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TODA MÍDIA
"Você quer que o presidente caia? Ligue"
NELSON DE SÁ
Miguel Arraes, afinal, foi
primeira manchete de "Jornal Nacional", "Jornal da Record"
e "Jornal da Band". Do primeiro,
para a história:
- Morre o ex-governador Miguel Arraes, o líder socialista que
participou dos principais momentos da política brasileira nos
últimos 50 anos.
Na abertura do "Fantástico", foi
lembrado na voz de Cid Moreira
como "um dos maiores nomes da
política nacional".
Ao longo do dia de ontem, ele
fez outras manchetes nos canais
de notícias, rádios e sites, como
no Globo Online:
- Lula é aplaudido no velório
de Arraes.
Está aí um som inesperado, nos
tempos atuais para o presidente.
Na Jovem Pan, "Lula foi aplaudido". Na Band News, "foi bastante
aplaudido".
O "Fantástico" reproduziu os
aplausos, mas só de passagem.
"Ao contrário de Lula", no dizer
da Band News, "Serra e Alckmin
são vaiados", no enunciado do
Globo Online.
Ao que o governador comentou
que "as vaias foram descabidas".
E o prefeito, que foram criação de
"claque petista".
Até Heloísa Helena se viu vaiada
e tachada de "traíra", junto com
Cristovam Buarque -e, segundo
o site da Agência Estado, também
ela culpou "petistas".
O Blog do Cesar Maia, um raro
presidenciável que não apareceu,
escorreu ironia em nota intitulada
"Tucanos ingênuos":
- Será que eles achavam que
Lula iria a Recife nesta conjuntura
sem preparar uma claque? Santos
tucanos!
Ele voltou a insinuar, registre-se, uma aproximação PMDB/PFL
para 2006 ou antes.
Não eram petistas nem socialistas as bandeiras que seguiam Arraes e perseguiam presidenciáveis, ao vivo nos canais de notícias. Eram do MST. Na narração
da Globo News:
- A multidão que a gente vê é
principalmente de trabalhadores
rurais.
Um líder sem-terra, Jaime
Amorim, levou uma "caravana de
trabalhadores rurais", no título da
Folha Online, e louvou Arraes
"pelo que representou na construção de um projeto de desenvolvimento nacional".
Com ou sem claque, Lula voltou
a seu cotidiano no início da noite,
no "Pânico na TV". O destaque ao
longo do programa foi "Lula cai
ou não cai?".
Diálogo dos animadores Emílio
Surita e Sabrina Sato:
- Cai ou não cai?
- Eu acho...
- A sua opinião não interessa,
interessa a do espectador. Vocês
de casa dizem que a mídia coloca
e tira a pessoa do poder.
- É verdade, Emílio, é cruel.
- Então hoje vamos usar a força da televisão brasileira. [para a
câmera] Você quer que o presidente caia ou não?
Era "enquete" para ver se um
ator vestido de Lula deveria saltar
num "bungee jump":
- Você quer que o presidente
caia, ligue...
Uma hora depois, "Lula" surgiu
no alto da plataforma enquanto o
programa bradava:
- O presidente vai cair!!!
Aos gritos de "pode empurrar",
ele saltou.
Pouco depois, o "Fantástico"
abria destacando uma "entrevista
exclusiva" em que o ex-presidente
Fernando Collor, no dizer de Cid
Moreira, "revela que preparou o
cenário para o suicídio depois de
ter sido afastado do poder". Entra
o próprio Collor:
- Eu pensei, num determinado
momento, em dar fim à minha
própria vida.
Não é só na televisão dominical
que o escândalo -ou escracho-
só faz crescer.
Depois de relutar por meses, o
"New York Times" publicou duas
reportagens e um artigo do célebre Larry Rohter, seguidos, nas
suas edições de sexta-feira, sábado e domingo.
No texto de opinião, ontem, o
correspondente no Rio sublinhou
a "forte declaração de apoio" a
Lula dada por "seu amigo Hugo
Chávez".
Isso, entre comentários de que o
petista só não cai porque o PSDB e
o PFL não querem, pelo menos
"por enquanto".
nelsondesa@folhasp.com.br
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