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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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NA EUROPA

Presidente afirma que desafio dos partidos de esquerda é encontrar o caminho para retomar desenvolvimento

Sem crescimento, direita vencerá, diz Lula

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou de seus novos amigos, os governantes da "Terceira Via", agora rebatizada de "Governança Progressista", que dêem prioridade às políticas de desenvolvimento, sob pena de "a direita ganhar" (as próximas eleições nos países cujos líderes se reuniram domingo e segunda-feira em Surrey, nas imediações de Londres).
Durante o almoço de anteontem no paradisíaco hotel Pennyhill, o presidente brasileiro disse que estava preocupado porque a maior parte da conversa no período da manhã havia sido sobre o ajuste das economias, mas ninguém falara de desenvolvimento.

Desenvolvimento
Lula emendou: "O grande desafio para a esquerda, moderada ou radical, é qual o caminho para retomar o desenvolvimento. Se não tivermos esse caminho, a direita ganha". Ouviram o presidente do Brasil 14 governantes, entre eles líderes da social-democracia européia, como o alemão Gerhard Schröeder, o anfitrião britânico Tony Blair, e o sueco Goran Person, além dos sul-americanos Néstor Kirchner (Argentina) e Ricardo Lagos (Chile).
Lagos, aliás, levantou-se da mesa, após a fala do brasileiro, para cumprimentá-lo. Kirchner preferiu ao cumprimento uma fala mais ou menos na mesma direção. Lamentou o fato de ter encontrado o seu país "desfeito" e que tudo que estava podendo fazer era tentar reconstruí-lo.
Em seguida, criticou os que fazem reparos à medidas heterodoxas que vem tomando ou anunciando (como o controle dos capitais de curto prazo). "Esses mesmos críticos aplaudiram o que faziam aqueles que desmontaram a Argentina", afirmou.

Seguridade
A queixa do presidente Lula tem razão de ser, pelo que a Folha conseguiu apurar: todo o debate matutino da cúpula foi tomado pela discussão das reformas, em especial a da seguridade social, tema que está na agenda de quase todos os países.
Na delegação brasileira, aliás, o comentário é o de que, em vista do que outros países estão propondo, caso em especial da Alemanha de Schröeder, a reforma do PT é realmente "de esquerda", por ser, na visão dos petistas, bem menos agressiva para com os trabalhadores.
A explicação ouvida na cúpula é a de que terminou o período de prosperidade, "os 30 anos gloriosos", como um dos líderes afirmou, em alusão aos anos de ouro da Europa, no pós-guerra ou mais exatamente a partir de 1950.
O presidente brasileiro falou, como tem sido constante, das dificuldades econômicas que encontrou e do protecionismo dos países ricos.
Só no almoço, que fechou os trabalhos da cúpula, é que o presidente brasileiro tocou no tema do desenvolvimento.


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