São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Garotinho afirma que, na véspera de sua cassação, o ex-ministro da Casa Civil declarou ter agido sob as ordens do presidente

"Dirceu disse ter sido o lado mau de Lula"

DA SUCURSAL DO RIO

Descontente por José Dirceu aparecer de novo em articulações no PMDB, Anthony Garotinho afirma que foi procurado pelo ex-ministro da Casa Civil na véspera de sua cassação na Câmara, com o pedido para que a bancada evangélica votasse para absolvê-lo.
Diz ter ouvido do ex-ministro: "Todo político tem alguém que faz o lado mau. Estou pagando agora por ter feito o lado mau para Lula. Tudo o que fiz foi por ordem do Lula", teria dito Dirceu. (PLÍNIO FRAGA e SERGIO COSTA)
 

Folha - Conte um exemplo do que teria no seu livro se fosse escrever sobre o governo do PT.
Garotinho -
Recebi a informação, vinda do Tesouro Nacional, de que os recursos do Rio seriam bloqueados na posse da governadora Rosinha, porque a Benedita havia deixado de pagar cinco meses do serviço da dívida do Estado com a União. Como eu havia acabado de apoiar Lula, liguei para José Dirceu. Perguntei qual seria a posição da União em relação aos Estados que estavam atrasados com o serviço da dívida. Ele disse que ainda não tinham posição, nem ele nem Palocci nem Lula. E era mentira. Bloquearam R$ 87 milhões. Reclamei, e ele disse que devia ter sido coisa de burocrata.
Na semana seguinte, me dizem que vão bloquear mais de R$ 100 milhões. Liguei de novo. Ele disse: fica tranqüilo, não vão bloquear. Não deu outra: bloquearam. Vamos à Justiça contra a União e conseguimos uma liminar. Aí ele me liga: "Isso é um absurdo. O Lula está revoltado. Vocês estão jogando o Rio contra o presidente". Respondi: "Ou o sr. estava mentindo sobre os bloqueios ou estava sendo enganado. Acredito mais na primeira hipótese".
Agora vou contar o fim do meu livro. Na semana que antecedeu sua cassação, um amigo pediu que eu recebesse o Dirceu. Quando falei com a Rosinha, ela disse: "Aqui em casa, não". Recebi no palácio, mas na parte social. Ele vem e me diz que sabe que eu tenho 26 votos da bancada evangélica. "Tenho procurado a todos e eles dizem que vão votar segundo sua orientação. São votos decisivos para mim." Eu disse que não. Ele falou que eu devia ter muita mágoa dele: "Mas saiba que tudo o que eu fiz, tudo, fiz porque o Lula mandou. Você acha que ia mandar bloquear o dinheiro do Rio e o Palocci iria obedecer? Todo político tem alguém que faz o lado mau. Estou pagando agora por ter feito o lado mau". Eu disse: "José Dirceu, por que não convoca uma coletiva e fala isso? Como posso pedir que meu grupo político vote em você depois de tudo que você fez contra a gente. Quero te dizer mais: vou comemorar sua cassação. Porque se eu te ajudar e você sair dessa, a primeira coisa que você vai fazer é colocar um punhal em minhas costas. Porque é da sua natureza". Ele ficou vermelho, levantou e foi embora.

Folha - Por que José Sarney, Renan Calheiros e Orestes Quércia acham que o sr. não é confiável?
Garotinho -
Para pessoas que defendem a manutenção do modelo econômico, eu não sou confiável: quero a mudança. Acha que um homem do status quo, como Sarney (os governos mudam e Sarney fica), vai querer mudança? Sarney quer a continuidade.

Folha - Quantos candidatos a governador do PMDB o apóiam?
Garotinho -
Não faço essa conta, porque não é o que vai decidir. É a conta da convenção. O PMDB tem cerca de 450 delegados para 728 votos. RS, PR, SP, RJ, MG e GO definem a convenção. Antes da entrada do Itamar, eu acredito que tinha 420 votos dos 728 votos.

Folha - O sr. tem três vezes mais votos entre os eleitores de menor escolaridade que entre os mais escolarizados. Por que o sr. não é confiável aos mais bem informados?
Garotinho -
Há muita incompreensão. Acham que sou populista, assistencialista. Não sabem que tenho projetos de reformas estruturais. Fiz o restaurante a R$ 1, que Alckmin copiou. Mas ampliei de 40 mil para 400 mil os estudantes de escolas técnicas.

Folha - Segurança é um ponto fraco para o sr.?
Garotinho -
Não. Apresentei um plano de segurança nacional ao FHC e ao Lula que não foi executado. A violência é um problema nacional, que no Rio pode ser mais grave. Mas é preciso uma ação federal para coibi-la.

Folha - Seus filhos andam com segurança, em carros blindados?
Garotinho -
Eles não, eu sim.

Folha - Por quê?
Garotinho -
Pelas coisas que eu defendo e digo. Tenho mais medo de crime político que de assalto.


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