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"Todos perguntavam: onde está a dra. Zilda?", diz freira que acompanhava médica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
DA ENVIADA A CURITIBA
Foi por poucos minutos
que Zilda Arns não escapou
da morte no terremoto do
Haiti. Faltavam apenas alguns metros para a médica
sanitarista e fundadora da
Pastoral da Criança deixar a
igreja em que havia acabado
de dar uma palestra e ganhar
as ruas de Porto Príncipe.
O relato é da religiosa Rosângela Maria Altoé, 56, que
trabalhava com Zilda e estava
com ela na hora do acidente.
A médica havia acabado de falar para cerca de 150 pessoas,
a maioria padres, e conversava com um deles quando o
chão tremeu, ouviu-se um estrondo e parte do teto cedeu.
Eles estavam no terceiro e
último andar do local em que
funcionava um centro de formação da igreja. Além de Zilda, 16 sacerdotes que estavam
no prédio morreram.
"É uma cena que eu nunca
vou esquecer", disse Rosângela, que escapou com apenas
um ferimento na mão esquerda e hematomas nas pernas.
"Por uma questão de cinco
minutos ela não estava fora
da igreja", disse, ao desembarcar na madrugada de ontem em Brasília de avião da
FAB (Força Aérea Brasileira)
que trouxe o corpo de Zilda.
"Eu não sei como consegui
escapar. Eu fui pulando", comentou mais tarde, já no funeral de Zilda, em Curitiba.
As duas trabalhavam juntas
havia 11 meses. Na viagem,
Rosângela era o braço direito
da médica, função que acabou
ajudando a salvar sua vida.
"A dra. Zilda estava conversando com o padre. Virei para
pegar uma bolsa, CDs e DVDs
com nosso material, que estavam no chão. Eu me abaixei, e
o teto desabou. Só ouvi um estrondo, parecia uma bomba",
disse. "Se eu estava a dois metros dela [Zilda], era muito."
Segundos depois, segundo
ela, a laje começou a inclinar e
ceder. Rosângela escorregou
sobre a laje, até chegar a um
buraco que havia sido aberto
na parede e conseguir sair.
"Subiu uma nuvem de poeira e a gente não via mais nada.
Eu só escutava o grito das
crianças, choro, o pavor de
mães e pais gritando por seus
filhos." Havia uma escola ao
lado do prédio. Dezenas de
crianças foram soterradas.
Rosângela só deu pela falta
da médica quando saiu à rua e
não a viu. "Eu tentei voltar [à
igreja]. Eu tentei encontrá-la,
ir onde ela estava.Todos perguntavam: onde está a dra.
Zilda, onde está a dra. Zilda?"
A freira e os outros sobreviventes, entre eles três soldados brasileiros, tentaram voltar ao que restou do prédio
em busca de Zilda e de outras
pessoas, mas desistiram após
novos tremores de terra.
O corpo de Zilda, segundo o
senador Flávio Arns (PSDB),
sobrinho da médica, foi encontrado na manhã de quarta
graças à ajuda do padre que
estava com ela. Só os pés estavam para fora dos escombros.
Zilda, segundo a freira, fez
sua última palestra "com
muito entusiasmo". "Cada
pergunta era feita em crioulo,
e tinha que ser traduzida. Mas
ela sempre teve muita paciência."
(FÁBIO ZANINI, ESTELITA HASS CARAZZAI e ANA FLOR)
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