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ELIO GASPARI
A diplomacia da megalomania
O melhor negócio do mundo é comprar a política externa de Lula pelo que ela vale e
vendê-la pelo preço que sua propaganda apregoa.
O companheiro construiu uma
parceria estratégica com a China. Jogou o Brasil na defesa da
política de direitos humanos de
Pequim. Afora outras práticas,
como o comércio de órgãos de
presos fuzilados, trata-se de uma
ditadura high-tech: limita o
acesso de seus cidadãos à internet e, segundo uma pesquisa de
2004, há cerca de 20 mil páginas
bloqueadas pela censura, que
iguala notícias como a morte de
um ex-dirigente político e pornografia.
Pode-se argumentar que o
Brasil não tem nada a ver com os
direitos humanos dos chineses.
Como diria o camarada Deng
Xiaoping, não importa se o gato
é branco ou preto, importa que
coma os ratos. No caso, importaria apenas que a China é um
grande mercado para os produtos brasileiros.
Como dizia a "Canção do Subdesenvolvido", o hino antiamericano dos anos 60, de Carlos
Lyra e Francisco de Assis:
"Começaram a nos vender e
nos comprar
(...)Comprar minério, vender
navio".
Pois é, em 2005, "a terra de
amores, alcatifada de flores",
vende minério aos chineses e deles compra aparelhos eletrônicos, produtos químicos e componentes de computador. Depois
que Lula visitou Pequim, em
abril de 2004, os chineses ganharam um refresco comercial. Suas
exportações para o Brasil cresceram 83% em um ano. A importação de móveis aumentou 96%.
Nos dois primeiros meses de
2005 as vendas chinesas cresceram 55%, enquanto as brasileiras ficaram em 5,5%, muito
abaixo do aumento médio das
exportações nacionais. Se ninguém fizer nada, a parceria estratégica do Brasil com a China
fecha 2005 com déficit comercial.
Lula considera-se um novo patriarca da integração latino-americana. Azedou a relação
com a Argentina, foi deixado
meio de lado pelos presidentes
Ricardo Lagos, do Chile, e Vicente Fox, do México. Não conseguiu que o presidente Tabaré
Vazques retirasse a candidatura
de um diplomata uruguaio conservador e pró-americano à direção da Organização Mundial
do Comércio. Fechou uma aliança com o coronel Hugo Chávez e
com o comandante Fidel Castro.
Bom proveito. Depois deles, o
presidente que mais confetes joga em Lula é George Bush. Tudo
o que ele quer na vida é um presidente brasileiro que manda
tropas para o Haiti, congela o
apoio à renegociação da dívida
argentina e é visto como um
quindim pelo FMI e como um esquerdista pelo "New York Times".
O programa mundial de combate à fome lançado por Lula na
ONU embute a idéia de um imposto transnacional que provoca
dois tipos de reação. É apoiado
por quem sabe que um negócio
desses não fica em pé ou é condenado por quem não pode brincar com os impostos de seu povo.
(Bush e Tony Blair, por exemplo.)
A política externa de Lula está
mais para banda de rock do que
para atividade diplomática. Sua
dimensão internacional foi reconhecida por Bono Vox, o roqueiro do grupo U2, que lhe atribuiu
a mudança da agenda do Fórum
Mundial de Davos. Pode até ser
verdade, mas para quem tem
Gilberto Gil, Bono não acrescenta muita coisa.
Serviço: quem quiser ouvir a
"Canção do Subdesenvolvido"
pode passar na página do jornalista Franklin Martins, cujo endereço é o seguinte:
http://franklinmartins.globo.com/cgi-bin/franklinmartins/somnacaixa.cgi?ID= 00106&PG=10
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