São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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NEW STARS

Na cidade, reduto de brasileiros no EUA, dirigentes adotam estilo informal, andando de camionete e falando português

PT vai a Nova York buscar voto de imigrantes

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Depois de dez anos tentando entender os signos, linguajar e hábitos muito peculiares do brasileiro-no-poder, a intelligentzia nova-iorquina agora está tendo de se acostumar com um novo tipo: o petista-que-pode-ganhar, alçado ao primeiro plano por conta das pesquisas eleitorais do candidato majoritário, Luiz Inácio Lula da Silva.
São duas tribos diferentes, a segunda mais exótica para o americano médio do que a primeira, como se pode depreender de visita oficial de uma comitiva do partido que acontece na cidade desde a última sexta, liderada pelos prefeitos João Fassarella, de Governador Valadares (MG), e Pedro Wilson, de Goiânia (GO).
O motivo da visita é claro: a região de Nova York é um dos principais destinos dos brasileiros nos EUA e reúne algo entre 300 mil (estimativas oficiais) e 1 milhão de imigrantes, a maioria ilegal. Acontece que o último cadastramento do Consulado bateu recorde de inscritos para votar em outubro: 10 mil pessoas.
Além disso, estima-se que há pelo menos 40 mil valadarenses no país, a maioria também ilegal, mas cujos envios de dólares para familiares respondem pela maior parte da riqueza da cidade mineira, montante calculado em algo como US$ 4 milhões/mês.
Assim, acompanhados por assessores e pelo secretário de assuntos institucionais do Partido, Vicente Trevas, os políticos desembarcaram na manhã de anteontem para uma tour pela região, que incluirá ainda visitas a Boston e Nova Jersey. O aeroporto, JFK, é o mesmo frequentado por nomes como o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e o ministro da Economia, Pedro Malan.
Mas as semelhanças param aí.
Primeiro, os carros à espera: o governo anda de limusine preta, geralmente um Lincoln Town Car; a oposição se locomove numa camionete e não raro toma táxis. Enquanto a equipe econômica anda de ternos bem cortados, a outra vem com o que tiver.
O encontro inicial do governo com a imprensa costuma acontecer nas instalações do prédio que abriga o restaurante Le Cirque 2000 da Madison Avenue, um dos mais caros da cidade, US$ 200 a refeição a dois. O primeiro encontro dos prefeitos aconteceu no bar e club Why Not?, na periferia, muito frequentado pelos brasileiros do Astoria.
Até mesmo a linguagem difere. Malan e Fraga discursam em inglês, os petistas dão trabalho à tradutora simultânea na hora de traduzir expressões para ela enigmáticas como "a companheirada" e "nós passamos da condição de pedra para vidraça".

Mudança de tratamento
O tratamento dos acadêmicos também mudou. De repente, o PT é moda.
O professor Mauricio Font, um dos maiores entendedores de Brasil nos EUA, comandou o encontro com cerca de 20 estudantes promovido na tarde de sexta-feira pelo Bildner Institute na Universidade de Nova York.
Ao apresentar Pedro Wilson, Vicente Trevas e Roque da Silva (assistente de Aloizio Mercadante), Font fez questão de dizer que também ele estava lá, em São Paulo, quando Lula foi preso pelo regime militar, em 1979. "Vi o PT começando a nascer", disse, cheio de orgulho e esperança.


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