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Programa habitacional de Lula terá "cara" tucana em SP
Serra fechou acordo para doar terrenos e, em troca, imóveis terão formato da CDHU
Minha Casa, Minha Vida será a grande bandeira da ministra Dilma Rousseff, do PT; São Paulo tem o maior deficit habitacional do país
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das principais bandeiras da pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ao Planalto em 2010, o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV) poderá ter em São Paulo a "cara" das
casas feitas pela gestão estadual, comandada pelo governador José Serra (PSDB), provável adversário da petista na sucessão presidencial.
O acordo fechado entre a
CEF (Caixa Econômica Federal), gestora do MCMV, e o governo de São Paulo é para construir 13.236 unidades para famílias com rendimentos de até
três salários mínimos -um dos
alvos do projeto. As casas ficarão nas cidades com mais de 50
mil habitantes, prioritariamente nas regiões metropolitanas.
Até o fim do mês, São Paulo
promete depositar R$ 25 milhões para a CEF e mais R$ 25
milhões até o fim do ano, uma
espécie de doação para que melhorias sejam feitas nas casas a
serem construídas no Estado.
Dessa forma, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado)
pretende deixar os imóveis
com a sua formatação, o que
pode render lucros políticos.
Além da contribuição financeira, São Paulo vai doar até 53
terrenos para a construção de
casas do programa federal, sendo que 43 já foram desapropriados. "Temos 13 obras já licitadas em alguns desses terrenos", afirma a assessoria de imprensa da companhia.
Entre as mudanças listadas
pela CDHU, estão a construção
de um terceiro dormitório em
parte das casas (o projeto do
MCMV para famílias com até
três salários prevê dois); tamanho maior das casas e do pé-direito; abrigo para botijão de gás;
medição individualizada de
água; paisagismo; piso cerâmico em todos os cômodos, azulejos na cozinha e no banheiro;
laje ou forro de PVC; e aquecedores solares (algo contemplado em algumas casas do projeto
federal). O custo das 13 mil casas será de R$ 800 milhões.
No MCMV, o valor máximo
estipulado para casas destinadas a famílias com renda de até
três salários é de R$ 52 mil.
Com as mudanças, estima-se
uma elevação de até 10%.
Modelo tucano
"Eles querem se contrapor
ao maior projeto de habitação
popular, que é o Minha Casa,
Minha Vida", afirma o deputado estadual Enio Tatto (PT), líder da Minoria na Assembleia
Legislativa. "Fizeram inclusive
um modelo para mostrar a casa
deles. Querem dizer que têm
casas melhores, pois sabem que
o Minha Casa, Minha Vida vai
pegar", complementa.
O deputado petista se refere
a um contrato de R$ 119 mil para a construção de uma casa
modelo no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. O modelo serviria para
mostrar a prefeitos novidades
das casas -como acesso para
deficientes físicos-, mas a
CDHU informa que ele não será mais construído.
O Sinduscon-SP (sindicato
da construção civil) calcula
que, pelo critério do deficit habitacional de cada Estado, São
Paulo ficaria com 18,4% do 1
milhão de casas prometidas pelo MCMV, ou 184 mil unidades.
Segundo o sindicato, a cidade
de São Paulo teria de receber
cerca de 92 mil unidades habitacionais. Presidente do Sinduscon, Sergio Watanabe diz
que o setor privado tem dificuldades em São Paulo para oferecer habitações à faixa de até
três salários mínimos, sobretudo pelo custo dos terrenos.
"O terreno é a parte mais
complicada. Daí a importância
da participação do município
ou do Estado para viabilizar residências à população de mais
baixa renda", diz Watanabe.
"A CDHU preservou a tipologia dela e também a marca. A
parceria é uma forma de atender a política da CDHU e também do Minha Casa. É bom para a população", conclui o presidente do Sinduscon.
Questionado pela Folha, o
secretário da Habitação de São
Paulo, Lair Krähenbühl, disse
que a intenção é "dar contribuições para aperfeiçoar o programa" e que algumas dessas
sugestões já foram acatadas pelo governo federal. "A preocupação que temos é com o tipo
da casa, para evitar problemas
futuros. Estudos mostram que
as famílias acabam gastando
muito quando algumas atitudes não são tomadas na construção", afirmou Krähenbühl.
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