São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2001

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Senador diz ter sofrido "vingança política"

ULISSES CAMPBEL
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) disse ontem que vai perder o cargo de presidente do Senado por conta de uma "vingança política". E nega que tenha havido pressão para renunciar e que tenha feito algum tipo de acordo para abrir mão do cargo.
Jader afirmou que vai renunciar na próxima terça-feira. Segundo o senador, a decisão foi pessoal. Quanto a uma possível cassação, ele diz que abriria "precedentes perigosos". Leia a seguir trechos da entrevista.

 

Agência Folha - O sr. havia dito que não renunciaria à presidência do Senado. O que houve?
Jader Barbalho -
As circunstâncias me orientaram nesse sentido [dá uma risada".

Agência Folha - Quais?
Jader -
A análise do quadro atual. Na terça [18", renunciarei e farei um discurso no plenário.

Agência Folha - O sr. vai atacar alguém?
Jader -
Não pretendo. Vou falar sobre o Senado. Concluí que o melhor caminho para colaborar com o Senado era esse.

Agência Folha - Que acordo foi feito para o senhor deixar o cargo?
Jader -
Não foi feito acordo algum. Essa história é ridícula. Não há cabimento em imaginar um acordo em que eu reassumiria de surpresa, como ocorreu. Não existe acordo tão secreto a ponto de os interlocutores não saberem que eu iria reassumir.

Agência Folha - Dizem que o sr. fez um acordo para deixar o cargo para preservar seu mandato. Houve alguma pressão nesse sentido?
Jader -
Claro que não. A decisão foi pessoal. Achei que a minha permanência [no cargo" estava comprometendo a instituição. Achei que deveria renunciar. Eu já vinha pensando sobre isso havia algum tempo.

Agência Folha - Na sua avaliação, por que o sr. perdeu o cargo?
Jader -
Por causa de uma vingança política. As pessoas que acompanham o noticiário têm certeza de que fui vítima de uma vingança. Como diria o Nelson Rodrigues: "É o óbvio ululante".

Agência Folha - O sr. conversou com FHC sobre a sua renúncia?
Jader -
Não. Quem conversou com o presidente foi o Michel Temer. No entanto, a decisão foi pessoal e surpreendeu a todos.

Agência Folha - Há possibilidade de o sr. renunciar ao seu mandato?
Jader -
Não, não. O mandato de senador é meu. Já o Senado é uma instituição coletiva, ou seja, não é dirigida apenas por uma pessoa.

Agência Folha - Na sua previsão, quem será o seu sucessor no cargo?
Jader -
Não sei. Não defendo nenhum nome. Todos são companheiros merecedores da função.

Agência Folha - Como o sr. analisa o relatório que pede a abertura de processo por quebra de decoro?
Jader -
É uma peça de natureza política, que não tem nenhuma substância, nenhuma prova. Não existe absolutamente nada. Foi feito para cumprir todo o projeto de vingança política.

Agência Folha - Esse relatório pode levar à sua cassação?
Jader -
Espero que o bom senso no Senado prevaleça. Até porque os precedentes são muitos perigosos e, invariavelmente, eles têm a mania de não parar.

Agência Folha - Quais são esses precedentes perigosos?
Jader -
Quando se resolve estabelecer vinganças políticas sem nenhuma prova, tudo é possível. Danton, quando estava indo para a guilhotina, após um processo eminentemente político, passou pela casa de Robespierre, que estava na porta e havia sido o mentor de todo processo. Danton, nesse momento, disse uma frase sábia: "Atrás de mim, virás Robespierre". E não aconteceu diferente [Jader se refere a acontecimentos da Revolução Francesa".



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