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TERRA SEM LEI
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, apenas 7% dos casos
chegaram a julgamento entre 1985 e 2004; no período houve 1.399 assassinatos
Para Igreja, 93% dos crimes
no campo não são julgados
DO ENVIADO A ELDORADO DO CARAJÁS
Pelo número de mortes e pela
ampla repercussão tanto no Brasil
quanto no exterior, o massacre de
Eldorado do Carajás, que completa dez anos em 2006, tornou-se
um símbolo de impunidade. Esse
caso, porém, é apenas mais um
exemplo do que ocorre sistematicamente no país.
Segundo dados da Igreja Católica, apenas 7% dos crimes ocorridos no campo entre 1985 e 2004
foram a julgamento.
Nesse período, ocorreram 1.043
crimes motivados por conflitos
fundiários, com um saldo de 1.399
assassinatos -a maioria deles de
trabalhadores rurais. De acordo
com um levantamento da CPT
(Comissão Pastoral da Terra),
apenas 77 desses casos foram julgados até hoje.
"O que temos, principalmente
no Pará, é a constatação de que a
impunidade tem sido a regra. A
área de segurança pública no Pará
tem uma ligação muito próxima
com setores ligados ao latifúndio.
Por isso, nunca teve interesse de
investigar e muitas vezes atua só
por pressão", afirma José Batista
Afonso, da coordenação nacional
da CPT no Pará.
Segundo ele, a atuação do Poder
Judiciário fica ainda mais prejudicada pela falta de investigação da
polícia. "Um levantamento que fizemos mostrou que apenas 28%
dos assassinatos no campo no Pará tiveram algum tipo de investigação policial", afirma Batista
Afonso.
O estudo da CPT, braço agrário
da Igreja Católica, mostra também que, nesses 77 julgamentos,
15 pessoas apontadas como mandantes foram condenadas, enquanto outras seis foram absolvidas. O balanço mostra ainda 65
executores que receberam condenação pela Justiça e outros 45 que
receberam absolvição.
Eldorado dos Carajás
No caso de Eldorado do Carajás,
por exemplo, dos 155 policiais militares que participaram da ação,
apenas dois deles (coronel Mário
Pantoja e major José Maria de Oliveira) foram condenados. Por decisão do STF (Supremo Tribunal
Federal), porém, ambos permanecem em liberdade.
"Toda a montagem do processo
[de Eldorado dos Carajás] e as
idas e vindas nos tribunais demonstraram nesse caso como o
Poder Judiciário e o Estado brasileiro estão permeados pelo poder
e pelas influências do latifúndio,
que usa a Polícia Militar como
mera defensora de seus interesses
econômicos. São os capitães-do-mato modernos, no caso do Pará", declara João Pedro Stedile, da
coordenação nacional do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra).
De acordo com o líder dos trabalhadores sem-terra, a lei no
Brasil foi feita para proteger os ricos e condenar os pobres. "A impunidade dos policiais e dos verdadeiros mandantes do caso de
Eldorado dos Carajás é assombrosa e comprova mais uma vez
que, no Brasil, a lei protege os ricos. Apenas os pobres, pretos e
sem-terra vão pra cadeia."
(Eduardo Scolese)
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