São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELAÇÕES PERIGOSAS

Ex-segurança do presidente, superintendente da Polícia Federal em SP é suspeito de operar com doleiro

Chefe da PF afilhado de Lula é investigado

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal em Brasília abriu procedimento para investigar o seu superintendente em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, como suposto cliente do doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona.
Baltazar nega. Disse à Folha que "é tudo inverdade". Ele foi escolhido para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi chefe de segurança nas quatro campanhas ao Planalto disputadas pelo petista.
O juiz da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Hélio Egydio de Matos Nogueira, enviou à corregedoria cópia do relatório da inteligência do órgão que cita o nome de Baltazar.
O doleiro, considerado pelo Ministério Público Federal um dos maiores de São Paulo, foi denunciado no ano passado pelos procuradores da República por suposto envolvimento com lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Chegou a ser preso, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) lhe concedeu um habeas corpus no final de 2003.
De acordo com "O Estado de S. Paulo" de ontem, a perícia da PF atribuiu a Baltazar a movimentação de US$ 134,6 mil na casa de câmbio de Claramunt e remessas de dinheiro para o exterior.
A Folha apurou que o relatório lista pelo menos dez servidores públicos identificados como clientes de Claramunt a partir de 1999. Os nomes estavam gravados em código nos arquivos da empresa. Em nota, a PF confirmou o envolvimento também de magistrados. Segundo o laudo, um dos registros indicava a palavra "BALTA", em letras maiúsculas, seguida da identificação "delegado" e o número de um telefone celular, que coincidiria com o utilizado pelo policial federal.
O relatório da PF também aponta os nomes de um juiz federal e de um procurador da República investigados pela Operação Anaconda, desencadeada em outubro passado para averiguar suposto esquema de venda de sentença na Justiça Federal paulista.
Por isso, o juiz Nogueira também enviou uma cópia do relatório para a desembargadora Terezinha Cazerta, que relata os processos gerados pela Anaconda, e para o Grupo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público Federal paulista.

Em fogo brando
A casa de câmbio, no centro de São Paulo, tinha autorização do Banco Central para comprar e vender moedas estrangeiras como atividade secundária -originalmente, foi aberta para ser apenas uma "agência de turismo".
Claramunt já é alvo de investigações federais desde, pelo menos, o ano 2000. O relatório final da CPI do Narcotráfico apontou que o doleiro recebeu de fora do país US$ 29,7 milhões entre 1995 e 1997 e remeteu US$ 1,34 milhão no mesmo período.
Em março de 2003, o Ministério Público denunciou, após apreensões de documentos e computadores nas empresas de Claramunt, cinco delegados e quatro agentes da PF suspeitos de envolvimento com Barcelona. Os procuradores requisitaram que a PF realizasse a perícia no material apreendido. O resultado da perícia saiu no início desta semana e trouxe à tona o nome de Baltazar.
O delegado perdeu o apoio político do Planalto e sua saída do cargo é dada como praticamente certa. A Folha apurou que o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) disse ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, que ele tinha liberdade para decidir o futuro de Baltazar.
Inconformado com a perda do apoio político de Lula, Baltazar destituiu sete de seus subordinados que ocupavam cargos de confiança. Hoje ele empossa os substitutos, escolhidos em comum acordo com Lacerda e com aval do setor de inteligência da PF.
Ontem, Lacerda analisava o momento certo para a retirada de Baltazar. Não é de seu interesse abrir uma crise no órgão, especialmente em uma das superintendências mais importantes do país. A cúpula da PF considera que se deve dar a Baltazar "corda para se enforcar", no jargão policial. Ou seja, manter a situação como está, até que a pressão seja o bastante para que ele peça exoneração, a ser aceita prontamente.


Texto Anterior: Nordeste: Projeto do São Francisco será menor que previsto
Próximo Texto: Outro lado: Superintendente diz que acusação é "inverdade"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.