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Mulheres contra a corrupção
As procuradoras da República Raquel Dodge e Deborah Duprat comandam as investigações
do mensalão do DF
Alan Marques - 4.mar.10/ Folha imagem
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Raquel Dodge, que pediu a prisão de Arruda
LUCAS FERRAZ
FERNANDA ODILLA
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As investigações do mensalão do DEM, em Brasília, alçaram aos holofotes as procuradoras da República Raquel
Dodge, 48, e Deborah Duprat,
50. As "damas de ferro" do Ministério Público Federal são
definidas por colegas, advogados e juízes como sérias, dedicadas e rigorosas.
Dodge e Duprat tiveram papel central na inédita prisão de
um governador por suspeita de
corrupção. A primeira pediu a
detenção de José Roberto Arruda, sob a acusação de ter tentado impedir a apuração do esquema de propina e compra de
apoio político no governo do
Distrito Federal. A segunda
sustentou a necessidade de
mantê-lo preso perante o STF
(Supremo Tribunal Federal).
Em comum, têm a militância
pelos direitos humanos e uma
coleção de ações contra políticos acusados de corrupção. E
são amigas -Duprat é madrinha de casamento de Dodge.
"Elas são empenhadas na
busca por correção de rumos",
diz Marco Aurélio Mello, ministro do STF, que já foi chefe e
professor de Raquel Dodge.
Subprocuradora-geral da República, Dodge foi uma das responsáveis pela primeira condenação do ex-deputado Hildebrando Pascoal, que assassinou
um mecânico com motosserra
no Acre em 1996. Atuou também no combate ao crime organizado no Espírito Santo, levando à prisão o então presidente da Assembleia, José Carlos Gratz, em 2003.
Reservada e discreta -amigos dizem que ela nunca altera
o tom de voz-, Raquel Dodge
não teme pressões. Nem mesmo as ameaças de Hildebrando
Pascoal no período em que
amamentava a filha caçula a fizeram abandonar o caso ou
mudar de profissão.
"Ela age como pensa", afirma
a amiga de mais de 30 anos Maria Oliveira Cerejo, assessora
no STF, garantindo que Dodge
sempre foi uma pessoa "de opiniões firmes e claras". A ponto
de, no auge da investigação do
mensalão do DEM, ter acionado o procurador Alexandre Camanho para resolver a situação
dos índios no sul da Bahia, onde
estavam em pé de guerra.
A sala de Dodge, antes de ser
promovida a subprocuradora,
era famosa pelos adornos indígenas e pelo mapa indicando a
localização exata de todas as
tribos. Procurada pela Folha,
ela não quis ser entrevistada.
Por meio da assessoria, disse
que prefere o anonimato.
Hippie
Assim como a amiga, a atual
vice-procuradora-geral da República Duprat também é apaixonada pela questão indígena,
tema que a fez entrar para o Ministério Público. Ela conta que
frequentemente viaja para reservas indígenas. Sobre a paixão pelos índios, diz: "Acho que
é uma fantasia. Vem daquela
coisa de querer viver numa
praia cheia de índios".
Ela também atuou em casos
rumorosos contra políticos.
Denunciou Ivo Cassol, governador de Rondônia que ainda
hoje responde a processos na
na Justiça. Coordenou vários
inquéritos contra o ex-aliado e
agora inimigo de Arruda, Joaquim Roriz (PSC), acusado de
crimes como corrupção.
Duprat já defendeu a legalidade da marcha da maconha e a
união civil de homossexuais.
"Sou alternativa, um pouco
hippie. Sou uma pessoa mais
década de 60", define-se.
Nos tribunais, a "cotação" da
vice-procuradora está em alta.
Colegas de profissão e ministros do STF ouvidos pela Folha
destacam o charme de Duprat,
que corre regularmente (de 7
km a 8 km) e pratica hipismo
montando o próprio cavalo, um
puro sangue inglês.
Prestes a completar 51 anos,
mãe de um casal e solteira após
dois casamentos, ela afirma
que não é muito assediada. "É
porque tenho cara de mulher
má", brinca.
Sobre o escândalo no DF,
uma das "damas de ferro" evita
comentá-lo diretamente. "É
uma tristeza para todos que
gostam de Brasília. O que está
acontecendo aqui é uma coisa
que você imagina só ocorrer
nos rincões mais escondidos do
país, onde o Estado praticamente não chega."
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