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Renan ataca usineiro antes de depoimento
No plenário, senador se coloca como alvo de adversário alagoano que seria "acusado de vários homicídios" e "réu confesso'
João Lyra, que será ouvido
amanhã por corregedor, vê
tentativa de desviar o foco
e promete documentos que
comprometeriam Renan
Lula Marques/Folha Imagem
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PRESSÃO E REAÇÃO Integrantes do PSOL levam ao 2º vice-presidente do Senado,
Álvaro Dias, abaixo-assinado que teria 60 mil pessoas pedindo a saída de Renan |
FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em busca de apoio na Casa, o
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), afirmou ontem que não tem "alma
ou pendor para inquisidor" ao
negar, em discurso no plenário,
que esteja fazendo ameaças veladas aos colegas na tentativa
de derrubar eventual pedido de
cassação de seu mandato.
Ele atribuiu as denúncias de
corrupção contra ele a adversários políticos, particularmente
o ex-deputado federal João
Lyra (PTB-AL), e atacou mais
uma vez o Grupo Abril, apontando supostas irregularidades
na operação de venda da TVA
para a espanhola Telefônica.
O presidente do Senado voltou a negar que tenha comprado, por meio de "laranjas", rádios em Alagoas com dinheiro
de origem desconhecida. O corregedor da Casa, senador Romeu Tuma (DEM-SP), irá ao
Estado amanhã ouvir João
Lyra, que afirma ter sido sócio
de Renan nesse negócio.
Sem citá-lo nominalmente,
Renan tentou desqualificar
Lyra. "Isso é promovido pela
revista "Veja", com a cumplicidade de poucos adversários na
política alagoana. Agora já conhecemos seus nomes, sobrenomes e faces. Um deles [Lyra],
acusado de vários homicídios,
processado por crimes de mando, responde a processos de sonegação fiscal. Nessa questão, é
um réu confesso. São interesses
políticos paroquiais embalados
pelo rancor sem limites."
Segundo a assessoria de Lyra,
os ataques do senador são uma
tentativa de desviar o foco das
denúncias contra ele. O usineiro promete entregar a Tuma
documentos comprovando a
sociedade com Renan.
O Grupo Abril informou, ontem, que não se manifestaria
diante das novas acusações de
Renan. Prevalece a nota divulgada na última quinta-feira, em
que afirma que a reação é "fruto
do desespero do senador".
Renan chamou de "criminosa" a operação de venda da TVA
para a Telefônica e desqualificou a revista. "Matérias jornalísticas profundamente indignas, servindo a interesses subalternos e turvando fatos, objetivavam manter incógnita
uma bilionária transação contrária ao interesse nacional, envolvendo o Grupo Abril, que
publica a revista "Veja'", disse.
O peemedebista explicou como obteve informações sobre o
negócio: "Tivemos conhecimento dessa criminosa operação pela publicação do voto do
conselheiro Plínio de Aguiar
Júnior [Anatel] na internet e,
posteriormente, pelo voto do
conselheiro [Ronaldo] Sardenberg, que desempatou em favor
da prévia anuência, para que
essa operação danosa ao interesse nacional pudesse realizar-se", disse ele.
Alvo de três representações
por indícios de quebra de decoro, Renan disse confiar no julgamento dos pares. "Não reviverei o processo de Sócrates,
condenado a beber cicuta na
prisão de Atenas, por um tribunal político que julgou em nome de ressentimentos e motivos distanciados da verdade."
Obstrução
Para piorar a situação de Renan, o PSDB e o DEM começaram ontem a obstruir as votações, o que pretendem fazer até
que ele se licencie do cargo.
Desde a semana passada esse
é o terceiro discurso de defesa
de Renan feito em plenário.
Reportagem da Folha no último domingo revelou que o senador continua fazendo ameaças veladas aos colegas. Nos
bastidores, tem chamado o senador Jefferson Péres (PDT-AM) de "flor do lodo" e diz que
ele foi acusado de gestão fraudulenta de uma empresa na década de 50.
Péres - primeiro a pedir o
afastamento de Renan da presidência - disse que toda a diretoria de uma siderúrgica em
que trabalhava foi acusada de
apropriação indébita quando a
empresa faliu sem recolher encargos trabalhistas.
"Desprezo qualquer forma
de rancor e tenho profundo
respeito por meus pares. Não
cometeria a imprudência e a
indignidade de constranger
ninguém. Fiquem certos de
que não tenho alma ou pendor
para inquisidor", disse ele. Renan referiu-se a Péres como
"referência moral" e "figura
ímpar a quem reconheço como
paradigma a ser seguido". Fez
acenos também ao líder do
DEM, senador José Agripino
(RN), contra quem fez insinuações na semana passada. "Todos sabem que tensionamentos políticos, eventualmente,
produzem discussões mais acaloradas que nossa serenidade
gostaria."
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