São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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Presos pela PF aceitam a delação premiada

Dos 104 presos pela Operação Rapina, 73 optaram pelo benefício que reduz a pena caso ajude na elucidação do crime

Para a PF, parte das verbas supostamente desviadas por nove prefeitos do Maranhão bancou a campanha eleitoral de candidatos no Estado

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS

SILVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

Pelo menos 70% dos presos suspeitos de desviar dinheiro público da União por meio de fraudes em licitações no Maranhão aceitaram a delação premiada, benefício pelo qual indiciados ou acusados podem reduzir eventuais penas se ajudarem na elucidação de crimes.
"Ninguém foi condenado ainda, mas os indícios são muito fortes. Se aceitaram o benefício da delação premiada é porque, certamente, têm muito a dizer", afirmou o superintendente da Polícia Federal no Maranhão, Gustavo Gominho.
Ontem à tarde, mais sete suspeitos foram presos. No total, até as 20h de ontem, havia 86 detidos em São Luís -sendo oito prefeitos-, 17 em Teresina (PI) e um em Parnaíba (PI). Dos 104 presos até ontem na Operação Rapina, 73 concordaram com a delação premiada.
De acordo com investigação da PF e da CGU (Controladoria Geral da União), os suspeitos são gestores públicos, contadores, empresários e técnicos do Tribunal de Contas do Maranhão. A estimativa é que tenham desviado cerca de R$ 1 bilhão dos cofres públicos nos últimos dez anos.

Campanhas políticas
Parte das verbas supostamente desviadas por nove prefeitos do Maranhão bancou campanhas, de acordo com gravações autorizadas pela Justiça e com cruzamentos de dados entre a PF e a CGU.
Um dos casos que evidenciam a irregularidade envolve um prefeito e um candidato a deputado estadual nas eleições de 2006, cujos nomes a PF não revelou. Em uma das gravações, o prefeito -que teria desviado verba da saúde para a campanha -combina com o candidato uma justificativa para burlar a fiscalização.
Além de documentos, lanchas, armas e carros de luxo, os policiais que participaram da ação apreenderam cerca de US$ 20 mil em dinheiro (aproximadamente R$ 37,5 mil) e mais R$ 138 mil.
Na casa de um dos três servidores do Tribunal de Contas do Maranhão detidos, houve apreensão de R$ 70 mil em dinheiro -o salário bruto do funcionário é de R$ 5.000. A PF não divulga o nome do suspeito porque o inquérito corre em segredo de Justiça.
O prefeito de Araioses, José Cardoso do Nascimento (PSC), 82, foi detido junto com a mulher e a filha anteontem. Ainda na cidade, a PF disse ter encontrado na casa da presidente da comissão de licitação da prefeitura, Vilenice Carvalho da Costa, R$ 63,2 mil em dinheiro, em cédulas dentro de uma garrafa plástica de refrigerante.
Para justificar os desvios, segundo a PF, os prefeitos inventavam projetos e firmavam convênios com a União para a execução das obras. "Quando os recursos chegavam ao caixa, os prefeitos sacavam tudo e depois investiam em patrimônio, comprando apartamentos, carros e lanchas."
Empresas fantasmas e outras que funcionam legalmente emitiam notas fiscais para comprovar as despesas. "Tem empresa legal, registrada, que apenas vendia a nota fiscal em troca de comissão. O resto era embolsado pelos prefeitos", afirmou Gominho.


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