São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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PF pode não chegar à origem do dinheiro, admite agora Bastos

Para ministro da Justiça, será muito difícil que agentes descubram de onde veio o R$ 1,7 milhão para o dossiê

Em SP, Superintendência Regional da PF informou que o delegado que preside o inquérito deverá entregar relatório no próximo dia 22


PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admitiu ontem que a Polícia Federal pode nunca chegar a descobrir qual a origem do R$ 1,7 milhão apreendido num hotel em São Paulo para comprar o dossiê contra políticos tucanos. "Faz parte da vida", disse o ministro, em entrevista a rádios.
"A origem do dinheiro é difícil. A Polícia Federal está fazendo um trabalho minucioso, abrindo dezenas de pistas. Acredito que vá chegar a uma solução, mas pode não chegar também, isso faz parte da vida", afirmou Thomaz Bastos, que vai deixar o cargo ao final do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro defendeu que a maior parte da operação da PF já foi bem-sucedida, mesmo sem a origem do dinheiro.
"Não são todas as operações que dão certo, e, no fundamental, essa daqui já deu certo. Já se descobriram os autores, quem fez, como fez, quando fez. A origem do dinheiro algumas vezes não se consegue. Estamos torcendo, a Polícia Federal se sente emulada, desafiada. Era dinheiro vivo, o ideal era que tivesse havido uma confissão, não houve", afirmou Bastos.
O escândalo do dossiê veio à tona duas semanas antes do primeiro turno da campanha eleitoral. A foto da montanha de dinheiro só apareceu dois dias antes da votação e seu surgimento foi apontado como um dos fatores que levaram a disputa para o segundo turno.
A pergunta: "Lula, de onde veio o dinheiro", virou uma espécie de bordão do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, que acabou derrotado por Lula. A pergunta não foi respondida até agora, o que gerou críticas de que a PF agiu para proteger Lula.
Bastos refuta a avaliação. "Essas afirmações de que a PF estaria protegendo ou perseguindo alguém ou tentando encobrir são resultado dessas licenças poéticas que são normais numa campanha", disse.
"Essas imputações se devem à paixão eleitoral. O fato é que, concretamente, o que aconteceu foi que a PF pegou o sujeito que vinha trazendo o dossiê de Cuiabá, pegou os rapazes, os caras, que estavam com o dinheiro, desvendou a cadeia causal, ficou sabendo em menos de um mês quem tinha participado daquilo tudo. Agora, não descobriu ainda a origem do dinheiro. Por quê? Porque a origem do dinheiro é difícil", afirmou.
Bastos sempre difundiu a opinião de que, no atual governo, a Polícia Federal tem uma atuação "republicana", que não persegue nem protege ninguém. "A nossa idéia é que a Polícia Federal se torne um FBI brasileiro, uma polícia de ponta, que não tem medo de cortar na própria carne."
O encontro entre o ministro e o presidente Lula, marcado para ontem, foi adiado para a próxima segunda.

Origem
Em São Paulo, a Superintendência Regional da PF informou, em nota, que o delegado de Cuiabá (MT) que preside o inquérito do caso, Diógenes Curado, deverá entregar à Justiça Federal o relatório final da apuração no dia 22.
O delegado ouviu, em São Paulo, seis pessoas entre ontem e anteontem, das quais quatro são petistas. Também foi ouvido o tesoureiro da empresa de transporte de valores Transbank. Não houve identificação da origem do dinheiro. "Pelo depoimento não se determinou em qual agência ou instituição bancária teria sido sacado o dinheiro, constatando-se, porém, ser bastante remota a hipótese de que o numerário seria destinado à incineração", diz a nota.


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