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CASO TRT
Ex-juiz, hoje foragido e acusado de desviar verba, foi homenageado por colegas na véspera da aposentadoria, em 98
Obra superfaturada leva nome de Nicolau
DA REPORTAGEM LOCAL
O Fórum Trabalhista de São
Paulo, a obra superfaturada mais
famosa do país, é apenas um esqueleto de concreto, mas já tem
nome. Chama-se "Fórum Juiz Nicolau dos Santos Neto".
O ex-juiz, que está foragido e é
acusado de ter participado do
desvio de R$ 169 milhões, foi homenageado pelos colegas um dia
antes de se aposentar compulsoriamente aos 70 anos de idade.
É o que mostra a ata do dia 14 de
julho de 1998, obtida pela Folha.
Em uma sessão administrativa, 26
juízes do TRT (Tribunal Regional
do Trabalho) de São Paulo se reuniram para a despedida de Nicolau, presidente da comissão de
obras do prédio inacabado.
Os magistrados que participaram dessa homenagem faziam
parte do órgão especial do tribunal, que é responsável por decisões administrativas. Em 1998, o
Ministério Público Federal em
São Paulo já investigava os indícios de superfaturamento e irregularidades da licitação.
Mas a ata mostra que os juízes
do TRT-SP agiram como se desconhecessem a existência de irregularidades na obra. "Não há dúvida de que os homens têm três
coisas que podem fazer: uma é escrever um livro, a outra é plantar
uma árvore e a terceira é fazer um
prédio, é edificar", disse o então
juiz Gilberto Alain Baldacci.
Ele foi o autor da proposta de
batizar o novo prédio do TRT-SP
com o nome de Nicolau. A sugestão foi aprovada por unanimidade. "Ele (Nicolau) é o símbolo da
edificação", elogiou Baldacci.
Apesar de aposentado, Nicolau
ainda ficou responsável pela obra
até setembro de 1998.
A ata registra que até mesmo o
atual presidente do TRT-SP, juiz
Floriano Vaz da Silva, "associou-se às homenagens e enalteceu as
qualidades do juiz Nicolau". Vaz
da Silva foi o responsável pela saída de Nicolau da comissão de
obras em 1998, quando assumiu a
presidência do tribunal.
No ano seguinte, Vaz da Silva
transferiu a responsabilidade pela
conclusão do fórum à União.
Outro lado
A maioria dos juízes presentes
na sessão administrativa do dia 14
de julho de 98 disse que não prestaria a mesma homenagem hoje
ao ex-juiz Nicolau dos Santos Neto. Para justificar o voto favorável
à proposta de dar ao novo prédio
do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo o nome de Nicolau, os juízes afirmaram que desconheciam na época as irregularidades tornadas públicas pela CPI
do Judiciário.
"O clima era de comemoração
porque o novo prédio estava sendo construído. Nicolau estava indo embora. Ninguém teve coragem e nem era conveniente ser a
voz dissonante", afirmou o presidente do TRT, Floriano da Silva.
"Eu não tinha conhecimento do
problema. Propus a homenagem
porque achava e continuo achando que a obra é necessária. Hoje,
eu não faria uma homenagem para uma pessoa que não mereceu a
confiança do cargo que tinha",
afirmou o juiz aposentado Gilberto Alain Baldacci.
(SANDRA BRASIL e JULIA DUAILIBI)
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