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Ex-diretor é reindicado para ANS após falhas
Auditoria da agência aponta problemas graves de procedimentos na diretoria de fiscalização na gestão de Eduardo Marcelo Salles
Segundo relatório, aumento de multas aplicadas sobre operadoras de planos de saúde não se refletiu em elevação da arrecadação
ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de uma auditoria interna da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) ter
apontado falhas graves de procedimentos na diretoria de fiscalização, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva propôs a
indicação de Eduardo Marcelo
Salles novamente para o cargo.
Apadrinhado do presidente
regional do PT do Rio, deputado federal Luiz Sérgio, Salles foi
diretor de fiscalização da agência de julho de 2006 a julho de
2009 -quando terminou seu
mandato e ele, na ocasião, não
foi indicado para a recondução.
Desde o fim do mandato, Salles está lotado como assessor
da presidência da Ancine
(Agência Nacional do Cinema)
-também sob gestão petista.
O nome de Salles passaria na
semana passada por sabatina
no Senado, mas ela foi transferida para esta semana.
A Folha teve acesso ao relatório da auditoria feita pela
ANS. Concluído em 9 de abril, o
documento analisou o andamento de processos até agosto
de 2009 e mostra que o crescimento do total de multas aplicadas sobre as operadoras de
planos de saúde não se refletiu
no aumento da arrecadação da
agência com as autuações.
Em 2008, para R$ 251 milhões em multas aplicadas, foram arrecadados R$ 5,5 milhões -2,2% do valor das autuações. Em 2009 (até agosto),
a proporção foi de R$ 285,8 milhões em multas para R$ 5,58
milhões convertidos aos cofres
da ANS -ou 2% do total.
De janeiro de 2005 a agosto
de 2009, a ANS aplicou 7.820
multas, que somaram
R$ 698,568 milhões. Apenas
R$ 14,583 milhões foram arrecadados e R$ 89,13 milhões estavam em cobrança.
Multadas, as operadoras têm
direito a um primeiro recurso à
diretoria colegiada da ANS. Se
não for aceito, elas podem ir à
Justiça e tentar mandado de
segurança para impedir a inscrição do débito na dívida ativa.
Segundo a auditoria, não há
registro contábil das multas
aplicadas, somente das recolhidas. Tampouco consta a identificação dos devedores na escrituração da dívida ativa da ANS.
O relatório aponta ainda que
o ex-diretor diminuiu a "fiscalização preventiva" sobre as
grandes operadoras em favor
de acordos para "reparação voluntária" de queixas de usuários. Ou seja, a diretoria privilegiou firmar termos de ajuste de
conduta com as operadoras e
livrá-las de autuações.
Na gestão de Salles, diz o relatório, a ANS esvaziou o programa "Olho Vivo", de fiscalização periódica das operadoras
com mais de 200 associados.
Em 2002, 196 operadoras
(que concentravam 41% do
mercado) foram fiscalizadas
pelo programa. Em 2006, foram fiscalizadas 40 operadoras. Em 2007-2008, o total
chegou a 20 em cada ano. Em
2009, caiu mais: só 12 empresas sofreram fiscalização.
Multas prescritas
Outra falha apontada é o
grande número de multas que
prescrevem por causa da demora na tramitação dos processos administrativos -de
quatro anos, em média. Se as
empresas recorrem da punição,
a tramitação do recurso leva
outros quatro anos, em média.
Na gerência-geral de fiscalização regulatória, 404 processos prescreveram e 461 tinham
endereço da operadora autuada errado e tendiam à prescrição, segundo o relatório.
Dos 2.296 processos que chegaram à gerência, 2.240 foram
arquivados. Isso, segundo a auditoria, se deve à política de
acordos -chamada de "Reparação Voluntária e Eficaz", em
que o processo é arquivado com
pagamento de parte da multa.
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