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CASO MARKA
Em livro, ex-banqueiro aponta vazamento de informações privilegiadas e denuncia venda de decisões no TJ do Rio
Foragido, Cacciola aponta esquema no BC
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Salvatore Alberto Cacciola,
-em janeiro de 1999, um banqueiro com um patrimônio de
US$ 100 milhões - foi levado pelo turbilhão da desvalorização
cambial. Quebrou, perdeu o banco Marka, enfrentou uma CPI, foi
acusado de corrupção passiva,
peculato e gestão fraudulenta na
na Justiça. Amargou 37 dias na cadeia, armou uma fuga espetacular
do Brasil e encontrou abrigo na
Itália, país onde nasceu.
O saldo dessa história, além dos
US$ 4 milhões que o ex-banqueiro admite terem lhe restado e que
permitem que viva hoje confortavelmente em Roma, chega às livrarias nesta semana: "Eu, Alberto Cacciola, Confesso - O escândalo do Banco Marka" (Record).
Confissões, poucas há nas 436
páginas do livro. As acusações é
que são muitas. Cacciola, 57, diz
ter certeza da existência de um esquema de venda de informações
privilegiadas no Banco Central na
época da desvalorização, mas nega que tenha feito parte dele.
Afirma ser o "bode expiatório"
do governo federal para esconder
bancos que ganharam muito dinheiro na segunda semana de janeiro de 1999, quando o BC trocou a política de desvalorização
controlada pela livre flutuação.
O governo (não diz quem) protegeria Francisco Lopes, presidente do BC durante a desvalorização, para que calasse sobre os
verdadeiros beneficiários daqueles dias de janeiro. Cacciola diz
acreditar que haja de fato grampos clandestinos que mostrariam
banqueiros recebendo informações privilegiadas que tinham origem em Francisco Lopes. No passado, havia dito que duvidava de
tais fitas. Hoje afirma que um
banqueiro carioca as detém e
usou a imprensa para chantagear
seus sócios com elas. A Folha não
localizou Francisco Lopes para
que comentasse a declaração.
Cacciola acusa um advogado do
Rio de ter tentado achacá-lo e
aponta um suposto esquema de
venda de decisões na Justiça desse
Estado. Batiza ficticiamente o advogado de dr. Lucas o tal advogado, que teria lhe cobrado US$ 600
mil para obter uma decisão favorável no Tribunal de Justiça do
Rio: "Você lá, sabendo que está
sendo vítima de abusos dos procuradores, de maluquices da imprensa, das decisões incompreensíveis dos juízes (...) Aí aparecem
os sanguessugas oferecendo solução para tudo. Claro que a troco
de dinheiro, muito dinheiro", escreve, ou melhor, conta Cacciola.
Na realidade, o livro foi escrito
pelo jornalista Eric Nepomuceno,
tradutor das obras de Gabriel
García Marquez. Foram 40 horas
de conversas em Roma. Em três
meses, Nepomuceno escreveu o
livro, consultando Cacciola sobre
detalhes, operações e pessoas.
A tese da operação de salvamento do Marka é a mesma que
ele apresentou na CPI. Por acreditar que o governo manteria a política de desvalorização lenta, o
banco, na contramão do mercado, comprou contratos em dólar
com vencimento futuro. O fim do
controle do câmbio impossibilitou que cumprisse os valores lá
firmados. Estava quebrado.
Cacciola conta com detalhes como foram os 37 dias que passou
na prisão, na Polícia Federal do
Rio. Diz que sua mulher, Adriana,
dormiu quase todos os dias em
sua cela, o que era proibido. Narra
como fazia almoços espetaculares
para os presos e enumera reformas que comandou na sede da
PF. Um dos acessos do prédio teria sido até batizado de "entrada
Cacciola", por ter sido ele o idealizador e financiador do projeto.
A fuga do Brasil é a parte mais
espetacular do livro. Beneficiado
por um habeas corpus concedido
pelo ministro do STF Marco Aurélio, Cacciola nem pisou em casa.
Driblou a imprensa, usou carro,
helicóptero e avião para sair do
país. Quatro dias depois, o habeas
corpus foi cassado e Cacciola tornou-se um foragido. Já era tarde.
Estava em em Roma, com a certeza de que jamais seria extraditado
por ter nacionalidade italiana.
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