São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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TODA MÍDIA

"Você quer que o presidente caia? Ligue"

NELSON DE SÁ

Miguel Arraes, afinal, foi primeira manchete de "Jornal Nacional", "Jornal da Record" e "Jornal da Band". Do primeiro, para a história:
- Morre o ex-governador Miguel Arraes, o líder socialista que participou dos principais momentos da política brasileira nos últimos 50 anos.
Na abertura do "Fantástico", foi lembrado na voz de Cid Moreira como "um dos maiores nomes da política nacional".
Ao longo do dia de ontem, ele fez outras manchetes nos canais de notícias, rádios e sites, como no Globo Online:
- Lula é aplaudido no velório de Arraes.
Está aí um som inesperado, nos tempos atuais para o presidente. Na Jovem Pan, "Lula foi aplaudido". Na Band News, "foi bastante aplaudido".
O "Fantástico" reproduziu os aplausos, mas só de passagem.
 
"Ao contrário de Lula", no dizer da Band News, "Serra e Alckmin são vaiados", no enunciado do Globo Online.
Ao que o governador comentou que "as vaias foram descabidas". E o prefeito, que foram criação de "claque petista".
Até Heloísa Helena se viu vaiada e tachada de "traíra", junto com Cristovam Buarque -e, segundo o site da Agência Estado, também ela culpou "petistas".
O Blog do Cesar Maia, um raro presidenciável que não apareceu, escorreu ironia em nota intitulada "Tucanos ingênuos":
- Será que eles achavam que Lula iria a Recife nesta conjuntura sem preparar uma claque? Santos tucanos!
Ele voltou a insinuar, registre-se, uma aproximação PMDB/PFL para 2006 ou antes.
 
Não eram petistas nem socialistas as bandeiras que seguiam Arraes e perseguiam presidenciáveis, ao vivo nos canais de notícias. Eram do MST. Na narração da Globo News:
- A multidão que a gente vê é principalmente de trabalhadores rurais.
Um líder sem-terra, Jaime Amorim, levou uma "caravana de trabalhadores rurais", no título da Folha Online, e louvou Arraes "pelo que representou na construção de um projeto de desenvolvimento nacional".
 
Com ou sem claque, Lula voltou a seu cotidiano no início da noite, no "Pânico na TV". O destaque ao longo do programa foi "Lula cai ou não cai?".
Diálogo dos animadores Emílio Surita e Sabrina Sato:
- Cai ou não cai?
- Eu acho...
- A sua opinião não interessa, interessa a do espectador. Vocês de casa dizem que a mídia coloca e tira a pessoa do poder.
- É verdade, Emílio, é cruel.
- Então hoje vamos usar a força da televisão brasileira. [para a câmera] Você quer que o presidente caia ou não?
Era "enquete" para ver se um ator vestido de Lula deveria saltar num "bungee jump":
- Você quer que o presidente caia, ligue...
Uma hora depois, "Lula" surgiu no alto da plataforma enquanto o programa bradava:
- O presidente vai cair!!!
Aos gritos de "pode empurrar", ele saltou.
 
Pouco depois, o "Fantástico" abria destacando uma "entrevista exclusiva" em que o ex-presidente Fernando Collor, no dizer de Cid Moreira, "revela que preparou o cenário para o suicídio depois de ter sido afastado do poder". Entra o próprio Collor:
- Eu pensei, num determinado momento, em dar fim à minha própria vida.
 
Não é só na televisão dominical que o escândalo -ou escracho- só faz crescer.
Depois de relutar por meses, o "New York Times" publicou duas reportagens e um artigo do célebre Larry Rohter, seguidos, nas suas edições de sexta-feira, sábado e domingo.
No texto de opinião, ontem, o correspondente no Rio sublinhou a "forte declaração de apoio" a Lula dada por "seu amigo Hugo Chávez".
Isso, entre comentários de que o petista só não cai porque o PSDB e o PFL não querem, pelo menos "por enquanto".

nelsondesa@folhasp.com.br

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