto imediato em todos os
focos de tensão.
"A Polícia Federal não vai chegar baixando o pau. Isso nós não
vamos fazer", afirmou.
Segundo o ministro, a PF abriu
diversos inquéritos para investigar ambos os lados do conflito:
tanto ruralistas que contratam
milícias armadas quanto sem-terra que promovem invasões.
A idéia é punir qualquer violação da lei, mas apenas depois de
ampla investigação policial. Dessa
forma, a ação seria legítima e baseada em ordens judiciais, contribuindo para não elevar a tensão.
Bastos, a princípio, evitou comentar a interpretação do procurador-geral da República, Cláudio
Fonteles, sobre item da Constituição que prevê "função social" para a propriedade no Brasil. Fonteles disse que o direito à propriedade privada não é absoluto e que o
dono não pode fazer o que quiser
com ela.
"Com toda a amizade, com todo
o respeito, com toda a admiração
que tenho pelo doutor Fonteles,
acho que é preciso cuidado nessas
afirmações. Às vezes, você fala
uma coisa e essa coisa tem uma
repercussão maior do que o que
efetivamente você falou."
Os repórteres insistiram e o ministro mostrou que concorda
com o procurador. "Não existe
nenhum direito absoluto. O direito de propriedade é um direito sério. Tem de ser respeitado. Mas,
ao mesmo tempo, a Constituição
diz que a propriedade tem de
exercer uma função social", argumentou o ministro.
Mesmo não sendo responsável
pelo tema, o ministro afirmou
que a lentidão da reforma agrária
da gestão Luiz Inácio Lula da Silva
se deve à herança recebida dos
anos FHC.
"Estamos trabalhando com o
Orçamento do ano passado. Há
escassez de recursos. Estamos
mapeando, localizando terras.
Existe um grupo de trabalho
coordenado pelo ministro Luiz
Dulci [Secretaria Geral]."
Repetindo o discurso de Miguel
Rossetto (Desenvolvimento
Agrário), Bastos afirmou que a estratégia do governo é investir na
qualidade dos assentamentos.
"Os assentamentos que forem
feitos por este governo serão assentamentos qualificados", afirmou o ministro da Justiça.
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