São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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PERFIL

Baltazar cuidou da segurança do candidato do PT

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O fato mais marcante da carreira profissional de Francisco Baltazar da Silva, 52, antes de ter sido nomeado no ano passado superintendente da PF em São Paulo, ocorreu em 1989.
Naquele ano, marcado pelas primeiras eleições diretas para presidente desde a vitória de Jânio Quadros em 1960, Baltazar foi escolhido para coordenar a equipe de segurança do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Por lei, os candidatos à Presidência têm direito a segurança fornecida pela Polícia Federal. Baltazar costuma usar isso como um dado biográfico positivo. Para seus adversários, apenas provaria seu descrédito com a chefia imediata na época, porque em São Paulo a PF considerava mais importantes, no começo da campanha, nomes como os de Mário Covas (PSDB) e Leonel Brizola (PDT).
Em depoimento à Polícia Federal em janeiro último, o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, preso sob acusação de vender sentenças judiciais, ironizou o fato, mencionando uma conversa que teria tido com um delegado: "Comentou ainda [o delegado] que o doutor Baltazar havia sido escolhido para a segurança do então candidato Lula desde 1989 por exclusão, ou seja, os melhores delegados faziam a segurança de outros candidatos".
De lá para cá, Baltazar exerceu ainda a chefia da Divisão de Repressão a Entorpecentes na PF paulista, tida como a vanguarda da PF nos métodos de investigação. Chegou a 2002 sem ver perspectivas de crescimento profissional e tinha como objetivo próximo a aposentadoria.
Foi convencido pelos colegas a permanecer na ativa, apostando na eleição de Lula, cuja segurança coordenou pela quarta vez naquele ano. Quando o petista assumiu o Planalto, fez uma determinação expressa para que a PF aproveitasse Baltazar em São Paulo. Quando foi questionado pela Folha em 2003 sobre sua amizade com Lula, disse que era "seu fã".
Desde o final do ano passado, pelo menos três operações da PF de Brasília colocaram em dúvida o desempenho e a lisura de delegados nomeados na gestão de Baltazar. Um deles, o delegado José Augusto Bellini, que cuidava do setor de passaportes na PF paulistana, está preso desde outubro.
Internamente, Baltazar é tido como um policial sem perfil vinculado à investigação. É casado e tem dois filhos. (ID e RV)


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