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Senadores criticam Gil em audiência sobre audiovisual
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O ministro da Cultura, Gilberto
Gil, não teve trégua ontem, na audiência pública do Senado sobre o
anteprojeto do MinC (Ministério
da Cultura) para a criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual).
Gil ouviu provocações à sua
condição de artista/ministro, viu
o anteprojeto ser caracterizado de
"nazista" e negou afirmações atribuídas a ele pelo boletim oficial da
Presidência da República, "Em
Questão", sobre o "fascismo das
grandes corporações da mídia" e
a "possibilidade de controle [pela
nova agência] sobre o conteúdo e
a autonomia de criação das emissoras de TV".
Insatisfeito com uma resposta
do ministro, o senador Hélio Costa (PMDB-MG) afirmou: "Se o
governo determinasse que o sr. só
poderia compor das 7h às 8h, teríamos perdido grande parte de
sua obra". Costa havia perguntado "o porquê de o governo querer
regulamentar um setor intimamente relacionado com as expressões artísticas".
Gil respondeu que "a regulação
é dimensão natural e necessária
da vida". Argumentou que "as
instituições são reproduções da
vida humana" e que, portanto,
"seria absurdo que as instituições
não tivessem regulação, quando
os homens têm a vida regulada".
O senador Osmar Dias (PDT-PR), que presidiu a audiência, primeiro agradeceu ao ministro por
não haver encaminhado o projeto
como medida provisória e, em seguida, sugeriu que o MinC apresente o projeto de criação da
agência somente depois da aprovação do projeto de lei das agências reguladoras "para o qual já
foram elaboradas pelo menos 137
emendas, o que mostra estar longe do consenso".
O ministro, que prevê o envio
do projeto da Ancinav ao Congresso para o fim de outubro, discordou da sugestão. "Tenho a impressão de que nos adequar à lei
que surja será mais fácil do que
nos omitir agora", disse Gil.
Os senadores Demostenes Torres (PFL-GO) e Juvencio da Fonseca (PDT-MS) abordaram a
"profunda celeuma armada por
um suposto dirigismo cultural" e
pediram explicação ao ministro
de sua declaração no "Em Questão", editado pela Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) segundo
a qual a Ancinav poderia controlar o conteúdo das TV.
"Não posso autorizar supostas
declarações minhas que estão em
conflito com o que estou dizendo", disse Gil. Na abertura da audiência, o ministro havia reiterado que "não se trata de intervir
em conteúdos, mas intervir, sim,
na relação entre eles, à medida
que se tornam produtos, para garantir que tenham condições de
competição".
Em entrevista após a audiência,
Gil negou as declarações ao "Em
Questão". "Não disse. Desautorizo completamente isso". O ministro afirmou não saber "exatamente o que houve".
"Talvez tenham editado frases
de um período para outro", afirmou. "[Por] Tudo o que tenho dito publicamente, fica claro que
não é o que eu penso e não é o modo como gosto de formular minhas idéias". Questionado mais
uma vez, Gil disse que "distorcer
não é prática jornalística, mas
acontece".
Também convidado para a audiência, o cineasta Cacá Diegues
disse ter "certeza de que o ministro Gilberto Gil não estava pensando em intervir no cinema, mas
[com o projeto da Ancinav] estamos passando um cheque em
branco para o futuro".
O ministro das Comunicações,
Eunício de Oliveira, não compareceu à audiência, alegando motivo de saúde.
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