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ANÁLISE
Confronto tornou tudo mais vivo e real
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
De formas diferentes, os dois
participantes do debate de ontem
à noite são acusados de comportamento antipático. No início, o
esforço de sorrir era comum a
Serra e a Marta, mas com resultados também bastante diversos. O
sorriso de Serra produziu-se com
os lábios fechados, numa flexibilidade de borracha. A mensagem
era: "sou confiável como um bom
companheiro". Marta inclinava a
cabeça para a sua direita, numa
atitude de persuasão; a mensagem era "sei escutar com humildade".
Claro que a simpatia dura pouco quando acusações começam a
ser trocadas. Surgiu assim o quesito "emoção", sem dúvida uma
arma de Marta contra o cerebralismo de Serra. Essa arma por vezes pareceu fora de controle, enquanto o tucano se mantinha caracteristicamente fleumático à
medida que avançava a noite.
Seja como for, o ponto forte de
Serra foi estar com os números do
Orçamento da prefeitura na ponta da língua, apontando várias
coisas que precisariam de explicação: cortes em programas sociais
como o Banco do Povo e o Bolsa-Trabalho, gastos excessivos no
Gabinete da Prefeitura se comparados a obras na zona leste, baixo
aproveitamento daquilo que se
arrecada com a taxa de luz... Aspectos a que Marta não respondeu direito. Restou-lhe dizer, o
que não deixa de ser divertido,
que os tucanos "só criticam" (eis
uma antiga especialidade do PT),
e que o tom de Serra era professoral.
Ela tinha razão; e explorou os
inúmeros flancos deixados pelos
governos Fernando Henrique e
Geraldo Alckmin. Pôde enunciar
as várias realizações da prefeitura,
e os bons índices de popularidade
obtidos por sua administração.
Também cabe lembrar que Serra
deixou coisas sem explicação:
suas frases sobre "eliminar o sufoco tributário" na cidade, por
exemplo, não deixam claro se haverá diminuição de impostos, ou
quais serão mantidos.
A imagem de certa agressividade confusa reincidiu, entretanto,
sobre a figura de Marta; e a de ter
em mãos mais críticas do que
programas confirmou-se no caso
de Serra. Tudo igual, então? Longe disso. Com toda a rigidez dos
discursos preparados por assessores previamente, o formato de
confronto direto entre os candidatos tornou tudo mais vivo, duro
e real. Questões concretas foram
discutidas, com mais profundidade do que de hábito, ainda que
aparecessem poucas soluções.
Talvez não existam mesmo.
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