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Para novo presidente de Conselho de Ética, ato secreto é bobagem
Aliado de Sarney, senador Paulo Duque diz que não pode haver cassação por uma "coisa pequena" como contratação de parentes
"Tem que cassar o mandato por algo grandioso, por uma coisa seriíssima", afirma o peemedebista, que só deve analisar denúncia em agosto
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Eleito ontem presidente do
Conselho de Ética do Senado, o
senador Paulo Duque (PMDB-RJ) diz que para julgar o presidente da Casa, José Sarney
(PMDB-AP), por quebra de decoro é preciso uma acusação
"seriíssima". Não é o caso, disse
ele, dos atos secretos que considera uma "grande bobagem",
algo "inventado por alguém".
Para Duque, também não é o
caso de haver julgamento por
causa da contratação de parentes. "[Sarney] prestou muitos
serviços ao país. Ficarem vasculhando a vida dele porque
nomeou um neto é bobagem."
Como presidente do conselho, ele pode arquivar sumariamente as três denúncias e a representação que pedem a cassação do mandato de Sarney.
Ele disse que só decidirá em
agosto, após o recesso. Duas delas responsabilizam Sarney,
que já presidiu o Senado outras
duas vezes, pelos atos secretos.
Duque foi indicado para o
cargo pelo líder do PMDB no
Senado, Renan Calheiros (AL),
que bateu o martelo após conversa com Sarney.
A oposição votou em branco
em protesto contra a escolha de
um suplente que não teria compromisso com a opinião pública. Duque se vangloria de ter
chegado ao Senado sem votos e
"gastando meia dúzia de reais."
Senador mais velho da Casa,
com 81 anos, ele é o segundo suplente do governador Sérgio
Cabral (PMDB-RJ).
FOLHA - Por que o senhor aceitou
ser presidente?
PAULO DUQUE - Atendi ao pedido
da minha bancada, do partido.
FOLHA - Como pode alguém que já
defendeu Sarney conduzir o processo contra ele com isenção?
DUQUE - Achei que ele foi atacado. Como ele pertence ao
meu partido e quem o atacou
era um elemento do partido,
achei que não poderia ser prejulgado. Não se pode fazer isso
com ele. Sarney teve papel fundamental na transição democrática, ajudou a evitar que o
país mergulhasse numa guerra
civil e ninguém se lembra disso.
FOLHA - O senhor acha que Sarney
deve ter tratamento diferenciado?
DUQUE - Durante o mandato
dele [na Presidência da Casa],
ele fez muitas coisas boas.
Trouxe o povo para dentro do
Senado com a TV Senado. Lá na
minha casa, no Flamengo, me
assistiram pela TV hoje. Isso
não tem preço.
FOLHA - Uma das denúncias se refere a parentes de Sarney contratados por meio de atos secretos...
DUQUE - Meu Deus, eu mesmo
empreguei mais de 5.000 pessoas nestes anos todos de vida
pública e elas estão felizes, uns
me agradecem, outros não. O
empreguismo tem que ser elevado. Eu já contratei parentes
quando podia.
FOLHA - Não é motivo para cassar?
DUQUE - Para cassar um mandato é preciso que haja algo de
extrema gravidade. Não é brincadeira você disputar e ganhar
uma eleição. Você sacrifica a família. Não pode ser uma coisa
pequena dessas, tem que cassar
o mandato por algo grandioso,
por uma coisa seriíssima.
FOLHA - Não é grave quando essas
contratações eram feitas por atos
secretos?
DUQUE - Secreto para que? Esconder de que? Não há condições de esconder, acaba sendo
descoberto. Alguém inventou
isso, é uma grande bobagem.
FOLHA - Há outras denúncias, como a de que a Fundação Sarney desviou recursos que recebeu de patrocínio da Petrobras...
DUQUE - Não conheço os processos.
FOLHA - O senhor fará tudo o que o
partido mandar?
DUQUE - Me considero um homem partidário. Durante 30
anos, 40, não saí do partido.
Mas vou agir de acordo com minha consciência.
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