São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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QUESTÃO DE ESTILO

Mais monólogo do que debate

PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA

Não é nada fácil debater em público, com TV para todo o país. Se alguém discorda, que assuma o posto. É por isso que, quando se analisa o desempenho de candidatos/debatedores, o que menos importa é saber se algum deles confundiu palavras ou tropeçou numa concordância ou regência. Quem não tropeçaria?
Marta Suplicy criou o ordinal 111 ("o cento e onze lugar", disse ela quando se referiu à posição do Brasil no item saúde); José Serra pôs no singular ("falta") o verbo que deveria ter sido conjugado no plural ("Falta até elementos..."). Mas -não custa repetir- isso é o de menos. Na verdade, não tem mesmo a menor importância.
Serra e Marta têm discursos muito parecidos. Usuários da norma urbana culta, os dois se expressam com clareza e sem apelos a demagogias lingüísticas, o que equivaleria, por exemplo, ao uso de um registro verbal diferente do que habitualmente usam.
Chamaram a atenção alguns detalhes. Salvo engano, a petista tratou o tucano de "você" o tempo todo; Serra oscilou entre "você" e "senhora". O pronome formal foi usado por Serra nas situações em que seu tom era mais grave ou incisivo. Ato falho, intencional ou resultante de mera coincidência?
Também chamou a atenção o fato de Serra insistir em dizer que Marta não respondia às perguntas. De fato, ela não respondeu a muitas delas (o que Serra também fez, talvez um pouco menos).
A técnica é velha: um candidato insiste em dizer que o outro não respondeu, até que este paga na mesma moeda. E o "debate" se transforma em monólogo. É isso.


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