|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÍDIA
Evento, que reunirá de 35 a 40 profissionais, discutirá a
situação da imprensa na América Latina e a credibilidade dos jornais
Organização de ombudsmans fará conferência em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Reúne-se em São Paulo, entre 7
e 10 de maio, a 26ª Conferência
Anual da ONO (Organização de
Ombudsmans de Notícias, na sigla em inglês). Será a primeira vez
que a entidade, criada em 1980,
organiza seu encontro fora da Europa ou da América do Norte.
Com o apoio da Folha e tendo
como organizador o ombudsman
do jornal, Marcelo Beraba, o
evento deve atrair de 35 a 40 ombudsmans de 14 países.
O encontro, na Federação do
Comércio do Estado de São Paulo, será fechado ao público. Mas
entre os dias 10 e 11 o jornal também estará promovendo, em São
Paulo, o Forum Folha de Jornalismo, gratuito e aberto a pessoas
que se inscrevam com antecedência (leia texto abaixo).
Já confirmaram suas presenças
à conferência da ONO representantes de países como Estados
Unidos, Holanda, Canadá, Turquia e África do Sul, entre outros.
Os últimos encontros foram realizados em Londres, Saint Petersburg (EUA), Istambul, Salt Lake
City (EUA), Paris e Montreal.
A Folha possui um ombudsman desde outubro de 1989. A palavra ombudsman, de origem
sueca, é bem mais antiga e designava em 1807 um funcionário nomeado na Suécia para canalizar
queixas de cidadãos contra o governo. Na mídia, o primeiro ombudsman surgiu em 1967, em um
jornal de Louisville, Estado norte-americano de Kentucky. Há hoje
cerca de uma centena de ombudsmans em jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão.
"O encontro anual de ombudsmans é um momento de reflexão
maior sobre a qualidade do trabalho jornalístico e para a troca de
experiências", diz Beraba.
A conferência de São Paulo,
prossegue, "terá três eixos de trabalho: uma apresentação, para os
ombudsmans dos outros continentes, da situação da imprensa
na América Latina sob o ponto de
vista da transparência; a discussão sobre temas que questionaram a atuação da imprensa nos
últimos meses, como as charges
de Maomé publicadas inicialmente na Dinamarca, a cobertura
negligente da situação das populações que vivem nas periferias
das grandes cidades e a cobertura
internacional; e o enfrentamento
de um tema de fundo, a credibilidade dos jornais".
Beraba diz haver "uma pressão
bem-vinda da sociedade por
maior qualidade de informação,
por maior equilíbrio nas coberturas, por maior diversidade e pluralismo nas análises e pontos de
vista e por maior transparência
por parte da imprensa".
Ian Mayes, ombudsman do jornal britânico "The Guardian" e
atual presidente da ONO, disse à
Folha que o número crescente de
empresas da mídia que designam
ombudsmans se deve antes de
mais nada à proliferação de sites
de informação na internet, acessados por uma nova geração de
leitores que procura obter informações confiáveis.
Claro que, antes da internet, já
havia preocupação das empresas
com a precisão e o equilíbrio. Mas
a questão se coloca agora de uma
outra forma. "Ocorreu uma proliferação dos meios de informação.
Diante de um espectro mais amplo de escolha, a confiabilidade se
tornou mais importante", afirma.
Essa tendência se reforça, a seu
ver, em países com "heranças difíceis", em que há a memória da
censura e da supressão da liberdade de imprensa. Com a lembrança
desse passado, "há entre os leitores, ouvintes ou telespectadores a
tendência de dar maior crédito a
meios de informação que exerçam sobre si mesmos algum mecanismo de autocontrole".
"Os ombudsmans fornecem a
única forma de auto-regulação
que constrói uma relação de confiança entre a empresa jornalística
e seu público", afirma.
Mayes reconhece ser estranho
que países com antiga tradição de
liberdade de informação não recorram ao papel desse mediador.
São os casos europeus, por exemplo, da Itália e da Alemanha.
"Mas eles têm demonstrado um
interesse crescente por aquilo que
estamos fazendo", afirma. No caso da conferência de São Paulo,
sua missão será a de fazer com
que na América Latina a discussão sobre o ombudsman leve outras mídias a adotar o modelo.
Ainda com relação à mídia latino-americana, o presidente da
ONO diz que um dos tópicos mais
importantes da conferência será o
estudo a ser apresentado por Germán Rey, ex-ombudsman do "El
Tiempo", de Bogotá, com um balanço da percepção de confiabilidade das mídias no continente e
do papel dos ombudsmans na
construção de uma imprensa
mais livre.
Ian Mayes, leitor de Machado
de Assis, citou um trecho de "Memórias Póstumas de Brás Cubas"
que reflete, a seu ver, a busca pela
precisão: "Cada estação da vida é
uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também,
até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes".
Texto Anterior: Eleições 2006: PT paga dívida ao criar cargos, diz professor Próximo Texto: Fórum Folha de Jornalismo terá quatro debates abertos ao público Índice
|