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ELIO GASPARI
Um governo paralisado pela fofoca
Palácio sem intrigas não é
coisa deste mundo, mas Lula inovou: preside o primeiro governo da intriga, pela intriga,
para a intriga.
Parece exagero, mas essa afirmação pode ser testada. Basta
que qualquer interessado procure responder à seguinte pergunta
-qual a política pública que
aproxima (ou distancia) os seguintes personagens:
- José Dirceu, chefe do Gabinete Civil.
- Luiz Gushiken, chefe do aparelho de propaganda.
- José Genoino, presidente do
PT.
- João Paulo Cunha, presidente
da Câmara.
- Aloizio Mercadante, líder do
governo no Senado.
Desde a posse de Lula, esses
cinco mandarins já passaram
por toda sorte de combinações,
aliando-se ou tentando destruir-se. Nenhuma política pública os
separa nem os une. Nem um poste da avenida Atlântica, uma escola no sertão cearense. Nada, é
a intriga pela intriga. José Dirceu
quer ficar mais forte? Para quê?
Para ficar mais forte. O deputado João Paulo Cunha quer ficar
mais dois anos na presidência da
Câmara. Para quê? Para ficar
mais dois anos na presidência da
Câmara.
O chefe da Coordenação Política do governo, Aldo Rebelo, viu-se no meio de uma crise depois
de articular a vitória da aprovação do salário mínimo na Câmara dos Deputados. Coisa assim: depois da derrota de Napoleão em Waterloo, uma facção
do partido conservador inglês
pediu que o duque de Wellington fosse mandado para a ilha
de Santa Helena. Conhecem-se
casos de cobrança do fracasso,
esse foi o primeiro de cobrança
do sucesso. Logo com Rebelo, um
político tão cuidadoso e educado
que dá a impressão de ser capaz
de adormecer durante seus próprios discursos.
A opção preferencial do comando petista pela fofoca tem
suas raízes nos conciliábulos da
política sindical e/ou das agremiações estudantis, onde as brigas não têm custo. O sindicalista
sempre pode responsabilizar os
patrões pelos seus fracassos, e os
estudantes podem acusar o imperialismo agonizante. No governo as coisas têm custo, e o de
Lula está paralisado pela intrigalhada. A falta de recursos é
pretexto, bode. Se alguém suprimir do noticiário dos jornais as
notícias relacionadas com as intrigas (inclusive este artigo), sobra o quê? Aumento da gasolina,
desemprego e palavrório.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e sua ekipekonômica
apresentam-se como campeões
de prestígio a juros de 16% e contração do Produto Interno Bruto
com pífias promessas de crescimento insuficiente. O que o Brasil precisa é de juros de 10% e
crescimento de 6%. Se o preço
desses indicadores fosse um ministro da Fazenda desprestigiado, tudo bem. Afinal, o prestígio
da ekipekonômica tucana rendeu-lhe bons empregos na banca, enquanto a choldra ficou
com o desemprego.
Os patrocinadores da intrigalhada em que se transformou o
governo de Lula deveriam ser
mais humildes e refletir quão ridículos são os papéis que desempenham. Intrigava-se na corte
de Napoleão quando ele era um
prisioneiro em Santa Helena
com a mesma voracidade com
que se fofocava quando o imperador reinava nas Tulherias. Isso
sucede, entre outras coisas, porque fazer intriga é um grande
passatempo, melhor que palavras cruzadas.
Se para cada intriga em que os
grão-petistas se metem eles forem capazes de enunciar uma
política pública que os separa ou
os aproxima, o governo de Lula
mudará de cara. Para que isso
aconteça, o companheiro precisa
se lembrar dos versos de Vinicius
de Moraes e Carlos Lyra:
"Vou pedir ao meu babalorixá
Pra fazer uma oração pra
Xangô
Pra pôr pra trabalhar,
Gente que nunca trabalhou".
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