São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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A REVANCHE DOS 300

Presidente e deputado discordam sobre a derrota na eleição da Câmara dos Deputados; para Lula, a disputa foi democrática

Lula culpa partido, e Greenhalgh, o governo

Eduardo Knapp/Folha Imagem
O presidente Lula, que teve seu candidato na Câmara derrotado, é recebido em Georgetown, na Guiana


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GEORGETOWN

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), candidato oficial do PT que perdeu o segundo turno da eleição para a presidência da Câmara, discordaram ontem sobre quem havia saído derrotado da urnas. Enquanto Lula, em Georgetown, atribuía o fracasso ao partido, Greenhalgh afirmava que o derrotado era o governo.
Segundo o presidente, em visita oficial à Guiana, o Planalto não foi derrotado na disputa que terminou na madrugada de ontem porque "não disputou a eleição, quem disputou foi o PT".
Já Greenhalgh culpou o governo por sua inesperada derrota. Ele considerou que o Executivo se relacionou mal com a Casa, que os líderes aliados não conseguiram controlar suas bancadas e que a oposição aproveitou para antecipar as eleições de 2006.
"Eu perdi as eleições mas a derrota é destinada ao governo. O voto que me derrotou foi o voto da insatisfação do tratamento que os parlamentares receberam do governo, mais o voto da oposição, que, passando por cima dos costumes da Casa, quis antecipar o processo eleitoral de 2006", disse o deputado petista, após a sessão de abertura do Congresso.
Para Lula, a derrota do PT foi resultado de uma ação democrática. "Houve uma votação, ganhou quem teve mais voto."
O presidente disse ainda que o recém-eleito Severino não vai criar nenhum problema para o governo federal. "Já telefonei para ele hoje [ontem]. O deputado sempre votou com o governo, sempre fez parte da bancada do governo e acho que a divisão interna acabou quando o resultado foi proclamado", afirmou.
Lula disse ainda que todos os projetos de interesse do país serão votados normalmente, como aconteceu durante a gestão de João Paulo Cunha (PT-SP). "A Câmara não funciona assim", disse, ao ser indagado se o governo poderia ter dificuldades em razão da vitória do pepista.

Olheiras
Com olheiras profundas e gesticulação nervosa, Greenhalgh insistiu em transferir o ônus da sua derrota ao governo: "O Poder Executivo tem que rever o tipo de relacionamento que tem com os parlamentares. E acho que os líderes partidários têm que rever o relacionamento que têm com suas bancadas", completou.
Ele não quis prolongar a entrevista, dizendo estar cansado. Apesar disso, se esforçou para demonstrar bom humor e aceitação.
Essa explicação resume os dois principais pontos do balanço da derrota para um candidato até então considerado inexpressivo.
Primeiro, o governo confiou nas lideranças partidárias da base ao fazer a contabilidade de votos para Greenhalgh, ignorando os sinais de desarticulação partidária. Segundo, subestimou a força do do chamado "baixo clero".
Num primeiro momento, esse grupo impulsionou a candidatura do dissidente petista Virgílio Guimarães. Depois migraram para a candidatura avulsa de Severino. Ambos, de fato, tinham um acordo pré-eleitoral de mútuo apoio para um segundo turno.
Virgílio não foi à sessão de ontem à tarde. Porém, quando a apuração foi concluída ontem pela manhã, se eximiu de ter sido pivô na derrota do governo: "Política é como nuvem. Cada um enxerga o que quer".
Lula passou grande parte da madrugada de ontem acompanhando a votação pela internet e mantendo contatos com o ministro José Dirceu (Casa Civil). Ele foi dormir pouco antes da realização do segundo turno e recebeu a informação da vitória de Severino pela manhã. Antes de tomar o café, telefonou para os ministros Dirceu e Aldo Rebelo (Coordenação Política), a quem disse, após reconhecer a maior derrota política do governo, caber apenas respeitar a decisão da Câmara.


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