|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Repasses a empreiteiras dobram sob Lula
De 2004 a 2006, despesas da União com obras saltaram de R$ 2,4 bi para R$ 4,7 bi; setor está entre os que mais recebem do Tesouro
Novas construturas herdam principais contratos federais e desbancam as tradicionais;
crise política em 2005 levou governo a aumentar gastos
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na esteira da política de expansão dos investimentos públicos, os pagamentos do governo federal a empreiteiras praticamente dobraram em dois
anos e ajudaram a consolidar
um núcleo de empresas emergentes do setor.
As despesas do Executivo
com obras saltaram de R$ 2,4
bilhões, em 2004, para R$ 4,7
bilhões no ano eleitoral de
2006, e a multiplicação das verbas levou as construtoras, pela
primeira vez no governo Luiz
Inácio Lula da Silva, para o topo
da lista das empresas privadas
que mais recebem do Tesouro
Nacional.
Levantamento feito pela Folha aponta que empreiteiras
mais tradicionais perderam lugares na fila dos contratos com
a União. Odebrecht, Andrade
Gutierrez e Camargo Corrêa,
por exemplo, estão atrás da hoje notória Gautama, que ocupa
a 46ª colocação no ranking das
empreiteiras mais bem pagas.
Outras empresas menos conhecidas, boa parte delas criadas ou reformuladas dos anos
90 para cá, deixaram de ter seus
ganhos medidos em centenas
de milhares e passaram, rapidamente, às dezenas de milhões de reais, de acordo com o
levantamento -que inclui tanto despesas do Orçamento
anual quanto gastos remanescentes de anos anteriores.
O novo mercado se abriu
quando, a partir da segunda
metade do primeiro mandato
de Lula, a combinação de calmaria econômica com crise política levou o governo a ampliar
os gastos orçamentários.
Juntou-se a vontade de comer com a fome: enquanto a
área econômica recomendava a
ampliação dos investimentos
em infra-estrutura, a coordenação política precisava atender às demandas da base aliada
ao Palácio do Planalto, abalada
com o escândalo do mensalão.
Após um início tímido, a expansão das obras foi consumada no ano passado, quando Lula
se reelegeu, e consagrada como
principal diretriz do segundo
mandato com o lançamento do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento).
A líder
Foi ao longo desses acontecimentos que a semidesconhecida SPA, de Belo Horizonte, se
tornou a líder do ranking das
empresas privadas que mais recebem recursos do governo federal, posto ocupado pela Embraer no ano anterior e pela
Embratel em 2004.
Especializada no setor ferroviário, a empreiteira começou
sua escalada quando, por meio
de uma medida provisória editada há dois anos, a conclusão
da ferrovia Norte-Sul foi incluída no programa de investimentos prioritários do governo.
Em 2005, os pagamentos à
SPA somaram R$ 150,3 milhões, quase o triplo dos
R$ 53,9 milhões do ano anterior. Em 2006, o valor saltou
para R$ 249,3 milhões.
Neste ano, uma medida provisória elevou a verba para o
trecho da Norte-Sul entre Palmas e Aguiarnópolis (TO), tocado pela empreiteira, de R$ 5
milhões para R$ 300 milhões.
Comparada às empreiteiras
mais assíduas no noticiário político, a SPA tem um perfil discreto -é uma das poucas, entre
as mais bem pagas pelo governo federal, que não consta da
relação de doadores para as
campanhas eleitorais de 2006.
Procurada pela Folha, a empresa informou ter sido criada
em 1994, após a concordata da
Rodominas, também controlada pela família Von Bentzeen.
Outros contratos da SPA incluem o governo mineiro e a
Companhia Vale do Rio Doce.
Emergentes
Empresas emergentes ocupam posições intermediárias
no ranking das empreiteiras,
mas ostentam percentuais ainda mais impressionantes de aumento dos recursos recebidos
do Tesouro nos últimos anos.
Nomes como Bolognesi, Dobil, Oriente, Ivai, CMS, Sulcatarinense e Triunfo não faziam,
em 2004, uma soma maior que
R$ 1,7 milhão. Em 2006, essas
empresas, juntas, amealharam
R$ 212,7 milhões -e todas ultrapassaram a Gautama na fila
dos contratos com o Executivo.
A empresa de Zuleido Veras
-investigado na Operação Navalha da Polícia Federal, que
desmontou esquema de fraudes em licitações públicas-
não aproveitou tanto a onda de
verbas federais: no mesmo período, os pagamentos recebidos
cresceram de R$ 15,2 milhões
para R$ 19,9 milhões -ainda
assim, um índice nada desprezível de 30,9% de aumento.
Entre as empreiteiras mais
tradicionais, há extremos opostos. A C.R. Almeida, que praticamente não ganhou nada em
2004, chegou ao 11º lugar no
ranking do ano passado. Já a
Odebrecht passou de R$ 23,2
milhões para R$ 262 mil. A
construtora baiana, ao menos,
integrou um consórcio formado para obras de R$ 21,6 milhões na BR-163, ao lado de Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Estacon.
A mina
Embora ainda representem
uma parcela ínfima de um Orçamento de R$ 600 bilhões, as
despesas com obras são as que
mais crescem desde o afrouxamento da política fiscal. Sua expansão supera, de longe, a registrada pelo investimento total -que inclui ainda, por
exemplo, a aquisição de máquinas, veículos e imóveis.
Estatais à parte, a mina no
governo federal é o Ministério
dos Transportes, que responde
por 70% dos pagamentos às
empreiteiras, a maior parte deles por meio do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes).
O Estado que mais recebe recursos também se destaca no
mercado de empreiteiras. Das
dez mais bem pagas no ano passado, cinco têm sede em Minas
-ARG, Egesa, TCM e Barbosa
Mello, além da líder SPA.
Texto Anterior: Benefícios foram cortados, diz ministério Próximo Texto: Das 20 líderes, 17 são doadoras de campanhas Índice
|