São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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Renan ataca usineiro antes de depoimento

No plenário, senador se coloca como alvo de adversário alagoano que seria "acusado de vários homicídios" e "réu confesso'

João Lyra, que será ouvido amanhã por corregedor, vê tentativa de desviar o foco e promete documentos que comprometeriam Renan

Lula Marques/Folha Imagem
PRESSÃO E REAÇÃO
Integrantes do PSOL levam ao 2º vice-presidente do Senado, Álvaro Dias, abaixo-assinado que teria 60 mil pessoas pedindo a saída de Renan


FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em busca de apoio na Casa, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou ontem que não tem "alma ou pendor para inquisidor" ao negar, em discurso no plenário, que esteja fazendo ameaças veladas aos colegas na tentativa de derrubar eventual pedido de cassação de seu mandato.
Ele atribuiu as denúncias de corrupção contra ele a adversários políticos, particularmente o ex-deputado federal João Lyra (PTB-AL), e atacou mais uma vez o Grupo Abril, apontando supostas irregularidades na operação de venda da TVA para a espanhola Telefônica.
O presidente do Senado voltou a negar que tenha comprado, por meio de "laranjas", rádios em Alagoas com dinheiro de origem desconhecida. O corregedor da Casa, senador Romeu Tuma (DEM-SP), irá ao Estado amanhã ouvir João Lyra, que afirma ter sido sócio de Renan nesse negócio.
Sem citá-lo nominalmente, Renan tentou desqualificar Lyra. "Isso é promovido pela revista "Veja", com a cumplicidade de poucos adversários na política alagoana. Agora já conhecemos seus nomes, sobrenomes e faces. Um deles [Lyra], acusado de vários homicídios, processado por crimes de mando, responde a processos de sonegação fiscal. Nessa questão, é um réu confesso. São interesses políticos paroquiais embalados pelo rancor sem limites."
Segundo a assessoria de Lyra, os ataques do senador são uma tentativa de desviar o foco das denúncias contra ele. O usineiro promete entregar a Tuma documentos comprovando a sociedade com Renan.
O Grupo Abril informou, ontem, que não se manifestaria diante das novas acusações de Renan. Prevalece a nota divulgada na última quinta-feira, em que afirma que a reação é "fruto do desespero do senador".
Renan chamou de "criminosa" a operação de venda da TVA para a Telefônica e desqualificou a revista. "Matérias jornalísticas profundamente indignas, servindo a interesses subalternos e turvando fatos, objetivavam manter incógnita uma bilionária transação contrária ao interesse nacional, envolvendo o Grupo Abril, que publica a revista "Veja'", disse.
O peemedebista explicou como obteve informações sobre o negócio: "Tivemos conhecimento dessa criminosa operação pela publicação do voto do conselheiro Plínio de Aguiar Júnior [Anatel] na internet e, posteriormente, pelo voto do conselheiro [Ronaldo] Sardenberg, que desempatou em favor da prévia anuência, para que essa operação danosa ao interesse nacional pudesse realizar-se", disse ele.
Alvo de três representações por indícios de quebra de decoro, Renan disse confiar no julgamento dos pares. "Não reviverei o processo de Sócrates, condenado a beber cicuta na prisão de Atenas, por um tribunal político que julgou em nome de ressentimentos e motivos distanciados da verdade."

Obstrução
Para piorar a situação de Renan, o PSDB e o DEM começaram ontem a obstruir as votações, o que pretendem fazer até que ele se licencie do cargo.
Desde a semana passada esse é o terceiro discurso de defesa de Renan feito em plenário.
Reportagem da Folha no último domingo revelou que o senador continua fazendo ameaças veladas aos colegas. Nos bastidores, tem chamado o senador Jefferson Péres (PDT-AM) de "flor do lodo" e diz que ele foi acusado de gestão fraudulenta de uma empresa na década de 50.
Péres - primeiro a pedir o afastamento de Renan da presidência - disse que toda a diretoria de uma siderúrgica em que trabalhava foi acusada de apropriação indébita quando a empresa faliu sem recolher encargos trabalhistas.
"Desprezo qualquer forma de rancor e tenho profundo respeito por meus pares. Não cometeria a imprudência e a indignidade de constranger ninguém. Fiquem certos de que não tenho alma ou pendor para inquisidor", disse ele. Renan referiu-se a Péres como "referência moral" e "figura ímpar a quem reconheço como paradigma a ser seguido". Fez acenos também ao líder do DEM, senador José Agripino (RN), contra quem fez insinuações na semana passada. "Todos sabem que tensionamentos políticos, eventualmente, produzem discussões mais acaloradas que nossa serenidade gostaria."


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