São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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IMPRENSA

Em discurso no congresso da ANJ, presidente ignorou críticas ao conselho de jornalismo, projeto que já encampou

Lula defende mídia livre, mas não cita CFJ

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso enfático em defesa da liberdade de imprensa, mas ignorou as críticas que havia acabado de ouvir de dois ex-presidentes e do atual presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais) em relação à criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo).
O presidente participou ontem da cerimônia de posse da nova diretoria da ANJ, que a partir de agora será presidida por Nelson Pacheco Sirotsky, do jornal gaúcho "Zero Hora". Antes de fazer seu pronunciamento, o presidente ouviu os discursos de Francisco Mesquita Neto, presidente do conselho editorial do jornal "O Estado de S. Paulo" e ex-presidente da ANJ, do também ex-presidente da ANJ Paulo Cabral de Araújo e do próprio Sirotsky. Todos criticaram a criação do CFJ.
"Os associados à ANJ são responsável e democraticamente contrários à criação do CFJ", disse Sirotsky, para completar: "Senhor presidente, a presença de Vossa Excelência nesse ato, em um momento em que se discutem tantos temas relacionados ao exercício de nossa atividade, é compreendida por nós como uma reafirmação de seus compromissos históricos com a liberdade de expressão e com a democracia".
Referindo-se às ameaças à liberdade de expressão, o ex-presidente da ANJ Paulo Cabral de Araújo disse que "o dragão da escuridão permanece vivo. Aparece aqui e ali. São exemplos os casos recentes de projetos de criação da Ancinav [Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual] e do CFJ".
Mesquita Neto, que já havia criticado o projeto na abertura do 5º Congresso de Jornais, que começou na segunda-feira e durante o qual foi feita a cerimônia, repetiu as críticas. "É incompatível falar em liberdade de expressão e regulamentação de imprensa ao mesmo tempo", disse.
O presidente, que foi o último a falar, ouviu todos os discursos. Durante seu pronunciamento, no qual fez uma defesa enfática do direito de expressão e da liberdade de imprensa, ele não mencionou nenhuma vez o projeto de criação do conselho.
O presidente afirmou que "o direito à informação do cidadão é quase sagrado". Ele disse que apenas a liberdade plena de imprensa pode atender o direito à informação. "Nós sabemos que sem informação de qualidade o cidadão não tem como exercer a plenitude de seus direitos, e a liberdade de imprensa é a outra face da moeda do direito à informação."
O presidente chegou a dizer que a imprensa comete erros, mas admitiu que as falhas ocorrem em todos os setores da sociedade. "Há erros, há distorções? Sem dúvidas. Mas há problemas, erros e distorções também no governo, assim como há problemas e distorções em todas as atividades."
Admitindo que como cidadão podia se incomodar, ou "sofrer intimamente" com injustiças cometidas pela imprensa, o presidente concluiu que "na condição de governante eu não posso me incomodar quando leio uma crítica séria ao governo".
"O que me incomodava era viver sob um regime no qual o governo se dedicava a censurar artigos de jornais. Isso não voltará a acontecer no Brasil, e muito menos voltará a acontecer de forma dissimulada", disse Lula, que afirmou ainda que " a melhor receita para o vigor de jornalismo é sem dúvida nenhuma a liberdade".
O presidente discursou para uma platéia composta por jornalistas, profissionais e empresários do setor. Faziam parte da mesa da cerimônia, além de Mesquita Neto e Sirotsky, o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), o governador Germano Rigotto (RS), o vice-governador Cláudio Lembo (SP) e o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo.


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