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JANIO DE FREITAS
Capital dos cheques
Um dia como nenhum outro, nem mesmo em Brasília.
O presidente da Câmara dos
Deputados é levado à escada do
cadafalso nas asas do cheque
sujo que afirmara não existir. O
plenário da Câmara dos Deputados vota a proposta de cassação do deputado que denunciou
os cheques da patifaria recebidos por outros deputados
-aquele mesmo a quem Lula
daria um cheque em branco. E o
marqueteiro do presidente da
República é conduzido a outro
aperto na polícia sobre cheques
depositados em suas contas no
exterior.
À corrupção faltou, porém, a
sincronia dos seus eventos. Severino Cavalcanti e o empresário
pagador sobrepuseram-se ao
julgamento de Roberto Jefferson
e apropriaram-se de grande
parte da expectativa criada pelo
prometido espetáculo na Câmara. No país das novelas recomendava-se a divisão em capítulos.
Mas as aflições políticas não
ficaram com Jefferson nem com
Severino. Caíram sobre o Planalto e o PT. A vitória de Jefferson significaria uma derrota
onerosa para o governo e humilhante para o PT, que desde o
primeiro momento das denúncias lutou como pôde para destruir o denunciante, já que a
histeria de sua negação inicial
às acusações descambou para o
ridículo sem saída. A vitória,
por sua vez, não traria solução
para os problemas do PT e do
governo.
E então sobrevém o caso de Severino. Ou porque a boca já lhe
está inevitavelmente torta, ou
pela paralisia mental que o acomete nos últimos tempos, o PT
logo se põe ao lado do acusado
de corrupção.
Para ser mais exato, não foi de
modo assim tão reto, até porque
isso implicaria retidão. Feita a
acusação a Severino no fim de
semana, o PT cobriu-se de cautelas. Pegou mal. Por isso o líder
do PT na Câmara, o nervoso deputado Henrique Fontana,
abriu a segunda-feira petista
com uma inversão: o partido ia
aliar-se aos outros partidos no
pedido de investigação da denúncia contra Severino. Antes
que o dia terminasse, no entanto, o deputado Henrique Fontana já representava nova inversão, agora oposta à representação contra Severino no Conselho de Ética da Câmara. Era a
preparação do vexame de ontem: como se recusara a assinar
o pedido, o governo e o PT foram tão atingidos quanto Severino pelo aparecimento do cheque da propina ou extorsão de
que é acusado o presidente da
Câmara.
Circunstâncias técnicas me
obrigam a escrever antes de feita a votação na Câmara. A capacidade do jornalismo de produzir frustrações é inesgotável.
Mas não seria preciso o resultado para esta afirmação: mantido ou perdido o seu mandato,
Roberto Jefferson prestou um
serviço gigantesco ao país, e não
se pode dizer o mesmo, nem de
longe, dos seus adversários
atuais.
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