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PF pode não chegar à origem do dinheiro, admite agora Bastos
Para ministro da Justiça, será muito difícil que agentes descubram de onde veio o R$ 1,7 milhão para o dossiê
Em SP, Superintendência Regional da PF informou que o delegado que preside o inquérito deverá entregar relatório no próximo dia 22
PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admitiu
ontem que a Polícia Federal pode nunca chegar a descobrir
qual a origem do R$ 1,7 milhão
apreendido num hotel em São
Paulo para comprar o dossiê
contra políticos tucanos. "Faz
parte da vida", disse o ministro,
em entrevista a rádios.
"A origem do dinheiro é difícil. A Polícia Federal está fazendo um trabalho minucioso,
abrindo dezenas de pistas.
Acredito que vá chegar a uma
solução, mas pode não chegar
também, isso faz parte da vida",
afirmou Thomaz Bastos, que
vai deixar o cargo ao final do
atual mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro defendeu que a
maior parte da operação da PF
já foi bem-sucedida, mesmo
sem a origem do dinheiro.
"Não são todas as operações
que dão certo, e, no fundamental, essa daqui já deu certo. Já se
descobriram os autores, quem
fez, como fez, quando fez. A origem do dinheiro algumas vezes
não se consegue. Estamos torcendo, a Polícia Federal se sente emulada, desafiada. Era dinheiro vivo, o ideal era que tivesse havido uma confissão,
não houve", afirmou Bastos.
O escândalo do dossiê veio à
tona duas semanas antes do
primeiro turno da campanha
eleitoral. A foto da montanha
de dinheiro só apareceu dois
dias antes da votação e seu surgimento foi apontado como um
dos fatores que levaram a disputa para o segundo turno.
A pergunta: "Lula, de onde
veio o dinheiro", virou uma espécie de bordão do candidato
do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, que acabou derrotado por Lula. A pergunta não
foi respondida até agora, o que
gerou críticas de que a PF agiu
para proteger Lula.
Bastos refuta a avaliação.
"Essas afirmações de que a PF
estaria protegendo ou perseguindo alguém ou tentando encobrir são resultado dessas licenças poéticas que são normais numa campanha", disse.
"Essas imputações se devem
à paixão eleitoral. O fato é que,
concretamente, o que aconteceu foi que a PF pegou o sujeito
que vinha trazendo o dossiê de
Cuiabá, pegou os rapazes, os caras, que estavam com o dinheiro, desvendou a cadeia causal,
ficou sabendo em menos de um
mês quem tinha participado
daquilo tudo. Agora, não descobriu ainda a origem do dinheiro. Por quê? Porque a origem
do dinheiro é difícil", afirmou.
Bastos sempre difundiu a
opinião de que, no atual governo, a Polícia Federal tem uma
atuação "republicana", que não
persegue nem protege ninguém. "A nossa idéia é que a Polícia Federal se torne um FBI
brasileiro, uma polícia de ponta, que não tem medo de cortar
na própria carne."
O encontro entre o ministro
e o presidente Lula, marcado
para ontem, foi adiado para a
próxima segunda.
Origem
Em São Paulo, a Superintendência Regional da PF informou, em nota, que o delegado
de Cuiabá (MT) que preside o
inquérito do caso, Diógenes
Curado, deverá entregar à Justiça Federal o relatório final da
apuração no dia 22.
O delegado ouviu, em São
Paulo, seis pessoas entre ontem
e anteontem, das quais quatro
são petistas. Também foi ouvido o tesoureiro da empresa de
transporte de valores Transbank. Não houve identificação
da origem do dinheiro. "Pelo
depoimento não se determinou
em qual agência ou instituição
bancária teria sido sacado o dinheiro, constatando-se, porém,
ser bastante remota a hipótese
de que o numerário seria destinado à incineração", diz a nota.
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