São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Indicação de vice, provavelmente para o Desenvolvimento, seria uma resposta às pressões do PL por cargo de destaque

Lula quer nomear Alencar para ministério

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para tentar saciar a fome do PL por cargos, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quer nomear para o ministério o seu vice, o senador José Alencar (PL-MG). Cresceu também a possibilidade de José Dirceu chefiar a Casa Civil e de Antônio Palocci Filho comandar a Fazenda.
O destino de Palocci, porém, depende de uma última conversa entre Lula e Aloizio Mercadante, deputado federal e senador eleito também cotado para a Fazenda.
Segundo a Folha apurou, a indicação de Alencar para o ministério, provavelmente para a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, seria resposta à pressão do PL, aliado de primeira hora, por cargo de destaque.
Lula confia no seu vice, que, com maior cacife, controlaria o PL, partido recheado de quadros fisiológicos que desejam espaço no primeiro escalão e nas estatais. O PT fez consulta jurídica e recebeu resposta de que não há óbice para Alencar acumular a Vice-Presidência e um ministério. A escolha dele, grande industrial, também seria forma de agradar ao empresariado e a Minas, atendendo a um setor e a uma região.
Em Brasília, onde passará o feriado, Lula descansará e refletirá para tomar decisões concretas logo. Ele adotou estilo centralizador e fechado, mas fez consultas e se reuniu com ministeriáveis.
José Dirceu, presidente do PT, deixou claro para Lula que prefere integrar o governo. Na cúpula do PT, é dado como certo na Casa Civil, em vez de ser candidato a presidente da Câmara.
Mercadante já teve uma primeira conversa com Lula, na qual disse que sua inclinação é pelo Senado, posto para o qual foi eleito com mais de dez milhões de votos. Os dois, porém, teriam nova conversa entre ontem e hoje.
Se quiser, Mercadante será ministro da Fazenda. Mas, se confirmar a opção pelo Senado, onde seria líder do governo, Palocci deverá chefiar a pasta. Prefeito licenciado de Ribeirão Preto (SP), Palocci terá de renunciar ao cargo.
Coordenador da equipe de transição e ex-coordenador do programa de governo de Lula, Palocci conquistou boa interlocução com o empresariado e com a área econômica do governo. Lula tem dito que ele está se credenciando para o posto. Se não for para a Fazenda, Palocci iria para um Planejamento vitaminado, levando para lá o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), hoje sob o controle do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Genoino e Benedita
José Genoino, que perdeu a eleição para o governo paulista, é dado como certo no ministério, mas não na Defesa. Ele é mais cotado para Justiça, para a prometida Secretaria de Segurança Pública e até para a Secretaria Geral, onde faria dupla com Dirceu no atendimento aos congressistas. Luiz Gushiken também é cotado para a Secretaria Geral ou para uma assessoria-mor de Lula.
Benedita da Silva, governadora do Rio, é ministeriável para a área social. No entanto, pode ficar no segundo escalão, na atual Secretaria de Assistência Social, subordinada ao Ministério da Previdência Social. O Fome Zero não seria coordenado por ela.
Mulher, negra e de origem humilde, seria um símbolo importante no ministério, avalia Lula. Todavia, a necessidade de composição política pode lhe tirar a vaga no primeiro escalão.
Para atender os aliados, Lula deverá riscar de sua lista alguns ministeriáveis petistas. A senadora Marina Silva (PT-AC) é forte candidata ao Meio Ambiente, mas a pressão de aliados por cargos ameaça sua vaga. Ela, mulher e da região amazônica, seria outro símbolo para o ministério.

Pressões
Nos próximos dias, Lula se dedicará a administrar esse jogo de pressões. Deverá, por exemplo, propor participação no governo ao PMDB, como já fez com PPS, PDT, PSB e PTB, que se aliaram a ele no segundo turno. A tendência de Lula é não nomear para o ministério Ciro Gomes (PPS), Leonel Brizola (PDT) e Anthony Garotinho (PSB). Dos três, Ciro tem alguma chance, mas a avaliação de que será um ministro de difícil demissão lhe tira cacife.
Ao PMDB, a idéia é oferecer dois ministérios, além de reafirmar a frágil aliança para as duas Casas do Congresso. A princípio, o PT ficaria com a Câmara, e o PMDB com o Senado. Mas parte da cúpula petista gostaria de trocar de Casas por avaliar que, sem Dirceu, a candidatura do líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP), à presidência da Câmara poderia ser derrotada. Com a difícil troca, Mercadante poderia presidir o Senado.
Para o Ministério da Saúde, a idéia de Lula é indicar um grande nome da área. Fala-se do cardiologista Adib Jatene, ex-ministro de FHC e de Fernando Collor de Mello, e do oncologista Raul Cutait, diretor do Hospital Sírio-Libanês (SP). O secretário da Saúde da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Jorge, está com a cotação em baixa por causa de disputas políticas no PT. No entanto, é um nome que Lula respeita.


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