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IMPRENSA
Em discurso no congresso da ANJ, presidente ignorou críticas ao conselho de jornalismo, projeto que já encampou
Lula defende mídia livre, mas não cita CFJ
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva fez ontem um discurso enfático em defesa da liberdade de imprensa, mas ignorou as críticas
que havia acabado de ouvir de
dois ex-presidentes e do atual presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais) em relação à
criação do CFJ (Conselho Federal
de Jornalismo).
O presidente participou ontem
da cerimônia de posse da nova diretoria da ANJ, que a partir de
agora será presidida por Nelson
Pacheco Sirotsky, do jornal gaúcho "Zero Hora". Antes de fazer
seu pronunciamento, o presidente ouviu os discursos de Francisco
Mesquita Neto, presidente do
conselho editorial do jornal "O
Estado de S. Paulo" e ex-presidente da ANJ, do também ex-presidente da ANJ Paulo Cabral de
Araújo e do próprio Sirotsky. Todos criticaram a criação do CFJ.
"Os associados à ANJ são responsável e democraticamente
contrários à criação do CFJ", disse
Sirotsky, para completar: "Senhor
presidente, a presença de Vossa
Excelência nesse ato, em um momento em que se discutem tantos
temas relacionados ao exercício
de nossa atividade, é compreendida por nós como uma reafirmação de seus compromissos históricos com a liberdade de expressão e com a democracia".
Referindo-se às ameaças à liberdade de expressão, o ex-presidente da ANJ Paulo Cabral de Araújo
disse que "o dragão da escuridão
permanece vivo. Aparece aqui e
ali. São exemplos os casos recentes de projetos de criação da Ancinav [Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual] e do CFJ".
Mesquita Neto, que já havia criticado o projeto na abertura do 5º
Congresso de Jornais, que começou na segunda-feira e durante o
qual foi feita a cerimônia, repetiu
as críticas. "É incompatível falar
em liberdade de expressão e regulamentação de imprensa ao mesmo tempo", disse.
O presidente, que foi o último a
falar, ouviu todos os discursos.
Durante seu pronunciamento, no
qual fez uma defesa enfática do
direito de expressão e da liberdade de imprensa, ele não mencionou nenhuma vez o projeto de
criação do conselho.
O presidente afirmou que "o direito à informação do cidadão é
quase sagrado". Ele disse que apenas a liberdade plena de imprensa
pode atender o direito à informação. "Nós sabemos que sem informação de qualidade o cidadão
não tem como exercer a plenitude
de seus direitos, e a liberdade de
imprensa é a outra face da moeda
do direito à informação."
O presidente chegou a dizer que
a imprensa comete erros, mas admitiu que as falhas ocorrem em
todos os setores da sociedade.
"Há erros, há distorções? Sem dúvidas. Mas há problemas, erros e
distorções também no governo,
assim como há problemas e distorções em todas as atividades."
Admitindo que como cidadão
podia se incomodar, ou "sofrer
intimamente" com injustiças cometidas pela imprensa, o presidente concluiu que "na condição
de governante eu não posso me
incomodar quando leio uma crítica séria ao governo".
"O que me incomodava era viver sob um regime no qual o governo se dedicava a censurar artigos de jornais. Isso não voltará a
acontecer no Brasil, e muito menos voltará a acontecer de forma
dissimulada", disse Lula, que afirmou ainda que " a melhor receita
para o vigor de jornalismo é sem
dúvida nenhuma a liberdade".
O presidente discursou para
uma platéia composta por jornalistas, profissionais e empresários
do setor. Faziam parte da mesa da
cerimônia, além de Mesquita Neto e Sirotsky, o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), o governador Germano Rigotto (RS), o vice-governador
Cláudio Lembo (SP) e o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo.
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