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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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"Loteamento virtual" do governo fracassa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O governo Luiz Inácio Lula da Silva tentou inovar no preenchimento dos cargos federais nos Estados criando um portal na internet para que as principais lideranças políticas aliadas fizessem diretamente suas indicações.
Mas em vários Estados as decisões acabaram sendo tomadas em reuniões entre parlamentares dos partidos aliados, com a intermediação da direção nacional do PT. O mesmo esquema usado nos últimos quatro governos.
O excesso de nomes indicados, o surgimento de aliados de última hora e as disputas internas dentro do PT impediram o "loteamento virtual" do governo Lula.
Em dezembro, o governo de transição distribuiu senhas da página da internet para presidentes de diretórios regionais do PT, governadores, senadores, deputados federais, um representante de cada bancada estadual e mais o coordenador da campanha de Lula no Estado.
Os petistas tinham liberdade para indicar nomes a qualquer cargo. Os únicos vetos, segundo o PT, eram as pessoas que participaram do regime militar, que respondem a processos ou que são suspeitos de corrupção.
A voracidade dos petistas por cargos, porém, fez o sistema naufragar. Apenas no Rio de Janeiro, por exemplo, foram indicados 304 nomes para 258 cargos. Em média, há entre 150 e 200 cargos federais em cada Estado, o que totaliza cerca de 5.000 postos de interesse político no país. O número total de cargos de confiança da máquina pública aproxima-se de 22 mil. Mas a maioria não atrai interesse dos partidos e é preenchida por funcionários de carreira.
Fracassado o esquema virtual, a direção nacional do PT orientou os líderes regionais que reunissem os aliados e tentassem fechar acordos nos Estados. Em alguns Estados isso foi possível, como em Santa Catarina. Mas na maioria as negociações chegaram a um impasse que exigiu a intervenção do presidente do PT, José Genoino, como na Bahia, no Paraná, em Rondônia e no Mato Grosso.
Uma vez fechada a lista de indicações do Estado, ela é remetida à Casa Civil, que analisa os nomes e a encaminha aos ministérios.
Um caso conflituoso foi o do Porto de Santos. A deputada Telma de Souza (PT), ex-prefeita da cidade, pleiteava a presidência da Companhia das Docas, mas foi preterida por Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Com o apoio de deputados, prefeitos e vereadores do PT, Telma foi procurar José Dirceu (Casa Civil) e tentou, sem sucesso, reverter a decisão. Como compensação, ganhou duas diretorias do porto.
A presidente do PT-RO, senadora Fátima Cleide, estava com as indicações quase prontas quando teve de recomeçar para atender indicações dos deputados Nilton Capixaba (PTB) e Agnaldo Muniz (PPS). "Eles disseram que o que importa é quem aperta o botão", disse Fátima, em uma referência às votações que o governo enfrentará no Congresso.
(LUCIO VAZ, OTÁVIO CABRAL e RAYMUNDO COSTA)


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