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RELAÇÕES PERIGOSAS
Ex-segurança do presidente, superintendente da Polícia Federal em SP é suspeito de operar com doleiro
Chefe da PF afilhado de Lula é investigado
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal em Brasília
abriu procedimento para investigar o seu superintendente em São
Paulo, Francisco Baltazar da Silva,
como suposto cliente do doleiro
Antônio Oliveira Claramunt, o
Toninho da Barcelona.
Baltazar nega. Disse à Folha que
"é tudo inverdade".
Ele foi escolhido para o cargo pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi chefe de segurança nas quatro campanhas ao Planalto disputadas pelo petista.
O juiz da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Hélio Egydio de
Matos Nogueira, enviou à corregedoria cópia do relatório da inteligência do órgão que cita o nome
de Baltazar.
O doleiro, considerado pelo Ministério Público Federal um dos
maiores de São Paulo, foi denunciado no ano passado pelos procuradores da República por suposto envolvimento com lavagem
de dinheiro e formação de quadrilha. Chegou a ser preso, mas o
STF (Supremo Tribunal Federal)
lhe concedeu um habeas corpus
no final de 2003.
De acordo com "O Estado de S.
Paulo" de ontem, a perícia da PF
atribuiu a Baltazar a movimentação de US$ 134,6 mil na casa de
câmbio de Claramunt e remessas
de dinheiro para o exterior.
A Folha apurou que o relatório
lista pelo menos dez servidores
públicos identificados como
clientes de Claramunt a partir de
1999. Os nomes estavam gravados
em código nos arquivos da empresa. Em nota, a PF confirmou o
envolvimento também de magistrados. Segundo o laudo, um dos
registros indicava a palavra "BALTA", em letras maiúsculas, seguida da identificação "delegado" e o
número de um telefone celular,
que coincidiria com o utilizado
pelo policial federal.
O relatório da PF também
aponta os nomes de um juiz federal e de um procurador da República investigados pela Operação
Anaconda, desencadeada em outubro passado para averiguar suposto esquema de venda de sentença na Justiça Federal paulista.
Por isso, o juiz Nogueira também enviou uma cópia do relatório para a desembargadora Terezinha Cazerta, que relata os processos gerados pela Anaconda, e
para o Grupo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público Federal paulista.
Em fogo brando
A casa de câmbio, no centro de
São Paulo, tinha autorização do
Banco Central para comprar e
vender moedas estrangeiras como atividade secundária -originalmente, foi aberta para ser apenas uma "agência de turismo".
Claramunt já é alvo de investigações federais desde, pelo menos, o ano 2000. O relatório final
da CPI do Narcotráfico apontou
que o doleiro recebeu de fora do
país US$ 29,7 milhões entre 1995 e
1997 e remeteu US$ 1,34 milhão
no mesmo período.
Em março de 2003, o Ministério
Público denunciou, após apreensões de documentos e computadores nas empresas de Claramunt, cinco delegados e quatro
agentes da PF suspeitos de envolvimento com Barcelona. Os procuradores requisitaram que a PF
realizasse a perícia no material
apreendido. O resultado da perícia saiu no início desta semana e
trouxe à tona o nome de Baltazar.
O delegado perdeu o apoio político do Planalto e sua saída do cargo é dada como praticamente certa. A Folha apurou que o ministro
Márcio Thomaz Bastos (Justiça)
disse ao diretor-geral da PF, Paulo
Lacerda, que ele tinha liberdade
para decidir o futuro de Baltazar.
Inconformado com a perda do
apoio político de Lula, Baltazar
destituiu sete de seus subordinados que ocupavam cargos de confiança. Hoje ele empossa os substitutos, escolhidos em comum
acordo com Lacerda e com aval
do setor de inteligência da PF.
Ontem, Lacerda analisava o
momento certo para a retirada de
Baltazar. Não é de seu interesse
abrir uma crise no órgão, especialmente em uma das superintendências mais importantes do
país. A cúpula da PF considera
que se deve dar a Baltazar "corda
para se enforcar", no jargão policial. Ou seja, manter a situação
como está, até que a pressão seja o
bastante para que ele peça exoneração, a ser aceita prontamente.
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