São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Pré-candidato à Presidência afirma que partido "resistirá a uma candidatura patrocinada por José Dirceu, chefe do mensalão"

PMDB não pode servir ao PT, diz Garotinho

PLÍNIO FRAGA
SERGIO COSTA

DA SUCURSAL DO RIO

Surpreendido pelo lançamento do nome de Itamar Franco à Presidência, Anthony Garotinho, 45, diz, em entrevista à Folha, que o PMDB não pode servir aos interesses do PT e afirma que seu partido resistirá a uma candidatura "patrocinada por José Dirceu, o chefe do mensalão".
"Se é verdadeira a tese da candidatura Itamar servir aos interesses do PT, o PMDB certamente terá clareza para isso e não deixará ser usado. Resistirá", declara.
Elogia Alckmin, mas diz que negociação só no segundo turno e descarta participação em um eventual governo tucano. Critica a "polarização entre iguais de PT e PSDB". "É uma polarização falsa. Só pode haver polarização entre posições contrárias. O Brasil conseguiu uma coisa inédita: a polarização entre iguais. Ambos defendem a mesma coisa e brigam pelo mesmo espaço."
À Folha Garotinho mostrou um mapa do Brasil, pendurado em parede do escritório no Palácio Laranjeiras, com mais de mil cidades de norte a sul do país com um alfinete fincado em seus nomes. São cidades tão díspares quanto Santarém (PA) e Conceição de Macabu (RJ). "De cada uma delas, recebi manifestação -carta, telefonema, e-mail- provando que tenho ao menos um ouvinte", afirma sobre seu programa de rádio, transmitido em mais de 400 emissoras, a maioria evangélicas.


Folha - O que diferencia a sua pré-candidatura da de Itamar Franco no PMDB?
Garotinho -
Disputei uma prévia. Percorri o Brasil inteiro, em contato com vereadores, prefeitos e deputados. Foi um momento de entusiasmo do partido. Não sei se uma candidatura colocada numa convenção vai criar o mesmo entusiasmo de uma candidatura que vem das bases.

Folha - Quem apóia Itamar?
Garotinho -
Publicamente, identifico o ex-governador Orestes Quércia. Aparentemente, ele é o articulador. Abre-se a oportunidade para aqueles que defendem a tese da candidatura própria, mas não querem meu nome, lutarem na convenção contra o grupo governistas que quer manter o partido ou aliado ao PT ou sem candidato para facilitar seus interesses regionais.

Folha - Quantas correntes há no PMDB agora? São duas disfarçadas ou três (não candidatura, candidatura de Itamar ou de Garotinho)?
Garotinho -
Uma análise difícil de ser feita. Vamos esperar para ver quais forças se colocarão ao lado do Itamar. O que tem dado muita força à minha candidatura é a posição contra o modelo econômico, a política de juros, contra a maneira tucana e petista de ver o país. Isso tem entusiasmado pessoas até então afastadas do partido. Vamos ver como elas vão reagir à entrada de Itamar Franco no processo. Eu disse desde o início que não tenho interesse pessoal nessa disputa e provei. Se tivesse, Rosinha teria renunciado ao governo do Estado do Rio, seria candidata ao Senado, e as pesquisas indicam que venceria com facilidade, e eu seria candidato a deputado federal, com uma votação expressiva. Abri mão. Porque me coloquei única e exclusivamente na posição de candidato à Presidência. Não é interesse pessoal.
Meu maior interesse é ver o PMDB como instrumento de uma nova visão para o país. É difícil fazer com que todo o partido tenha essa visão, mas precisamos fazer com que ele majoritariamente saiba da necessidade de quebrar a polarização entre PT e PSDB que se estabeleceu no Brasil. É uma polarização falsa. Só pode haver polarização entre posições contrárias. O Brasil conseguiu algo inédito: polarização entre iguais. Defendem a mesma coisa e brigam pelo mesmo espaço. Há outro espaço, o que estou buscando: nacionalista, desenvolvimentista, que se opõe à ditadura do sistema financeiro, à entrega do Brasil. Esse espaço está vazio.

Folha - Como o sr. viu a reunião entre Itamar Franco e José Dirceu, antes do encontro com o sr., que tomou o triplo do tempo?
Garotinho -
Itamar deixou claro que não conversou sobre política. Disse que recebeu Dirceu como amigo pessoal. Não posso comentar uma reunião privada. Amigo cada um escolhe quem quer.

Folha - Itamar é o candidato do Dirceu?
Garotinho -
Não acredito que ele se preste a esse papel. Mas, se é verdadeira a tese da candidatura de Itamar servir aos interesses do PT, o PMDB certamente terá clareza sobre isso e não se deixará ser usado. Resistirá. Desde dezembro de 2004 estamos numa luta contra as manobras do PT no PMDB. É uma corrida de obstáculos. Há um grupo resistente no PMDB. Se for verdadeira a tese de que o patrocinador da candidatura Itamar é Dirceu, o chefe do mensalão, o PMDB não vai aceitar isso.

Folha - O sr tem conversado com o Alckmin. Há chance de aliança?
Garotinho -
Ele é boa gente, mas essa conversa é para ter no segundo turno.

Folha - O sr. poderia participar de um governo do Alckmin?
Garotinho -
De jeito nenhum. Não quis participar no do Lula.

Folha - E o FHC poderia participar de um governo do sr.?
Garotinho -
De jeito nenhum.

Folha - Na semana passado, o ex-presidente FHC o elogiou.
Garotinho -
Uma coisa é o relacionamento pessoal e outra a avaliação política. Eu e Fernando Henrique sempre tivemos bom relacionamento pessoal. No trato das coisas institucionais, ele sempre foi correto com o governo do Rio, apesar das críticas duras que sempre fiz ao modelo econômico implantado por ele, Malan, esse grupo do PMDB. Com o PT, com quem no passado mantive estreitos laços ideológicos, o relacionamento, desde que Lula chegou ao poder, foi marcado por sucessivas traições. Dirceu ameaçou escrever um livro. Desistiu. Quando contar o que aconteceu no governo do PT, farei um livro melhor.


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