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ELIO GASPARI
De Stalin@edu para TarsoGenro@gov
Quando o companheiro achar que lhe faltam aliados, saiba que eu, o Guia Genial dos Povos estou do seu lado
CARO COMISSÁRIO da Justiça,
Acompanho sua carreira
desde a época em que o companheiro era porta-voz do Partido
Revolucionário Comunista. Não sei
porque, mas tenho estima pelos esquerdistas brasileiros. A pedido do
Paulo Francis, li algumas coisas do
Marco Aurélio Garcia. Até gostei,
mas se ele fizesse no Kremlin aqueles gestos que fez no Planalto, já estaria num campo de trabalho, daqueles que a imprensa difamadora
chama de Gulag.
Primeiro quero esclarecer um
ponto: já acertei minhas contas com
seu amigo Lev Davidovitch. Encontramo-nos há tempos. Por mais que
ele tenha esbravejado, reconheceu
que um sujeito que deixa o namorado de uma secretária (Alain Delon,
no filme) entrar na sua biblioteca
com uma picareta de quebrar gelo
sob a capa, não merece chegar a prefeito de Odessa, quanto mais a secretário-geral do Partido Comunista. O
Trótski tornou-se grande amigo daquele vigarista do Malevitch, que
emoldurou uma tela branca e disse
que era pintura.
Vamos ao nosso assunto. Eu sei
que os dois boxeadores cubanos que
a sua polícia deportou queriam voltar a viver na pátria, com as famílias.
A burguesia tenta desmoralizar o
depoimento que eles deram no Brasil, enquanto estavam sob custódia
policial. Autorizo-o a dizer que Josef
Stálin crê na sinceridade da narrativa divulgada.
Mas, comissário Genro, para que
eu possa fazer isso com leveza de alma, preciso que o senhor me mande
um sinal de que aceita pelo menos
um vestígio de autenticidade nos casos em que me envolvi, os tais processos de Moscou. Levei a julgamento uns 50 agentes do capitalismo.
Todos confessaram seus crimes.
Admito que no caso do Bukharin a
Polícia Federal exagerou. Aquela
confissão destinava-se a preservar a
vida de sua família e o futuro de seu
filho de um ano. Outro dia vi a viúva
dele, a Ana Larina. Ela foge de mim.
Os outros eram uns covardes, ordinários. Não acredito inteiramente
nas confissões deles, pois nunca
acreditei inteiramente em qualquer
coisa que dissessem. Por que ninguém menciona que o correspondente do "New York Times" e o embaixador americano defenderam a
lisura dos processos? O repórter ganhou até o Prêmio Pulitzer, mas não
vou mentir para o senhor: ele gostava de mordomias. Botam na minha
conta até o fuzilamento do Isaac Babel, aquele judeu que escreveu "A
Cavalaria Vermelha", literatura de
segunda. Veja só: ele namorava a
mulher do chefe do meu serviço secreto, que era um bêbado, anão e pederasta. O sujeito se mete numa
roubada dessas e a culpa é do Stálin?
Comissário, não preciso de simpatia pública e seria um desvio subjetivista esperá-la de um quadro cujas
raízes estiveram nas ilusões pequeno-burguesas do radicalismo esquerdista. Entendo que o senhor seja meu inimigo, mas aceite a minha
solidariedade. Somos irmãos em
Cristo (é isso mesmo, converti-me)
e na incompreensão. Não há o que
eu possa fazer para comprovar um
escasso vestígio de veracidade nos
depoimentos colhidos pelo meu
aparelho de segurança. Lembre-se
de que as confissões daquela canalha traidora foram públicas, filmadas. O senhor se esqueceu de chamar a imprensa e de fazer um vídeo
dos boxeadores.
Pena, fica para a próxima.
Quando o camarada achar que lhe
faltam aliados, saiba: Stálin está do
seu lado.
Saudações proletárias,
Josef Djugashvili
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