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CPI acaba e poupa petistas do caso dossiê
Relatório final, aprovado por unanimidade, também inocenta ex-ministros da Saúde de participar da máfia dos sanguessugas
Texto não aponta origem do dinheiro e isenta tanto Lula como Aloizio Mercadante de envolvimento com material contra políticos do PSDB
ADRIANO CEOLIN
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CPI dos Sanguessugas foi
encerrada ontem sem sugerir
de forma clara o indiciamento
dos seis principais petistas que
tiveram o nome envolvido na
compra do dossiê antitucano.
Além disso, o relatório final
inocenta quatro ex-ministros
da Saúde de participação na
máfia das ambulâncias.
Apesar de aventar a possibilidade de crime eleitoral cometido pelas campanhas nacional e
paulista do PT, o relatório isenta o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, que disputou a reeleição, e o senador Aloizio Mercadante, candidato derrotado ao
governo de São Paulo.
O documento não aponta
também a origem do dinheiro
usado na negociação do material contra o PSDB. O texto é de
autoria do senador Amir Lando
(PMDB-RO) e foi aprovado por
unanimidade pela CPI.
Ao ler um resumo das 981 páginas do relatório, Lando disse:
"Propõe-se que sejam os autos
enviados ao Ministério Público
para promover o indiciamento,
por crime de formação de quadrilha, de Gedimar Passos, Valdebran Padilha, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas e Expedito Veloso".
No relatório, contudo, a redação não é explícita quanto a
uma recomendação de indiciamento a ser tomada pelo Ministério Público. "Eis que, assim, esta CPI vislumbra a ocorrência do crime de formação de
quadrilha, previsto no artigo
288 do Código Penal."
Questionado sobre a divergência entre o resumo e o relatório, o senador reconheceu
que a palavra "vislumbra" foi
escolhida por não haver, em
sua opinião, elementos para tipificar a participação dos seis
petistas envolvidos.
"Foi difícil configurar a materialidade. De fato, não temos
prova quanto à formação de
quadrilha porque também não
ficou esclarecido o crime cometido", disse Lando depois.
A oposição queria um texto
mais objetivo. "Na hipótese de
que surjam provas de que os valores destinados à aquisição do
dossiê originaram-se do caixa
de campanha ou de recursos
partidários, configurar-se-ia
infração eleitoral de abuso do
poder econômico", diz o texto.
Lorenzetti, ex-coordenador
do setor de inteligência da campanha de Lula, foi apontado pela PF como o "articulador" da
operação de compra do dossiê,
auxiliado por Bargas, Veloso,
Expedito e Gedimar -os quatro trabalhavam para a campanha presidencial. Lacerda, ex-coodenador da campanha de
Mercadante, foi identificado
como quem levou o dinheiro a
Gedimar e Valdebran ao hotel.
Além de formação de quadrilha, a oposição queria que o relatório imputasse aos seis petistas o crime de lavagem de dinheiro, mas isso não foi citado.
Ex-ministros
Classificada como a segunda
fase da CPI, a investigação sobre a participação do Executivo
na máfia das ambulâncias não
conseguiu provar o envolvimento de nenhum dos quatro
ex-ministros da Saúde citados
ao longo das investigações.
Do governo FHC (1995-2002), foram mencionados no
início das denúncias os ex-ministros José Serra (PSDB) e
Barjas Negri (PSDB). Do governo Lula, Humberto Costa (PT)
e Saraiva Felipe (PMDB).
O relatório descreveu dois
casos de tráfico de influência
que teriam ocorrido nos dois
governos. Segundo a CPI, na
gestão tucana, o esquema teria
sido executado sob o comando
do empresário Abel Pereira.
Ele é acusado de ter feito
lobby para liberar recursos da
Saúde para a compra de ambulâncias de empresas ligadas aos
Vedoin. Por isso o relatório solicita que Pereira seja indiciado
pelo Ministério Público.
Durante o governo Lula, o esquema de tráfico de influência
teria sido comandado por José
Airton Cirilo, dirigente do PT
do Ceará. Segundo o relatório,
ele também teria atuado na liberação de recursos da Saúde
para compra de ambulâncias
dos Vedoin. Com Cirilo, participariam do esquema Raimundo Lacerda e José Caubi Diniz.
O relatório também recomenda o indiciamento dos três.
Porém, diferentemente do caso
dos seis petistas, a redação é
clara: "Recomenda-se o encaminhamento dos autos desta
CPI ao Ministério Público para
que proceda ao indiciamento
pelos delitos respectivamente
praticados", diz o texto.
Em relatório preliminar de
agosto, a CPI pediu abertura de
processo de cassação contra 69
deputados e três senadores supostamente envolvidos com os
sanguessugas. Seus nomes não
foram repetidos porque a CPI
disse ratificar a decisão anterior. Vários deles foram absolvidos nos conselhos de Ética da
Câmara e do Senado; nenhum
deles foi julgado em definitivo.
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