CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um mês, quando souberam que iriam cantar na abertura da 18ª Bienal Internacional do Livro, da qual o mais ilustre convidado era o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as 80 meninas das unidades Mooca e Parada de Taipas da Febem redobraram o capricho.
O grupo, formado por adolescentes entre 15 e 20 anos, preparou duas novas canções: "Como É Grande o Meu Amor por Você", imortalizada na voz de Roberto Carlos, e "Esperando na Janela", de Gilberto Gil.
Anteontem, véspera da apresentação, a notícia: o show havia sido cancelado. "Coisas do cerimonial da Presidência", mandou explicar o secretário estadual da Educação, Gabriel Chalita. "Coisas da segurança da Presidência", contou às meninas Ângela Visconti, uma das coordenadoras do projeto Guri. "Nessa hora, tem de falar a verdade", disse, "porque é isso que ensinamos a elas, além do respeito ao próximo".
A história do cancelamento, como a Folha informou na coluna Painel da edição de ontem, começou com um comunicado atribuído ao comandante Odair, responsável pela segurança da Presidência, à Câmara Brasileira do Livro.
Na noite de anteontem, a Secretaria de Imprensa do Planalto afirmou que Lula, ao saber do caso, determinou a imediata reversão da ordem de sua segurança. Segundo Chalita, a assessoria da Presidência chegou a se comprometer a ceder dois ônibus para transportar as adolescentes.
Ontem, por problemas na comunicação, os ônibus foram às unidades, mas foram dispensados. Somente às 9h novo transporte foi enviado. Quando as adolescentes chegaram, o presidente e sua comitiva já haviam saído.
O fato gerou um mal-estar entre todos e provocou críticas de Chalita à assessoria da Presidência. "É muito frustrante. Acho que é um preconceito muito ruim, que não poderia haver da parte da assessoria da Presidência."
O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência afirmou que a apresentação do coral da Febem foi contra-indicada porque pressupunha o acompanhamento por escolta armada.
As normas de segurança não admitem a presença de pessoas portando armas de fogo -com exceção da segurança presidencial- em evento do qual participe o presidente da República.
Mesmo sem a presença de Lula, as meninas se apresentaram. Camisa branca bem passada, calça e colete pretos e gravata borboleta vermelha compunham a vestimenta, própria para ocasiões especiais. No final, como brinde, cada uma ganhou um livro. E aguardam outra oportunidade para cantar "Como É Grande o Meu Amor por Você" ou "Esperando na Janela" para o presidente.

Esteira
Em seu discurso na abertura da Bienal, Lula disse que "a leitura, para a criança, é o mesmo que uma esteira para as pessoas da nossa idade".
"Muita gente (...) pensa: amanhã vou levantar e vou começar a andar. Mas todo dia se levanta com uma preguiça "desgramada" e vai ficando para o dia seguinte", afirmou Lula.
Para o presidente, "não adianta o livro estar na prateleira (...). É preciso que nós tenhamos políticas para garantir que essa criança (...) adquira o prazer, o gosto e a fome de leitura".


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