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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Pré-candidato à Presidência afirma que partido "resistirá a uma candidatura patrocinada por José Dirceu, chefe do mensalão"
PMDB não pode servir ao PT, diz Garotinho
PLÍNIO FRAGA
SERGIO COSTA
DA SUCURSAL DO RIO
Surpreendido pelo lançamento
do nome de Itamar Franco à Presidência, Anthony Garotinho, 45,
diz, em entrevista à Folha, que o
PMDB não pode servir aos interesses do PT e afirma que seu partido resistirá a uma candidatura
"patrocinada por José Dirceu, o
chefe do mensalão".
"Se é verdadeira a tese da candidatura Itamar servir aos interesses do PT, o PMDB certamente terá clareza para isso e não deixará
ser usado. Resistirá", declara.
Elogia Alckmin, mas diz que negociação só no segundo turno e
descarta participação em um
eventual governo tucano. Critica
a "polarização entre iguais de PT e
PSDB". "É uma polarização falsa.
Só pode haver polarização entre
posições contrárias. O Brasil conseguiu uma coisa inédita: a polarização entre iguais. Ambos defendem a mesma coisa e brigam pelo
mesmo espaço."
À Folha Garotinho mostrou um
mapa do Brasil, pendurado em
parede do escritório no Palácio
Laranjeiras, com mais de mil cidades de norte a sul do país com
um alfinete fincado em seus nomes. São cidades tão díspares
quanto Santarém (PA) e Conceição de Macabu (RJ). "De cada
uma delas, recebi manifestação
-carta, telefonema, e-mail-
provando que tenho ao menos
um ouvinte", afirma sobre seu
programa de rádio, transmitido
em mais de 400 emissoras, a
maioria evangélicas.
Folha - O que diferencia a sua
pré-candidatura da de Itamar Franco no PMDB?
Garotinho - Disputei uma prévia. Percorri o Brasil inteiro, em
contato com vereadores, prefeitos
e deputados. Foi um momento de
entusiasmo do partido. Não sei se
uma candidatura colocada numa
convenção vai criar o mesmo entusiasmo de uma candidatura que
vem das bases.
Folha - Quem apóia Itamar?
Garotinho - Publicamente, identifico o ex-governador Orestes
Quércia. Aparentemente, ele é o
articulador. Abre-se a oportunidade para aqueles que defendem
a tese da candidatura própria,
mas não querem meu nome, lutarem na convenção contra o grupo
governistas que quer manter o
partido ou aliado ao PT ou sem
candidato para facilitar seus interesses regionais.
Folha - Quantas correntes há no
PMDB agora? São duas disfarçadas
ou três (não candidatura, candidatura de Itamar ou de Garotinho)?
Garotinho - Uma análise difícil
de ser feita. Vamos esperar para
ver quais forças se colocarão ao
lado do Itamar. O que tem dado
muita força à minha candidatura
é a posição contra o modelo econômico, a política de juros, contra
a maneira tucana e petista de ver o
país. Isso tem entusiasmado pessoas até então afastadas do partido. Vamos ver como elas vão reagir à entrada de Itamar Franco no
processo. Eu disse desde o início
que não tenho interesse pessoal
nessa disputa e provei. Se tivesse,
Rosinha teria renunciado ao governo do Estado do Rio, seria candidata ao Senado, e as pesquisas
indicam que venceria com facilidade, e eu seria candidato a deputado federal, com uma votação
expressiva. Abri mão. Porque me
coloquei única e exclusivamente
na posição de candidato à Presidência. Não é interesse pessoal.
Meu maior interesse é ver o
PMDB como instrumento de
uma nova visão para o país. É difícil fazer com que todo o partido
tenha essa visão, mas precisamos
fazer com que ele majoritariamente saiba da necessidade de
quebrar a polarização entre PT e
PSDB que se estabeleceu no Brasil. É uma polarização falsa. Só pode haver polarização entre posições contrárias. O Brasil conseguiu algo inédito: polarização entre iguais. Defendem a mesma
coisa e brigam pelo mesmo espaço. Há outro espaço, o que estou
buscando: nacionalista, desenvolvimentista, que se opõe à ditadura
do sistema financeiro, à entrega
do Brasil. Esse espaço está vazio.
Folha - Como o sr. viu a reunião
entre Itamar Franco e José Dirceu,
antes do encontro com o sr., que tomou o triplo do tempo?
Garotinho - Itamar deixou claro
que não conversou sobre política.
Disse que recebeu Dirceu como
amigo pessoal. Não posso comentar uma reunião privada. Amigo
cada um escolhe quem quer.
Folha - Itamar é o candidato do
Dirceu?
Garotinho - Não acredito que ele
se preste a esse papel. Mas, se é
verdadeira a tese da candidatura
de Itamar servir aos interesses do
PT, o PMDB certamente terá clareza sobre isso e não se deixará ser
usado. Resistirá. Desde dezembro
de 2004 estamos numa luta contra
as manobras do PT no PMDB. É
uma corrida de obstáculos. Há
um grupo resistente no PMDB. Se
for verdadeira a tese de que o patrocinador da candidatura Itamar
é Dirceu, o chefe do mensalão, o
PMDB não vai aceitar isso.
Folha - O sr tem conversado com
o Alckmin. Há chance de aliança?
Garotinho - Ele é boa gente, mas
essa conversa é para ter no segundo turno.
Folha - O sr. poderia participar de
um governo do Alckmin?
Garotinho - De jeito nenhum.
Não quis participar no do Lula.
Folha - E o FHC poderia participar
de um governo do sr.?
Garotinho - De jeito nenhum.
Folha - Na semana passado, o ex-presidente FHC o elogiou.
Garotinho - Uma coisa é o relacionamento pessoal e outra a avaliação política. Eu e Fernando
Henrique sempre tivemos bom
relacionamento pessoal. No trato
das coisas institucionais, ele sempre foi correto com o governo do
Rio, apesar das críticas duras que
sempre fiz ao modelo econômico
implantado por ele, Malan, esse
grupo do PMDB. Com o PT, com
quem no passado mantive estreitos laços ideológicos, o relacionamento, desde que Lula chegou ao
poder, foi marcado por sucessivas
traições. Dirceu ameaçou escrever um livro. Desistiu. Quando
contar o que aconteceu no governo do PT, farei um livro melhor.
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