São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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"MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES

Câmara segue recomendações do conselho e cassa 3º "mensaleiro"

Presidente do PP é cassado; ex-líder do partido é absolvido

FÁBIO ZANINI
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Câmara ontem resolveu seguir as recomendações do Conselho de Ética e cassou o deputado e presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), pouco após absolver o ex-líder do partido na Casa Pedro Henry (MT). Corrêa foi cassado numa votação apertada: foram 261 votos pela cassação, apenas quatro a mais que o número mínimo, e 166 deputados votaram pela absolvição.
O placar do "mensalão" tem agora cinco absolvições: além de Henry, escaparam Prof. Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Sandro Mabel (PL-GO).
Com a cassação de Corrêa, são agora três os punidos por envolvimento no escândalo, os outros dois sendo os personagens principais da crise, Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP).
Renunciaram quatro parlamentares -Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA)- e sete ainda precisam ser julgados.
Henry venceu com ampla margem. Foram 255 votos contra a cassação e somente 176 pela perda de mandato, bem abaixo do mínimo de 257 necessários.
Alguns deputados mostraram a cédula ao colocá-la na urna, num protesto contra o voto secreto em cassações. Parlamentares do PSOL também fizeram manifestação, abrindo uma faixa verde e amarela onde se lia: "Não ao acordão! Sim à cassação!"
Os dois resultados eram esperados. O caso contra Henry nunca chegou a empolgar a Câmara. Prova disso foi o fato de o discurso de defesa ter sido acompanhado por um plenário esvaziado, com pouquíssimos deputados interessados no que se passava.
Henry fez um discurso de defesa baseado na falta de provas em seu processo. ""Defender-se de uma acusação falsa deveria ser tarefa mais fácil. Mas no mundo atual a suspeição impede que a verdade seja ouvida", afirmou o ex-líder.
A principal peça de acusação contra ele era a palavra de Jefferson. O deputado cassado, na entrevista dada à Folha em junho do ano passado que deflagrou a crise política, acusou Henry de ter tentado cooptar dois deputados do PTB oferecendo a eles "mensalão". O pepista também teria reclamado com o líder do PTB, José Múcio (PE), pelo fato de os petebistas não estarem recebendo repasses do governo. Mas o próprio Múcio negou essa versão.
As evidências ficaram nisso. Nunca apareceu uma prova material ligando Henry à compra de deputados ou ao financiamento irregular de campanha.
Isso enfraqueceu os argumentos pela cassação e foi usado várias vezes por ele ontem em sua defesa. "As provas contra mim não existem porque os atos a mim imputados são falsos."

Presidente do PP
Já o caso contra Corrêa sempre foi considerado um dos mais fortes. Em parte, ele foi punido por liderar um dos partidos mais identificados com o esquema do "mensalão". Foram R$ 4,1 milhões que abasteceram a legenda. A versão dada para uma parte dos gastos (R$ 700 mil), para pagar despesas com advogado ao ex-deputado Ronivon Santiago (AC), foi considerada inverossímil.
Corrêa também respondeu a uma necessidade da Câmara de oferecer um "peixe grande" à degola após o mal-estar com as absolvições da semana passada.
Em seu discurso, o pepista reclamou de estar sendo injustiçado pelo "implacável massacre e insaciável apetite da mídia". "Alguns setores da mídia exigem a decapitação, não importando se há provas ou não. De nada vale a biografia do acusado", disse. Na verdade, a biografia do deputado, que já se envolveu em outros escândalos, foi apontada por parlamentares como motivo para cassá-lo.
Apesar disso, Corrêa procurou de todas as formas se salvar. Anteontem à noite, encontrou-se com a bancada do PL, mas o apoio do partido, também fortemente identificado com o "mensalão", não foi suficiente.


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