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JANIO DE FREITAS
Quem faz as contas
E por falar em dinheirama no
exterior (ou você, por acaso,
não estava pensando nisso?), a
aplicação no mercado financeiro, também externo, das dezenas de bilhões de dólares da
reserva brasileira constitui o
mais rendoso e mais desconhecido negócio do Brasil. E, com
certeza, um dos mais rendosos
e mais desconhecidos do mundo.
As comissões pela aplicação
dos dólares possuídos pelo Brasil (hoje US$ 42 bilhões, que
eram US$ 75 bilhões até setembro) representam uma enormidade de dinheiro, sobre a qual
não se dispõe das informações
que é justo esperar de qualquer
governo.
Tamanha massa de dinheiro
excita a cobiça dos grandes
bancos aplicadores e corretoras do mundo todo, para participar dos lucros com as operações no mercado financeiro.
Não há, porém, nem a mais tênue clareza sobre a escolha dos
bancos e corretoras internacionais agraciados com o privilégio de operar, mundo afora, as
dezenas de bilhões.
Não consta que haja concorrência para a escolha desses
operadores privilegiados.
Como é feita, então, a escolha?
Mais importante ainda,
quem participa dessa escolha
tão valiosa? Ou, mais claramente, quem a negocia? Não
faltariam por parte dos corretores internacionais, para conseguir os milhões de lucro com
a operação dos bilhões, propostas com vantagens especiais
que são feitas até a investidores privados, desde que mais
abonados do que a média. Que
propostas são feitas, digamos,
ao Brasil?
O destino das reservas é definido, claro, nas culminâncias
do governo. Consta que esse
destino, em termos geográficos,
é a Europa, para evitar riscos
provenientes de dívidas nos Estados Unidos. Mas a aplicação
na Europa não exclui, necessariamente, bancos e corretoras
americanas, também lá instaladas. Por fim, consta que o
grosso dos dólares está em apenas cinco operadores -o que
sugere, entre outras coisas,
uma concentração arriscada.
Mesmo essas aparentes respostas são, na verdade, apenas
perguntas. Nada é claro nas
aplicações externas dos bilhões
cujo sobe e desce está condenando o Brasil a mais anos
perdidos. Ou vidas perdidas.
E por falar em dinheirama no
exterior, há um modo simples
de eliminar, com razoável rapidez, o clima de escândalo e
suspeições que Fernando Henrique Cardoso diz, com o conhecido otimismo, haver chegado já aos limites. Basta-lhe
fazer, agora, a proposta que
Mário Covas fez logo em sua
primeira reação, embora, por
motivos compreensíveis no seu
caso, ninguém se interessasse
por aceitá-la.
É só oferecer uma procuração
plena para verificação, em
Cayman e seus condutos, do
que sugerem o papelório e o
palavrório dominantes. Um
advogado de reconhecida idoneidade, escolhido em comum
por Fernando Henrique e, por
exemplo, pela OAB, por certo
prestaria tal serviço ao país.
Não tem que mexer com propriedade da fazenda ou com o
real valor das quotas da agropecuária Córrego da Ponte
Ltda. Nada disso. Só Cayman e
adjacências.
O Brasil conta com esse gesto.
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