São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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CRISE NA BASE

Em reunião, deputados foram contidos para não agredir militante

Ciro diz que deixa governo se PPS decidir sair da base

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As duas alas do PPS mediram forças ontem em encontro nacional da sigla que, por pouco, não resultou em agressões físicas.
Líder do grupo governista, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) disse estar constrangido com as atitudes oposicionistas do PPS e que segue o partido caso haja uma decisão, desde que majoritária, de abandono da base aliada do governo. "Se for uma decisão da bancada, do seio do partido, eu cumpro. O que eu não vou engolir são pacotes prontos."
No final de sua fala, Ciro reconheceu ter perdido a camaradagem em relação ao presidente da legenda e líder da ala oposicionista, deputado Roberto Freire (PE).
Realizado num hotel de Brasília, o encontro foi fechado à imprensa, mas a porta de vidro entreaberta possibilitou o acompanhamento de trechos das discussões.
"Pela primeira vez desde Jango [João Goulart, presidente entre 1961 e 1964], este país tem um governo de esquerda ao qual nós, lucidamente, decidimos apoiar. O partido pode e deve manter sua autonomia, mas não pode desconhecer as conseqüências práticas de ser base de apoio, ter cargos, ter um ministro", afirmou Ciro.
"Nós da direção nacional temos que ser econômicos em nossas decisões", acrescentou o ministro, que disse estar constrangido, principalmente, com as inserções televisivas do PPS, claramente oposicionistas, e com o programa nacional que vai ao ar amanhã.
Ciro reclamou que o teor do programa, cujo foco será o desemprego e as supostas mazelas decorrentes do atual modelo econômico, não foi debatido com todas as correntes da legenda. Nesse momento, o ministro discutiu asperamente com o secretário-geral do partido, Rubens Bueno, que estava sentado ao lado de Freire.
Outro momento tenso ocorreu quando o membro da Executiva Nacional Luiz Carlos Azedo citou as suspeitas de que o ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz -que deixou o governo após a divulgação de vídeo de 2002 em que pede propina a empresário de jogos- teria atuado, antes do caso, pela eleição do líder do PPS na Câmara, Júlio Delgado (MG).
Deputados presentes ao encontro partiram para cima do militante e tiveram que ser contidos.
Freire e a cúpula do partido defendem uma linha de oposição ao governo Lula. Eles convocaram a reunião para tentar enquadrar Delgado, que atua em harmonia com o Planalto. A posição de Freire, reafirmada ontem, levou-o a se afastar de Ciro, com quem articulou a frente que apoiou em 2002 a candidatura do hoje ministro.
No final da reunião, foi aprovada nota que representa um meio-termo entre as duas correntes. De um lado, frisou-se que a liderança do PPS no Congresso não poderá orientar seus comandados em desacordo com determinação da direção do partido. Em compensação, essas determinações serão discutidas com os congressistas. (RANIER BRAGON)

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