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Contas dos municípios pioram, e quase metade tem déficit, diz estudo
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A situação fiscal dos municípios
brasileiros piorou em 2002, o que
reverte a tendência geral de ajuste
fiscal que vinha sendo observada
desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000.
O resultado global do superávit
primário (economia para o pagamento de juros) dos municípios
em 2002 foi 56,4% menor que o
do ano anterior -de R$ 5,5 bilhões, em 2001, passou para R$ 2,4
bilhões, no ano seguinte.
A projeção para 2003 e 2004, segundo estudo do Ibam (Instituto
Brasileiro de Administração Municipal), é a de aumento do déficit
das contas públicas municipais.
Os números mostram que 44%
das cidades brasileiras apresentaram déficit fiscal (diferença entre
a receita e a despesa, levando em
conta o pagamento de juros) no
ano passado. Em 2000, apenas
41,5% dos municípios estavam
deficitários, percentual que caiu
para 31,5% no ano seguinte.
O superávit fiscal em 2002 foi
equivalente a R$ 497 milhões,
sendo que em 2001 e em 2000 os
valores foram de R$ 3,6 bilhões e
R$ 2 bilhões, respectivamente.
"Houve uma deterioração grande da situação fiscal dos municípios. De 95 até 2001 diminuiu o
número de municípios com déficit fiscal. Em 2002 houve uma reversão disso", disse o economista
e geógrafo François Bremaeker,
coordenador do estudo do Ibam.
Elaborado com dados expandidos a partir de uma amostra de
4.130 municípios, o levantamento
foi feito com base em números divulgados pelo Tesouro Nacional.
A deterioração das contas públicas municipais, disse Bremaeker, está ligada ao aumento dos
encargos sobre as cidades e à queda nos repasses da União e dos
Estados para os municípios.
Como o Fundo de Participação
dos Municípios, composto por
22,5% da arrecadação do Imposto
de Renda e do IPI, é a principal
fonte de receita de 81% das cidades, quedas na arrecadação afetam os repasses. As cidades contam ainda com 25% do ICMS recolhido pelos Estados.
Segundo o economista, os municípios arcaram em 2002 com R$
5 bilhões em despesas de competência exclusiva dos Estados e da
União, principalmente na área da
Saúde e da Assistência Social.
Além disso, Bremaeker destacou que um terço dos municípios
deficitários está em processo de
redução do FPM para se ajustar a
distorções do passado.
O levantamento mostra ainda
que as cidades da região Sul foram
as que apresentaram os resultados mais favoráveis: 70% tiveram
superávit fiscal no ano passado.
As regiões em que ocorreu o
menor número de municípios
com superávit fiscal foram a Norte e a Nordeste, onde mais da metade das cidades teve déficit fiscal
no período.
Os municípios têm defendido
uma maior participação do bolo
tributário nas negociações da reforma tributária, que está em tramitação no Senado. Alegam que,
no começo da década de 90, detinham cerca de 20% dos recursos
do setor público, percentual que
chegou a 14% em 2001.
Perspectiva ruim
Segundo Bremaeker, o resultado de 2003 "deve ser ainda pior
que o de 2002". Isso deve ocorrer
porque o FPM crescerá menos
que os gastos dos municípios
-segundo estimativa do Tesouro, o crescimento é de 2,21% no
acumulado até novembro. Ele cita
o aumento de 20% do salário mínimo, em 2003, cujo impacto é direto nas contas das cidades.
O economista destacou que, em
2004, por ser o último ano de
mandato, os prefeitos não podem
deixar restos a pagar, o que apertará ainda mais a disponibilidade
de caixa das prefeituras.
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