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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CORREIOS
Toninho da Barcelona estaria disposto a revelar operações ilegais de remessas ao exterior
CPI quer ouvir doleiro preso em SP, mas petistas resistem
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Deputados e senadores da oposição que integram a CPI dos Correios articularam uma diligência a
Avaré, interior de São Paulo, com
o objetivo de tomar ainda nesta
semana o depoimento do doleiro
Antonio Oliveira Claramunt, o
Toninho da Barcelona, que cumpre pena na penitenciária de segurança máxima da cidade.
A decisão foi motivada pela informação de que o doleiro estaria
disposto a revelar operações clandestinas de remessa de recursos
ao exterior feitas para políticos de
vários partidos, entre eles o PT.
O presidente da CPI, senador
Delcídio Amaral (PT-MS),
apoiou a idéia da diligência num
primeiro momento, mas depois
ficou de analisar melhor devido à
resistência do PT a tomar agora o
depoimento, operação que teria,
segundo o partido, de ser aprovada pela CPI.
Parlamentares da CPI se reuniriam hoje na Secretaria da Segurança Pública de São Paulo para
ir, de helicóptero, a Avaré. Mas
Delcídio telefonou para o secretário, Saulo de Castro Abreu Filho,
pedindo que adiasse o plano para
amanhã. Uma alternativa, segundo Saulo, seria a CPI - que tem
poder de Justiça - solicitar a
transferência do doleiro para a capital, em vez de viajarem a Avaré.
De acordo com a revista "Veja"
e a com entrevista da mulher de
Barcelona ao "Jornal Nacional", o
doleiro seria o responsável por remessas ilegais de recursos do PT
ao exterior. Em seu depoimento
ao Congresso, o publicitário Duda Mendonça revelou ter aberto
uma conta em um paraíso fiscal
como forma de receber o pagamento do PT por serviços prestados na campanha de 2002.
O senador Arthur Virgílio
(AM), líder do PSDB, afirmou ter
recebido e-mail em nome do doleiro dizendo que ele está "desesperado, isolado, sendo tratado como bandido de alta periculosidade". "A idéia é ouvi-lo para avaliar
se é necessário que ele seja convocado para depor na CPI", afirmou
Gustavo Fruet (PSDB-PR). A proposta partiu do senador Demóstenes Torres (PFL-GO) e do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Além dos três, iria na diligência a
senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Ela diz ser contra, porém, e afirma que vai tentar impedir o que
considera como "operação precipitada". "Não há deliberação da
CPI. Ele [Barcelona] está preso,
não há o que justifique essa pressa
toda. Essa é uma decisão de muita
gravidade para ser tomada assim,
sem o aval da CPI", alegou.
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) também tentava
abortar a missão.
Além dessa, a CPI vai se debater
a partir de hoje sobre outra divergência. Uma parte da comissão
quer se concentrar nas investigações sobre transferência de recursos do publicitário Marcos Valério para o PT e outros partidos
políticos via contas no exterior.
Outro grupo defende que seja
convocado nesta semana o ex-ministro da Secom (Comunicação
de Governo) Luiz Gushiken, o
que traria o tema "fundos de pensão" para o debate.
Doleiro
Apontado como o maior doleiro do país, Barcelona movimentou, segundo conclusões da CPI
do Banestado, US$ 500 milhões
de 1996 a 2002 e está condenado a
25 anos de prisão por crime contra o sistema financeiro.
Toninho, que deve o apelido ao
nome de sua casa de câmbio, a
Barcelona, é investigado desde
2000, quando foi alvo da CPI do
Narcotráfico sob acusação de remessa ilegal para o exterior, com
movimentação que somava US$
29,7 milhões de 1995 a 1997.
Em 2003, seu nome voltou à tona com a Operação Anaconda,
em que a Polícia Federal investigou a venda de sentenças judiciais. Ele aparecia como suposto
beneficiário de decisões.
Toninho, que teve o telefone
grampeado, também é suspeito
de obter informações privilegiadas da PF. Ele foi a causa da exoneração do ex-superintendente
da PF em São Paulo Francisco
Baltazar da Silva. Responsável pela segurança do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, ele entregou
o cargo em agosto do ano passado, depois que a Folha revelou
que Baltazar comprara US$ 134,6
mil de Barcelona.
Depois de ficar foragido por sete
meses, em 2003, o doleiro foi preso há um ano, numa força-tarefa
que prendeu 63 doleiros em sete
Estados. Os doleiros foram presos
sob acusação de evasão de divisas,
sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Pelo esquema, doleiros recebem
dinheiro de origem ilegal no Brasil e abastecem seus clientes em
paraísos fiscais a partir de uma
conta em Nova York.
A principal conta nos Estados
Unidos era utilizada por vários
doleiros brasileiros e tinha o nome de Beacon Hill. Por isso, a operação foi batizada de Farol da Colina, a tradução para o português
do nome da conta.
A semana
A CPI do Mensalão ouvirá amanhã o ex-tesoureiro do PL Jacinto
Lamas e o tesoureiro informal do
PTB, Emerson Palmieri. Os dois
são beneficiários de saques nas
contas das empresas de Valério.
Na quarta-feira, é a vez de Delúbio
Soares, ex-tesoureiro do PT.
O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) deve entregar sua defesa, por
escrito, ao Conselho de Ética da
Câmara nesta semana.
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