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Assentados não
querem saber de
novos conflitos
DOS ENVIADOS A ELDORADO DO CARAJÁS
Dez anos atrás, então com
43 anos, Andrelina Souza de
Araújo apareceu na capa de
jornais e revistas de todo o
mundo como o símbolo das
viúvas do massacre de Eldorado do Carajás. Com o filho
Róbson de três anos no colo,
ela chorava desesperada ao
lado do caixão do marido,
João Rodrigues de Araújo.
"Hoje eu vejo como foi difícil cuidar sozinha desses
sete filhos. Eu ganhei um pedaço de terra, mas não tenho
meu marido ao meu lado. Eu
acho que não foi feita Justiça", afirma Andrelina, 53.
Hoje, além de uma pensão
do governo do Estado, é beneficiária do Bolsa-Família.
"Eu nunca mais vou pra
estrada [para marchas]. Depois daquele dia, não quero
mais saber disso. Lembro
daquela correria, o tiroteio, a
camisa de meu marido jogada no chão da rodovia. Hoje
tenho minha casa, minha
terra e não preciso trabalhar
pra fazendeiro nenhum", diz
a agricultora. Seus filhos vão
na mesma linha: "Não quero
nem saber disso. Eu quero
trabalhar só com a caneta",
diz Róbson, 13, que cursa a
5ª série. "Eu quero ser advogada", afirma Aucilene, 14.
Após o massacre, a maioria dos sem-terra se refugiou
no acampamento Formosa,
no município vizinho de Curionópolis. Lá um grupo de
crianças organizou um cordão de isolamento na entrada da fazenda para proteger
seus pais de uma invasão de
PMs. Entre elas estava Francisco Souza dos Santos, então com 9 anos. De calção,
ele pedia Justiça e reforma
agrária ao lado de colegas
com facões e bandeiras.
Hoje com 19 anos, Francisco se lembra com exatidão
do conflito com os policiais
militares na PA-150. "Eu estava com meu pai, meu irmão e meu avô. Mas na hora
do tiroteio, quando vi uma
caminhonete de policiais se
aproximando, saí correndo
pro meio do mato. Junto comigo passava um monte de
gente rasgada de bala. Só encontrei o meu pai no dia seguinte, no acampamento."
Ele não quer mais saber de
conflitos: "Eu sou um cara
tranqüilo, sossegado, só
penso em ir tocando a minha vida por aqui". Ele vive
com a mulher numa casa no
assentamento 17 de Abril.
Rondinele Nero Lima, que
na época ajudava a mãe a lavar as roupas da família num
igarapé, hoje está assentada
no 17 de Abril. Na época do
massacre, então com 10
anos, Rondinele vivia com a
família no acampamento
Formosa, em Curionópolis:
"Meu pai e meu irmão estavam lá [no conflito], mas
não aconteceu nada com
eles". Hoje, aos 20 anos, está
casada e tem quatro filhos.
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