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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Garotinho afirma que, na véspera de sua cassação, o ex-ministro da Casa Civil declarou ter agido sob as ordens do presidente
"Dirceu disse ter sido o lado mau de Lula"
DA SUCURSAL DO RIO
Descontente por José Dirceu
aparecer de novo em articulações
no PMDB, Anthony Garotinho
afirma que foi procurado pelo ex-ministro da Casa Civil na véspera
de sua cassação na Câmara, com o
pedido para que a bancada evangélica votasse para absolvê-lo.
Diz ter ouvido do ex-ministro:
"Todo político tem alguém que
faz o lado mau. Estou pagando
agora por ter feito o lado mau para Lula. Tudo o que fiz foi por ordem do Lula", teria dito Dirceu.
(PLÍNIO FRAGA e SERGIO COSTA)
Folha - Conte um exemplo do que
teria no seu livro se fosse escrever
sobre o governo do PT.
Garotinho - Recebi a informação, vinda do Tesouro Nacional,
de que os recursos do Rio seriam
bloqueados na posse da governadora Rosinha, porque a Benedita
havia deixado de pagar cinco meses do serviço da dívida do Estado
com a União. Como eu havia acabado de apoiar Lula, liguei para
José Dirceu. Perguntei qual seria a
posição da União em relação aos
Estados que estavam atrasados
com o serviço da dívida. Ele disse
que ainda não tinham posição,
nem ele nem Palocci nem Lula. E
era mentira. Bloquearam R$ 87
milhões. Reclamei, e ele disse que
devia ter sido coisa de burocrata.
Na semana seguinte, me dizem
que vão bloquear mais de R$ 100
milhões. Liguei de novo. Ele disse:
fica tranqüilo, não vão bloquear.
Não deu outra: bloquearam. Vamos à Justiça contra a União e
conseguimos uma liminar. Aí ele
me liga: "Isso é um absurdo. O
Lula está revoltado. Vocês estão
jogando o Rio contra o presidente". Respondi: "Ou o sr. estava
mentindo sobre os bloqueios ou
estava sendo enganado. Acredito
mais na primeira hipótese".
Agora vou contar o fim do meu
livro. Na semana que antecedeu
sua cassação, um amigo pediu
que eu recebesse o Dirceu. Quando falei com a Rosinha, ela disse:
"Aqui em casa, não". Recebi no
palácio, mas na parte social. Ele
vem e me diz que sabe que eu tenho 26 votos da bancada evangélica. "Tenho procurado a todos e
eles dizem que vão votar segundo
sua orientação. São votos decisivos para mim." Eu disse que não.
Ele falou que eu devia ter muita
mágoa dele: "Mas saiba que tudo
o que eu fiz, tudo, fiz porque o Lula mandou. Você acha que ia
mandar bloquear o dinheiro do
Rio e o Palocci iria obedecer? Todo político tem alguém que faz o
lado mau. Estou pagando agora
por ter feito o lado mau". Eu disse:
"José Dirceu, por que não convoca uma coletiva e fala isso? Como
posso pedir que meu grupo político vote em você depois de tudo
que você fez contra a gente. Quero
te dizer mais: vou comemorar sua
cassação. Porque se eu te ajudar e
você sair dessa, a primeira coisa
que você vai fazer é colocar um
punhal em minhas costas. Porque
é da sua natureza". Ele ficou vermelho, levantou e foi embora.
Folha - Por que José Sarney, Renan Calheiros e Orestes Quércia
acham que o sr. não é confiável?
Garotinho - Para pessoas que defendem a manutenção do modelo
econômico, eu não sou confiável:
quero a mudança. Acha que um
homem do status quo, como Sarney (os governos mudam e Sarney fica), vai querer mudança?
Sarney quer a continuidade.
Folha - Quantos candidatos a governador do PMDB o apóiam?
Garotinho - Não faço essa conta,
porque não é o que vai decidir. É a
conta da convenção. O PMDB
tem cerca de 450 delegados para
728 votos. RS, PR, SP, RJ, MG e
GO definem a convenção. Antes
da entrada do Itamar, eu acredito
que tinha 420 votos dos 728 votos.
Folha - O sr. tem três vezes mais
votos entre os eleitores de menor
escolaridade que entre os mais escolarizados. Por que o sr. não é confiável aos mais bem informados?
Garotinho - Há muita incompreensão. Acham que sou populista, assistencialista. Não sabem
que tenho projetos de reformas
estruturais. Fiz o restaurante a R$
1, que Alckmin copiou. Mas ampliei de 40 mil para 400 mil os estudantes de escolas técnicas.
Folha - Segurança é um ponto
fraco para o sr.?
Garotinho - Não. Apresentei um
plano de segurança nacional ao
FHC e ao Lula que não foi executado. A violência é um problema
nacional, que no Rio pode ser
mais grave. Mas é preciso uma
ação federal para coibi-la.
Folha - Seus filhos andam com segurança, em carros blindados?
Garotinho - Eles não, eu sim.
Folha - Por quê?
Garotinho - Pelas coisas que eu
defendo e digo. Tenho mais medo
de crime político que de assalto.
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