|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO DE ESTILO
Mais monólogo do que debate
PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA
Não é nada fácil debater em público, com TV para todo o país. Se
alguém discorda, que assuma o
posto. É por isso que, quando se
analisa o desempenho de candidatos/debatedores, o que menos
importa é saber se algum deles
confundiu palavras ou tropeçou
numa concordância ou regência.
Quem não tropeçaria?
Marta Suplicy criou o ordinal
111 ("o cento e onze lugar", disse
ela quando se referiu à posição do
Brasil no item saúde); José Serra
pôs no singular ("falta") o verbo
que deveria ter sido conjugado no
plural ("Falta até elementos...").
Mas -não custa repetir- isso é
o de menos. Na verdade, não tem
mesmo a menor importância.
Serra e Marta têm discursos
muito parecidos. Usuários da
norma urbana culta, os dois se expressam com clareza e sem apelos
a demagogias lingüísticas, o que
equivaleria, por exemplo, ao uso
de um registro verbal diferente do
que habitualmente usam.
Chamaram a atenção alguns detalhes. Salvo engano, a petista tratou o tucano de "você" o tempo
todo; Serra oscilou entre "você" e
"senhora". O pronome formal foi
usado por Serra nas situações em
que seu tom era mais grave ou incisivo. Ato falho, intencional ou
resultante de mera coincidência?
Também chamou a atenção o
fato de Serra insistir em dizer que
Marta não respondia às perguntas. De fato, ela não respondeu a
muitas delas (o que Serra também
fez, talvez um pouco menos).
A técnica é velha: um candidato
insiste em dizer que o outro não
respondeu, até que este paga na
mesma moeda. E o "debate" se
transforma em monólogo. É isso.
Texto Anterior: Análise: Confronto tornou tudo mais vivo e real Próximo Texto: Bastidores: Por trás das câmeras, petistas ameaçaram abandonar debate Índice
|