São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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Parlamentar é popular no baixo clero

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para presidente da Câmara deveu-se em parte à popularidade que tem entre os congressistas do chamado baixo clero.
Não há no Congresso quem consiga explicar como ou quando a expressão começou a ser usada para designar os cerca de 400 deputados (de um total de 513) que quase nunca aparecem na mídia. É mais fácil identificar quem são eles e como atuam.
Os integrantes do baixo clero são quase todos os que não têm cargos formais dentro da Câmara nem conseguem visibilidade por seu histórico na política. Nunca são procurados para entrevistas na TV. Não recebem projetos para relatar. Não são líderes nem vice-líderes. Não estão na Mesa Diretora da Casa. A rigor, são deputados sem importância política.
Enquanto os deputados mais famosos conseguem manter o nome em evidência por ocuparem cargos de alguma relevância na Câmara, o deputado do baixo clero só fica com uma saída para manter-se ativo para a eleição seguinte: obter e levar verbas para as cidades de sua base eleitoral.
A fórmula é simples. A cada final de ano o deputado se esforça para enfiar no Orçamento da União uma emenda sobre uma obra na sua comunidade eleitoral. A inclusão da emenda abre espaço para o passo seguinte: publicar em algum jornal local que a obra será construída, mas é necessário dar apoio ao deputado para que ele "lute pela liberação da verba".
O próximo capítulo é visitar ministérios, pedindo a liberação do dinheiro. Há várias fases. Primeiro, a aprovação do projeto. Depois, as licenças dos órgãos afins, por exemplo o Ibama. Em seguida, ministros têm de estar de acordo. Se tudo der certo, o valor, ou parte, é empenhado. Significa que está pronto para sair. A liberação é o final da novela. Durante a seqüência, o deputado terá chances de ameaçar o Planalto com votos contrários na Câmara.
A falta de apoio do governo Lula aos deputados teria sido, na versão do baixo clero, um dos estopins da eleição de Severino. Um dos itens de sua plataforma como presidente é fazer com que os deputados passem a ser mais bem recebidos pelo Executivo.
De sexta-feira até as 17h de ontem, os deputados patrocinaram 26 mudanças de partido com o objetivo de abocanhar comissões permanentes e mais estrutura e verbas para os gabinetes das lideranças partidárias. (FR)


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