São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006

PT paga dívida ao criar cargos, diz professor

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT, ao acelerar a criação de cargos públicos federais e investir contra a terceirização, está pagando uma dívida com uma de suas tradicionais bases de apoio, o funcionalismo: "O PT tem uma ligação forte com o funcionalismo público e está respondendo a isso", diz Adriano Biava, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. "Mas é inegável que está se aproveitando de uma tendência universal de reduzir o papel que as terceirizações tiveram nos anos 90", diz Biava.
Os anos FHC (1995-2002) marcaram o auge da terceirização. Foi quando as metas de superávit primário passaram a integrar o cotidiano econômico de um país ávido por inspirar confiança externa. Para cortar custos, a ordem era terceirizar. "A terceirização era uma panacéia nos anos 90. No serviço público, houve um exagero", diz Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília.
Não há dados precisos sobre o quanto FHC terceirizou. Estimativas do governo dão conta de 30 mil cargos, pouco menos de 5% da máquina. "Ao longo de quase 15 anos, do governo Collor ao FHC, ocorreu na administração federal uma redução do número dos funcionários. Nem reposição de quadros havia", diz Piscitelli.
Segundo Biava, Lula está aceitando um custo financeiro maior no curto prazo, mas apostando em um ganho ao longo do tempo: "A terceirização proporcionou alguma economia, mas no longo prazo debilitou muito o Estado".
A criação de mais de 37 mil cargos é tecnicamente correta? Para Raul Velloso, especialista em contas públicas, o modo como a máquina cresce está equivocado: "Essas contratações se concentraram no nível intermediário, não tão necessário para a máquina. Há muita gente sobrando com essa qualificação em muitos órgãos, que poderiam ser remanejados". Tais funcionários (secretárias, telefonistas etc.) ganham mais no setor público que no privado.
Mesmo com a maioria dos cargos sendo concursados, houve aumento expressivo nos de livre provimento: 2.268 ou 11,3% a mais do que Lula encontrou. "Quando os tucanos saíram, havia 19 mil cargos de confiança. Lula, em vez de reduzi-los, aumentou, o que transforma o serviço público em uma ação entre amigos", diz Piscitelli. (FZ)

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