São Paulo, quinta-feira, 16 de julho de 2009

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Para novo presidente de Conselho de Ética, ato secreto é bobagem

Aliado de Sarney, senador Paulo Duque diz que não pode haver cassação por uma "coisa pequena" como contratação de parentes

"Tem que cassar o mandato por algo grandioso, por uma coisa seriíssima", afirma o peemedebista, que só deve analisar denúncia em agosto


ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Eleito ontem presidente do Conselho de Ética do Senado, o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) diz que para julgar o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), por quebra de decoro é preciso uma acusação "seriíssima". Não é o caso, disse ele, dos atos secretos que considera uma "grande bobagem", algo "inventado por alguém".
Para Duque, também não é o caso de haver julgamento por causa da contratação de parentes. "[Sarney] prestou muitos serviços ao país. Ficarem vasculhando a vida dele porque nomeou um neto é bobagem." Como presidente do conselho, ele pode arquivar sumariamente as três denúncias e a representação que pedem a cassação do mandato de Sarney.
Ele disse que só decidirá em agosto, após o recesso. Duas delas responsabilizam Sarney, que já presidiu o Senado outras duas vezes, pelos atos secretos. Duque foi indicado para o cargo pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que bateu o martelo após conversa com Sarney.
A oposição votou em branco em protesto contra a escolha de um suplente que não teria compromisso com a opinião pública. Duque se vangloria de ter chegado ao Senado sem votos e "gastando meia dúzia de reais." Senador mais velho da Casa, com 81 anos, ele é o segundo suplente do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

FOLHA - Por que o senhor aceitou ser presidente?
PAULO DUQUE
- Atendi ao pedido da minha bancada, do partido.

FOLHA - Como pode alguém que já defendeu Sarney conduzir o processo contra ele com isenção?
DUQUE
- Achei que ele foi atacado. Como ele pertence ao meu partido e quem o atacou era um elemento do partido, achei que não poderia ser prejulgado. Não se pode fazer isso com ele. Sarney teve papel fundamental na transição democrática, ajudou a evitar que o país mergulhasse numa guerra civil e ninguém se lembra disso.

FOLHA - O senhor acha que Sarney deve ter tratamento diferenciado?
DUQUE
- Durante o mandato dele [na Presidência da Casa], ele fez muitas coisas boas. Trouxe o povo para dentro do Senado com a TV Senado. Lá na minha casa, no Flamengo, me assistiram pela TV hoje. Isso não tem preço.

FOLHA - Uma das denúncias se refere a parentes de Sarney contratados por meio de atos secretos...
DUQUE
- Meu Deus, eu mesmo empreguei mais de 5.000 pessoas nestes anos todos de vida pública e elas estão felizes, uns me agradecem, outros não. O empreguismo tem que ser elevado. Eu já contratei parentes quando podia.

FOLHA - Não é motivo para cassar?
DUQUE
- Para cassar um mandato é preciso que haja algo de extrema gravidade. Não é brincadeira você disputar e ganhar uma eleição. Você sacrifica a família. Não pode ser uma coisa pequena dessas, tem que cassar o mandato por algo grandioso, por uma coisa seriíssima.

FOLHA - Não é grave quando essas contratações eram feitas por atos secretos?
DUQUE
- Secreto para que? Esconder de que? Não há condições de esconder, acaba sendo descoberto. Alguém inventou isso, é uma grande bobagem.

FOLHA - Há outras denúncias, como a de que a Fundação Sarney desviou recursos que recebeu de patrocínio da Petrobras...
DUQUE
- Não conheço os processos.

FOLHA - O senhor fará tudo o que o partido mandar?
DUQUE
- Me considero um homem partidário. Durante 30 anos, 40, não saí do partido. Mas vou agir de acordo com minha consciência.


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