São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OFENSIVA GOVERNISTA

Comunicado, assinado também por PC do B e PSB, diz que corrupção foi acelerada com privatizações

Em nota, PT omite "mensalão" e liga governo FHC a corrupção

Jefferson Bernardes/Preview
Tarso Genro, presidente interino do PT, que ontem se reuniu com líderes dos partidos da base aliada


CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Partidos da base aliada, liderados pelo PT, partiram para a ofensiva política contra o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, considerado o principal adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições do ano que vem.
Em nota conjunta divulgada ontem, após reunião em São Paulo, os petistas, ao lado de dirigentes do PC do B e do PSB, afirmam existir uma "corrupção sistêmica no Estado brasileiro", que, segundo eles, foi "acelerada nos últimos anos pelas privatizações selvagens, comandadas pelo governo FHC, e pelos financiamentos ilegais das campanhas eleitorais". A nota não cita diretamente o escândalo do "mensalão" nem as acusações de corrupção que pesam sobre integrantes do partido.
O movimento das legendas, que se auto-intitulam "núcleo de esquerda da base do governo", coincide com iniciativas recentes do Palácio do Planalto para tentar anular ataques da oposição, principalmente do PSDB e do PFL.
Na semana passada, em reunião com a bancada petista, Lula pediu empenho na defesa de suas realizações e mais agressividade no embate com os adversários. O ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), em Portugal, também criticou FHC, ao acusá-lo de "exacerbar" a crise política com interesses eleitorais.
O presidente eleito do PT, Ricardo Berzoini, tem dedicado parte de suas entrevistas a comparações de escândalos do governo Lula com os da gestão tucana.
As críticas a FHC já vinham aparecendo em resoluções anteriores do PT, mas se acentuaram nas últimas semanas, quando o governo esboçou uma reação à crise, vencendo as eleições da Câmara, com Aldo Rebelo (PC do B-SP), e emplacando Berzoini, seu candidato de preferência, na presidência nacional petista.
Segundo o presidente interino dos petistas, Tarso Genro, a ofensiva contra a oposição se justifica porque "a mídia, em geral, faz uma cobertura parcial, como se a corrupção tivesse começado com o PT". Questionado sobre as acusações que pesam sobre o governo Lula e os petistas, Tarso afirmou: "Nossas responsabilidades estão implícitas [na nota] quando dizemos que é preciso combater a corrupção e o financiamento ilegal de campanhas".
O presidente interino do PT, que participou da reunião com os dirigentes dos partidos aliados ontem, negou que a ofensiva tenha objetivo de desviar a atenção das denúncias contra o governo Lula. "Queremos que os trabalhos das CPIs, que estão tímidas e paralisadas, aprofundem as investigações e descubram de onde vem o dinheiro [do esquema do publicitário Marcos Valério]", disse. "É um dever político que nós estamos cumprindo."
Além de Tarso e de representantes das executivas das três legendas, participaram da reunião de ontem os presidentes nacionais do PC do B, Renato Rabelo, e do PSB, Roberto Amaral.

Outro lado
Vice-líder do PSDB na Câmara e integrante da CPI dos Correios, o deputado Eduardo Paes (RJ) rebateu as críticas dos petistas, dizendo que os adversários "continuam culpando o governo passado pelos erros deles". "Está ficando cada vez mais claro que estão querendo passar a tese de que o escândalo tem a ver só com o financiamento de campanha."
Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), ironizou a estratégia do PT. "Parece o sujeito pego com dez quilos de maconha que quer se fazer passar por usuário", afirmou. "A direção do PT é cúmplice do "mensalão"."
A Folha tentou entrar em contato com FHC, mas sua assessoria de imprensa informou que ele está nos Estados Unidos e não poderia comentar ontem as críticas dos petistas.


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