São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Irmãos do prefeito, morto em 2002, apontam lacunas na apuração da polícia e dizem que acusado corre risco

Família de Daniel vê falhas em inquérito

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os irmãos do prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, assassinado em 2002 e que hoje completaria 53 anos de idade, divulgaram ontem relatório próprio no qual apontam supostas lacunas na investigação da Polícia Civil que sustentou a tese de crime comum.
O oftalmologista João Francisco Daniel, 57, e o professor de economia Bruno José Daniel Filho, 51, elaboraram as críticas após terem tido acesso à íntegra do processo que apurou o crime. O sigilo da ação foi suspenso por ordem judicial no início de abril.
Os irmãos avaliam que corre risco de morte o acusado de ser o mandante do assassinato, o empresário Sérgio Gomes da Silva, preso em local não informado pelo governo estadual. "Nós tememos pela vida do Sérgio. Porque ele pode fazer revelações importantes sobre tudo o que aconteceu", disse Bruno. "Pela sua própria atuação em Santo André, Sérgio é um arquivo vivo importante", afirmou João Francisco.
Para Francisco, o caso Waldomiro Diniz (ex-assessor da Casa Civil sob investigação de corrupção) "corrobora" suas denúncias, feitas em 2002, de suposto caixa dois no PT para financiamento de campanhas eleitorais. "Se não tiver dinheiro, você não se elege, essa é a realidade aqui no Brasil."
Algumas das principais críticas da família à investigação policial se referem à pouca apuração sobre o assassinato em si, ocorrido no dia 20 de janeiro de 2002 numa estrada de terra em Juquitiba (a 78 km de São Paulo).
Segundo João Francisco e Bruno José, a polícia não comparou dados da cena do crime, como a localização dos cartuchos deflagrados, achados no chão, as marcas dos tiros nas roupas recolhidas para exames e o laudo de necropsia com o depoimento do menor L.S.N., então com 17 anos, suposto autor dos oito disparos.
Saber se L. falou a verdade é importante, para a família, porque há suspeitas de que Celso Daniel tenha sido morto em outro local e só horas depois seu corpo foi jogado na estrada. Se comprovado, isso abalaria a versão de todos os presos da quadrilha da favela Pantanal -a de que L. matou Celso Daniel de forma banal, porque entendeu erradamente a ordem para liberá-lo com vida.
Os irmãos questionaram o sumiço das radiografias feitas no corpo pelo IML (Instituto Médico Legal), que poderiam confirmar a hipótese de tortura, já referida em parecer do Ministério Público. Ofício do IML diz que o médico responsável pelos exames "informa que desconhece o paradeiro da radiografia da vítima".
Os irmãos atacaram suposta falta de investigações sobre marcas achadas no corpo do prefeito. Disseram não ter dúvida de que ele foi torturado. O laudo do IML confirma a tortura, mas apenas indiretamente. Celso Daniel teria sofrido "tortura" porque sua agonia durou "minutos", recebeu vários tiros, tinha "expressão de terror" na face e dois pontos do corpo chamuscados pelo contato com canos aquecidos de armas.
Os irmãos disseram ter recebido informação, de fonte não revelada, de que houve, uma semana antes do crime, uma discussão entre Celso Daniel, Sérgio Gomes e o então secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira. Klinger, em entrevista ontem, negou a reunião e a discussão.


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