|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO SANTO ANDRÉ
Irmãos do prefeito, morto em 2002, apontam lacunas na apuração da polícia e dizem que acusado corre risco
Família de Daniel vê falhas em inquérito
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os irmãos do prefeito de Santo
André (SP) Celso Daniel, assassinado em 2002 e que hoje completaria 53 anos de idade, divulgaram
ontem relatório próprio no qual
apontam supostas lacunas na investigação da Polícia Civil que
sustentou a tese de crime comum.
O oftalmologista João Francisco
Daniel, 57, e o professor de economia Bruno José Daniel Filho, 51,
elaboraram as críticas após terem
tido acesso à íntegra do processo
que apurou o crime. O sigilo da
ação foi suspenso por ordem judicial no início de abril.
Os irmãos avaliam que corre
risco de morte o acusado de ser o
mandante do assassinato, o empresário Sérgio Gomes da Silva,
preso em local não informado pelo governo estadual. "Nós tememos pela vida do Sérgio. Porque
ele pode fazer revelações importantes sobre tudo o que aconteceu", disse Bruno. "Pela sua própria atuação em Santo André,
Sérgio é um arquivo vivo importante", afirmou João Francisco.
Para Francisco, o caso Waldomiro Diniz (ex-assessor da Casa
Civil sob investigação de corrupção) "corrobora" suas denúncias,
feitas em 2002, de suposto caixa
dois no PT para financiamento de
campanhas eleitorais. "Se não tiver dinheiro, você não se elege, essa é a realidade aqui no Brasil."
Algumas das principais críticas
da família à investigação policial
se referem à pouca apuração sobre o assassinato em si, ocorrido
no dia 20 de janeiro de 2002 numa
estrada de terra em Juquitiba (a 78
km de São Paulo).
Segundo João Francisco e Bruno José, a polícia não comparou
dados da cena do crime, como a
localização dos cartuchos deflagrados, achados no chão, as marcas dos tiros nas roupas recolhidas para exames e o laudo de necropsia com o depoimento do
menor L.S.N., então com 17 anos,
suposto autor dos oito disparos.
Saber se L. falou a verdade é importante, para a família, porque
há suspeitas de que Celso Daniel
tenha sido morto em outro local e
só horas depois seu corpo foi jogado na estrada. Se comprovado,
isso abalaria a versão de todos os
presos da quadrilha da favela
Pantanal -a de que L. matou
Celso Daniel de forma banal, porque entendeu erradamente a ordem para liberá-lo com vida.
Os irmãos questionaram o sumiço das radiografias feitas no
corpo pelo IML (Instituto Médico
Legal), que poderiam confirmar a
hipótese de tortura, já referida em
parecer do Ministério Público.
Ofício do IML diz que o médico
responsável pelos exames "informa que desconhece o paradeiro
da radiografia da vítima".
Os irmãos atacaram suposta falta de investigações sobre marcas
achadas no corpo do prefeito.
Disseram não ter dúvida de que
ele foi torturado. O laudo do IML
confirma a tortura, mas apenas
indiretamente. Celso Daniel teria
sofrido "tortura" porque sua agonia durou "minutos", recebeu vários tiros, tinha "expressão de terror" na face e dois pontos do corpo chamuscados pelo contato
com canos aquecidos de armas.
Os irmãos disseram ter recebido
informação, de fonte não revelada, de que houve, uma semana
antes do crime, uma discussão
entre Celso Daniel, Sérgio Gomes
e o então secretário municipal
Klinger Luiz de Oliveira. Klinger,
em entrevista ontem, negou a reunião e a discussão.
Texto Anterior: Presidente frustra meninas da Febem Próximo Texto: Outro lado: Secretaria diz que apuração foi acompanhada Índice
|