São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Carlos Martins agora diz que procuradores distorceram suas declarações; Cachoeira depõe em Brasília

Dono de bingo recua e isenta Waldomiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

Em depoimento à Polícia Federal no Rio, no último dia 13, o dono de bingos Carlos Martins negou declarações feitas ao Ministério Público Federal em Brasília, e posteriormente confirmadas à própria PF, nas quais relatava suposta atuação criminosa de Waldomiro Diniz com o intuito de "subir os percentuais pagos a título de propina" pelos empresários do jogo fluminense no período em que presidiu a Loterj.
Diante do delegado da PF Herbert Mesquita, Martins "asseverou que nunca mencionou nenhum fato ilícito a respeito do recebimento de propina por parte de Waldomiro Diniz, nunca tendo usado o termo "propina", nunca tendo participado ou assistido a tais supostos atos".
Martins chamou de "inverídicas" muitas das afirmações registradas no depoimento que prestou, em 7 de fevereiro, ao subprocurador-geral José Roberto Santoro e aos procuradores Marcelo Serra Azul e Mário Lúcio de Avelar. Disse que "se sentiu pressionado a prestar o depoimento" e que, depois de ouvido, Serra Azul teria "mexido no texto" das declarações colhidas enquanto ele "foi tomar um café com Santoro".
"É muito estranho que ele venha a negar agora tudo que disse", disse Mesquita, que preside o inquérito instaurado em fevereiro por conta da fita de vídeo na qual Waldomiro foi flagrado, em 2002, quando presidia a Loterj, negociando propina e doações eleitorais com o empresário Carlos Cachoeira: "Perguntamos por que, então, ele tinha assinado [declarações "inverídicas']. Ele respondeu que assinou sem ler. Não sabemos até que ponto isso é uma estratégia de defesa. Precisamos analisar tudo com muito cuidado", disse.
Santoro disse que não poderia se pronunciar por se tratar de um caso conduzido pelo Ministério Público Federal no Rio. Segundo Serra Azul, "o depoimento transcorreu na maior normalidade. Ele [Martins] foi convocado e avisado de que, se não comparecesse, seria intimado coercivamente nos termos da lei. Quanto a não ter lido, a praxe é o depoente ler e confirmar suas declarações". Segundo Avelar, "não houve nenhuma pressão. O depoimento foi colhido na forma da lei. Qualquer dita além disso é diversionismo".
Comentando ontem os desmentidos, Martins disse: "Não mudei nada. Só coloquei algumas coisas nos seus devidos lugares".

Carlos Cachoeira
Ontem, o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, confirmou que vai participar de acareação com Waldomiro Diniz na CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
Cachoeira foi ouvido pela PF em Brasília em sindicância sobre a conduta do delegado Giácomo Santoro, que, em 12 de fevereiro, participou de reunião com Cachoeira e José Roberto Santoro. Cachoeira confirmou que o delegado participou do encontro, mas não chegaram a conversar. Ele negou ter sido o autor da gravação da conversa com Santoro. "Ele não gravou a fita", disse o advogado Raimundo Hermes Barbosa.
Já Waldomiro Diniz depôs ontem ao Ministério Público do Rio, no qual negou a existência de fraude no pagamento de publicidade da Loterj, afirmando que, para isso, "toda a contabilidade teria que ser alterada". A Promotoria investiga supostos desvios no pagamento de outdoors durante sua gestão. (ANDRÉA MICHAEL, FERNANDO RODRIGUES, FABIANA CIMIERI e VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)

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